17/01/2010
Carlos Ganem
A capacidade autônoma de prever o tempo e o clima é essencial para um país como o Brasil. Seja pela sua extensão territorial, de 8,5 milhões de quilômetros quadrados; pela atividade econômica largamente baseada na agricultura, na pecuária e na pesca; como também para garantir a segurança alimentar e a capacidade de exportar.
Além disso, não podemos esquecer de que as previsões meteorológicas nos ajudam a prever e a evitar os efeitos das catástrofes naturais que causam perdas de vidas humanas, de valor incalculável, de patrimônio e de infraestrutura avaliados em bilhões de reais. Os cenários de mudanças climáticas nos levam a crer, ainda, que fenômenos como enchentes, tempestades e ciclones, por exemplo, serão cada vez mais frequentes e severos no Brasil e no mundo.
Neste mesmo contexto, o recente episódio da substituição do satélite meteorológico americano Goes-10 (cedido ao Brasil pelos Estados Unidos) pelo Goes-12, que servirá aos dois países, levantou uma série de questões que têm sido debatidas nos meios governamentais, científicos e pela imprensa.
O primeiro ponto a considerar é que o novo satélite deverá partilhar o tempo de imageamento entre os Estados Unidos e o Brasil e, em caso de eventos extremos ou catástrofes por lá, as imagens nos serão fornecidas a cada três horas. Tempo considerado demasiadamente longo pelos nossos meteorologistas. Outra questão é a da posição orbital onde se encontra o Goes-12, que, pelo mesmo motivo do compartilhamento, não é a mais indicada para cobrir o território nacional.
Daí a necessidade de, além de assegurar o fornecimento imediato de imagens meteorológicas – o que já foi feito por meio do acordo Brasil-Estados Unidos para uso do Goes-12 -, providenciar meios autônomos de imageamento.
Nesse sentido, a Agência Espacial Brasileira (AEB), autarquia vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), iniciou em 2008 diversas ações. Entre elas se destacam acordos com a França e os Estados Unidos para a participação brasileira no programa Global Precipitation Measurement (GPM) de estudos sobre as precipitações (chuvas) em nível global. Do mesmo modo, o estudo de viabilidade para a construção de um satélite geoestacionário para comunicações estratégicas e meteorologia, que poderá ser desenvolvido por meio de parceria público-privada.
Esse satélite deverá ser projetado e desenvolvido no Brasil. Com efeito, o Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae), sob coordenação da AEB, tem entre seus objetivos o fortalecimento e a capacitação de nossa indústria espacial, o domínio das tecnologias espaciais e sua utilização em benefício da sociedade brasileira.
O projeto de um satélite meteorológico geoestacionário nacional atende plenamente às metas do nosso programa espacial. Trata-se de prioridade nacional e de conquista de autonomia e de soberania para o País.
Ademais, o desafio tecnológico de projetar e construir tal satélite geoestacionário envolve a mobilização da indústria e dos institutos de pesquisa da área espacial, sem descartar a possibilidade de parceria e cooperação internacionais.
Nossa indústria tem respondido com competência e eficiência às demandas do programa espacial em projetos de vulto, como o do Satélite de Coleta de Dados (SCD), primeiro satélite nacional, ou do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (Cbers), desenvolvido em cooperação com a China – ambos sob coordenação técnica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ela se fortalecerá ainda mais com o novo projeto.
O Brasil tem agido responsavelmente ao assegurar o fornecimento de imagens meteorológicas via acordos internacionais e mesmo ao cogitar a compra de um satélite. Essas ações não excluem, entretanto, o desenvolvimento nacional de um satélite meteorológico, que representa, ao mesmo tempo, soberania, autonomia, domínio tecnológico, capacitação industrial e oportunidade de negócios estratégicos.
Finalmente, tal projeto fortalecerá nossa posição de liderança espacial na região sul-americana e representará excelentes oportunidades de negócios no fornecimento de imagens e serviços meteorológicos e mesmo de satélites ou equipamentos espaciais, num mercado internacional que movimenta em torno de US$ 280 bilhões por ano. (Fonte: OCDE, relatório 2008.)
