Uma Hitória do Vinho

2 de junho de 2007 | Sem comentários Cafeteria Consumo

VINHOS


João Lombardo, jornalista e e sommelier
joao@lombardo.com.br


A síntese de dois mundos


O Velho e o Novo mundo brilharam em duas degustações realizadas, esta semana, em Florianópolis, pelas importadoras Porto a Porto e Decanter. Representaram o velho mundo os vinhos da Unión de Viticultores Riojanos, da família Montaña, produzidos no nordeste da Espanha, com as marcas Don Román e Marqués de Tomares. Coube ao produtor Raka, da África do Sul, representar, com oito rótulos, mais uma seleção de vinhos do Novo Mundo que acaba de desembarcar no Brasil.

A Espanha tem o maior vinhedo, em área, do mundo. A principal casta tinta do país é a Tempranillo. Outras castas tintas são a Garnacha, Graciano e Mazuelo. Viúra, Albariño, Garnacha Blanca e Malvasia Riojana estão entre as brancas. A Espanha planta e vinifica também uvas francesas, como a Cabernet Sauvignon. E a longa passagem por barricas de carvalho francês a americano tem sido uma das características dos vinhos espanhóis.

A África do Sul figura entre os chamados países produtores de vinho do Novo Mundo. O país começou a produzir vinhos em 1659. Mas os vinhos sul-africanos só começaram a ganhar o mundo a partir de 1991, com o fim do apharteid. A Pinotage é a uva tinta emblemática da África do Sul, criada a partir de um cruzamento entre a Pinot Noir e a Cinsault. Os viticultores do país plantam Chenin Blanc (Steen), Chardonnay e a Sauvignon Blanc, entre outras. Tintos de Cabernet Sauvignon, Merlot e Shiraz são produzidos na África do Sul.

O vinhateiro Oscar Montaña comanda a produção dos vinhos Don Román e Marqués do Tomares, na vinícola fundada em 1918 na Rioja Alta. A empresa produz 750 mil garrafas de vinhos por ano e exporta cerca de 10% desse total para o Brasil. Boa conjugação de fruta e madeira revelam equilíbrio nesses vinhos. “O perfil de vinhos com menos fruta e mais madeira está mudando na Espanha. Hoje, os vinhos espanhóis estão menos oxidados, seguindo uma tendência do mercado”, afirmou Montaña.

A busca por vinhos menos pesados, tânicos ou oxidados, sem abandonar a tradição de castas e as características típicas do terroirs, tem sido observada em vinhos de diversos países do Velho Mundo. Uma conjugação da tradição com modernas técnicas vinícolas praticadas em países do Novo Mundo. Um movimento oposto ao de alguns produtores dos novos continentes que, para escapar dos riscos da padronização tecnológica nos vinhos, estão buscando valorizar as características do terroir, agregando a seus produtos traços mais europeus.

É o que acontece com o produtor Raka Wines, cuja vinícola, fundada em 2002, fica no recém-demarcado Ward de Klein River, no District Walker Bay, a mais fria área vitícola do Cabo. Com castas francesas e a Pinotage, a empresa produz vinhos modernos, mas que revelam traços tradicionais, de vinhos europeus. Características que, ao lado dos tradicionais aromas de fruta madura e de especiarias, tornam os vinhos mais gastronômicos e complexos. Vinhos de dois mundos, que de certa maneira se aproximam, sem perder a identidade. A seguir, o resultado de algumas provas.

Don Román 2004 – Produzido com uvas Tempranillo e Graciano, passa três meses em barricas novas de carvalho americano. O resultado é um vinho agradável, com aromas de frutas vermelhas e toques de especiarias como a baunilha. Na boca é frutado e macio, com acidez branda e toques de especiarias doces.

Marqués de Tomares Crianza 2003 – Produzido com uvas Tempranillo, Mazuello e Graciano, esse vinho mostrou elegante conjugação de frutas vermelhas e negras, com notas de especiarias e tostados. Ótimo corpo, acidez deliciosa e taninos macios marcaram a apreciação gustativa desse vinho.

Raka Pinotage 2005 – Modernas técnicas de vinificação e 12 meses de estágio em barricas de carvalho francês e americano fizeram esse vinho desviar da rusticidade muitas vezes presente nos Pinotage, dando-lhe um perfil de frutas negras, como ameixa, mesclado a toques tostados, taninos macios e especiarias.

Figurehead 2004 – Corte de uvas francesas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot com a sul-africana Pinotage. Estágio de 12 meses em barricas francesas. Fechado inicialmente, apresentou, na evolução, toques vegetais de bosque, notas de frutas vermelhas maduras e especiarias. Elegante na boca, mostrou taninos redondos e final muito agradável.
Quinary 2003 – Feliz conjugação de uvas Cabernet Sauvigon, Cabernet Franc, Merlot, Malber e Petit Verdot, com estágio de 12 meses em barricas francesas. Vinho complexo, com notas de frutas, cedro, café e toques vegetais. Bela acidez na boca, volumoso e com final muito agradável.

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