CAMINHOS DO CAMPO
14/04/2009
US$ 400 milhões no controle da ferrugem
Redução nos gastos pela estiagem fica aquém do esperado. Registro de casos bate recorde no estado e país
A poucos dias do fim da colheita da soja, o fungo que provoca a ferrugem asiática continua se proliferando nos Campos Gerais, região que encerra a safra 2008/09. Com o vazio sanitário e a seca que atingiu o Oeste em dezembro, o Phakopsora pachyrhizi chegou mais tarde. Porém, se espalhou numa velocidade nunca antes registrada e deve continuar custando cerca de US$ 400 milhões – ou R$ 870 milhões – por safra ao Paraná. Esses valores consideram custo de aplicação de fungicidas e perda em grão 15% menores que na safra passada.
Os números registrados pelo Consórcio Antiferrugem são surpreendentes. O recorde nacional, que era de 2.778 ocorrências (2006/07), foi ultrapassado com folga. O paranaense, referente aos 1.038 registros da safra passada – quando as despesas em aplicações de fungicidas e as perdas em grãos chegaram perto de R$ 1 bilhão no estado – deve ser superado em mais de 50%.
Os técnicos, no entanto, dizem ter certeza de que os ataques são mais fracos. Ou seja, o registro em si não significa perda, uma vez que o produtor pode interromper a ação do fungo. Eles consideram que os gastos podem inclusive cair. No entanto, o valor próximo a US$ 400 milhões, que deve ser ajustado em reuniões técnicas até junho, bate de frente com a expectativa que as medidas preventivas recentes geraram.
Oito estados já adotam 90 dias de vazio sanitário, com multas a partir de R$ 5 mil para quem plantar soja nesse período. Santa Catarina e Maranhão aderem à iniciativa a partir deste ano. As aplicações preventivas, que custam cerca de R$ 45 por hectare, se tornaram prática inevitável. No Paraná, a média é de 1,5 a 2 aplicações em cada área por safra.
Com 1,5 aplicação por área, o produtor e agrônomo Paulo Roberto de Guerra Carvalho, de Cafeara (Norte), conta que a ferrugem e outras pragas estão exigindo monitoramento constante. Ele circula pela lavoura com uma lente de aumento, para diagnosticar com mais precisão o que ocorre em cada hectare de soja.
Vigilância
Diante do crescimento da ferrugem nos últimos anos, a Fundação ABC, que atende os Campos Gerais e o Norte Pioneiro, adotou um controle extra. Nessas regiões são realizadas até três aplicações de fungicida por ano. O mapa do avanço da doença, atualizado diariamente pelo Sistema de Alerta do Consórcio Antiferrugem, se tornou insuficiente. Nessa região, três agrônomos foram contratados para percorrer as lavouras das cooperativas Batavo, Castrolanda e Capal. Eles vigiam 100 mil hectares.
Além do trabalho de campo, contam com um programa de computador que, a partir de informações como temperatura e umidade, indica as áreas de maior risco, onde são disparadas aplicações preventivas de fungicida. O modelo de previsão passou a ser apontado como referência para outras regiões.
O agrônomo Maurício José de Freitas relata que o custo desse controle extra é de aproximadamente R$ 0,50 por hectare. “É um gasto a mais, mas pelo benefício, vale a pena. Uma aplicação de herbicida custa R$ 45 por hectare. Se o produtor errar e perder de 2% a 3% da produção, por exemplo, o prejuízo será bem maior”, analisa.
A agrônoma Tatiane Dalla Nora, da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), com sede em Cascavel (Oeste), afirma que, para o produtor que ainda não conta com modelos de previsão, as aplicações preventivas na fase da floração continuam sendo a melhor saída. Quem espera o fungo chegar pode não conseguir controlar a doença, uma vez que o clima muito seco ou a chuva tornam a pulverização ineficaz, afirma.