Carlos Ganem é presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB) Suely Caldas está em férias
17/01/10
Carlos Ganem
A capacidade autônoma de prever o tempo e o clima é essencial para um país como o Brasil. Seja pela sua extensão territorial, de 8,5 milhões de quilômetros quadrados; pela atividade econômica largamente baseada na agricultura, na pecuária e na pesca; como também para garantir a segurança alimentar e a capacidade de exportar.
Além disso, não podemos esquecer de que as previsões meteorológicas nos ajudam a prever e a evitar os efeitos das catástrofes naturais que causam perdas de vidas humanas, de valor incalculável, de patrimônio e de infraestrutura avaliados em bilhões de reais. Os cenários de mudanças climáticas nos levam a crer, ainda, que fenômenos como enchentes, tempestades e ciclones, por exemplo, serão cada vez mais frequentes e severos no Brasil e no mundo.
Neste mesmo contexto, o recente episódio da substituição do satélite meteorológico americano Goes-10 (cedido ao Brasil pelos Estados Unidos) pelo Goes-12, que servirá aos dois países, levantou uma série de questões que têm sido debatidas nos meios governamentais, científicos e pela imprensa.
O primeiro ponto a considerar é que o novo satélite deverá partilhar o tempo de imageamento entre os Estados Unidos e o Brasil e, em caso de eventos extremos ou catástrofes por lá, as imagens nos serão fornecidas a cada três horas. Tempo considerado demasiadamente longo pelos nossos meteorologistas. Outra questão é a da posição orbital onde se encontra o Goes-12, que, pelo mesmo motivo do compartilhamento, não é a mais indicada para cobrir o território nacional.
Daí a necessidade de, além de assegurar o fornecimento imediato de imagens meteorológicas – o que já foi feito por meio do acordo Brasil-Estados Unidos para uso do Goes-12 -, providenciar meios autônomos de imageamento.
Nesse sentido, a Agência Espacial Brasileira (AEB), autarquia vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), iniciou em 2008 diversas ações. Entre elas se destacam acordos com a França e os Estados Unidos para a participação brasileira no programa Global Precipitation Measurement (GPM) de estudos sobre as precipitações (chuvas) em nível global. Do mesmo modo, o estudo de viabilidade para a construção de um satélite geoestacionário para comunicações estratégicas e meteorologia, que poderá ser desenvolvido por meio de parceria público-privada.
Esse satélite deverá ser projetado e desenvolvido no Brasil. Com efeito, o Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae), sob coordenação da AEB, tem entre seus objetivos o fortalecimento e a capacitação de nossa indústria espacial, o domínio das tecnologias espaciais e sua utilização em benefício da sociedade brasileira.
O projeto de um satélite meteorológico geoestacionário nacional atende plenamente às metas do nosso programa espacial. Trata-se de prioridade nacional e de conquista de autonomia e de soberania para o País.
Ademais, o desafio tecnológico de projetar e construir tal satélite geoestacionário envolve a mobilização da indústria e dos institutos de pesquisa da área espacial, sem descartar a possibilidade de parceria e cooperação internacionais.
Nossa indústria tem respondido com competência e eficiência às demandas do programa espacial em projetos de vulto, como o do Satélite de Coleta de Dados (SCD), primeiro satélite nacional, ou do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (Cbers), desenvolvido em cooperação com a China – ambos sob coordenação técnica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ela se fortalecerá ainda mais com o novo projeto.
O Brasil tem agido responsavelmente ao assegurar o fornecimento de imagens meteorológicas via acordos internacionais e mesmo ao cogitar a compra de um satélite. Essas ações não excluem, entretanto, o desenvolvimento nacional de um satélite meteorológico, que representa, ao mesmo tempo, soberania, autonomia, domínio tecnológico, capacitação industrial e oportunidade de negócios estratégicos.
Finalmente, tal projeto fortalecerá nossa posição de liderança espacial na região sul-americana e representará excelentes oportunidades de negócios no fornecimento de imagens e serviços meteorológicos e mesmo de satélites ou equipamentos espaciais, num mercado internacional que movimenta em torno de US$ 280 bilhões por ano. (Fonte: OCDE, relatório 2008.)
Carlos Ganem é presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB) Suely Caldas está em férias