09/10/2011
O Globo
Visitamos uma plantação que fica em plena cidade de São Paulo e chega a produzir uma tonelada de grãos por ano
O cafezal com os prédios da cidade ao fundo: tudo começou com uma pesquisa para controlar uma praga
Funcionário na plantação do Instituto Biológico, dedicado a pesquisas na área agrícola
Um prédio de seis andares, com fachada rosa e arquitetura art déco, localizado a menos de dois quilômetros do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, é uma espécie de ponte entre o passado e o futuro. Funciona ali o Instituto Biológico, uma instituição que produz pesquisas de ponta e, ao mesmo tempo, serve de museu a milhares de documentos históricos sobre agropecuária. A beleza do prédio já valeria uma visita à Rua Conselheiro Rodrigues Alves, na Vila Clementino, Zona Sul da capital. Mas a maior supresa está guardada nos fundos do imóvel. Depois de subir a escadaria e alcançar o pátio, muita gente fica de queixo caído: perfilam do lado direito do jardim nada menos do que 1.536 pés de café, nas variedades Mundo Novo e Catuaí.
É o maior cafezal em área urbana do mundo e nele se cumpre o ciclo inteiro de cultivo, do plantio à colheita. Em média, colhe-se uma tonelada de grãos por ano, entre maio e junho, dependendo do clima. Torrados e moídos, rendem cerca de 500 quilos de pó da bebida, que são doados ao Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo. O cafezal nasceu como um laboratório a céu aberto, e hoje ajuda a preservar a memória do instituto, fundado em 1927.
— O café é a nossa origem — diz Antonio Batista Filho, diretor geral do instituto, órgão ligado à Secretaria de Agricultura de São Paulo. — O instituto surgiu para pesquisar a broca-do-café, que trouxe pânico aos agricultores. O estado reuniu os melhores pesquisadores da época para conter a praga.
A poucos passos do cafezal, existe um bosque com exemplares de pau-brasil. O visitante só não se esquece de que está na metrópole porque, ao olhar para o alto, avista sem dificuldade edifícios modernos que, afinal, fazem daquele local exatamente o que ele é, uma exceção. Tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), o prédio e seu cafezal sobrevivem à pressão imobiliária.
A broca-do-café chegou aos cafezais paulistas através de sementes importadas da África. Depois, espalhou-se pelo país. A fêmea do inseto, de cerca de 1,65 milímetro, perfura o fruto e faz uma “galeria” até a semente, onde deposita seus ovos. A infestação foi tão grave que uma das soluções pensadas à época, nos idos de 1920, foi queimar todas as plantações atingidas. Venceu, no entanto, a orientação científica.
Uma comissão de pesquisadores indicou o pesticida ideal e o manejo adequado na colheita, evitando que restassem nos pés frutos que continuassem a servir ao besouro. Ao mesmo tempo, o pesquisador Adolpho Hempel, especializado em Entomologia e Parasitologia animal, embarcou para Uganda em busca de predadores naturais. Na volta, trouxe vespas.
— A vespinha entra no fruto, na “galeria” onde o parasita coloca os ovos, e mata a broca — explica Antonio, engenheiro agrônomo que também se especializou em Entomologia e dirige o instituto há cerca de oito anos.
Existe um lugar…
O Instituto Biológico tem um centro de memória com mais de 340 mil documentos históricos relativos à agropecuária.
a Abriga num museu a maior diversidade de espécies de insetos vivos do país.
Oferece mais de 350 tipos de exames e realiza, em média, 466 diagnósticos por dia nas áreas da chamada sanidade animal, vegetal e monitoramento ambiental.
Tem o maior número de exames credenciados pelo Ministério da Agricultura para análises de pragas e doenças de plantas.
Atende a 90% das Centrais de Inseminação Artificial do Brasil, realizando exames referentes a doenças da reprodução
animal.
Realiza a maior diversidade de exames para diagnóstico de doenças animais no Brasil.
Tem a maior coleção no país de bactérias na área animal.