UM ANO QUE ENTRARÁ PARA A HISTÓRIA! Por Marcelo Fraga

Realizando uma breve retrospectiva do ano 2020, este atípico, extraordinário, de muito aprendizado, surpresas, alegria para alguns e tristeza para muitos, muitas oscilações, muitas variáveis que mudaram o mundo!

20 de dezembro de 2020 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: MERCADO DE CAFÉ – COMENTÁRIO SEMANAL – DE 14 – 18 DE DEZEMBRO DE 2020

Em fevereiro, com o início da pandemia, com os Estados Unidos fechando os aeroportos (dando início na restrição da movimentação mundial), com a crise “pegando forte” na Europa, o pânico tomou conta do mundo! No Brasil, como sempre, o ano só “começou após o carnaval”, e durante os 3 dias de “festas do carnaval”, enquanto o Brasil “dormia” as bolsas mundiais continuaram trabalhando a pleno vapor, já caindo forte. O Brasil “acordou” na quarta-feira de cinzas, e o resto já sabemos! O Índice Ibovespa chegou a cair -30% e tivemos 6 “circuit breaks” (quando o índice varia até o oscilação máxima ou mínima permitida)! Seguimos assistindo a crise política interna com as brigas entre os 3 poderes, entre o Presidente do Brasil e os governadores. O Brasil virou um país comandado pelo Supremo Tribunal Federal, onde as leis e a própria Constituição são alteradas conforme os interesses do poder paralelo!

Pela primeira vez na história vimos o petróleo trabalhar no negativo, valendo -47,37 usd/barril! Pessoas “presas dentro de casa”, consumo de combustível nas mínimas históricas, países brigando entre si (alguns tentando se ajudar e outros olhando apenas para seus próprios interesses). Tivemos a eleição americana e a novela da Inglaterra ainda tentando sair da Comunidade Européia. O Covid-19 segue no ar, causando incertezas para 2021!

Começamos 2020 com o Set-21 nas máximas do ano a 147,00 centavos de dólar por libra-peso e o Real a 4,04 R$/US$. Em maio vimos o Real atingir a máxima do ano, negociando a 5,97 R$/US$ (desvalorizando praticamente 50%)! Em junho o Set-21 negociou na mínima do ano a 103,55 centavos de dólar por libra-peso e o Real negociou a 5,49 R$/US$; no mês de setembro novamente o Set-21 voltou a trabalhar nas máximas do ano a 137,60 centavos de dólar por libra-peso e o Real negociou a 5,32 R$/US$ (os embarques da nova safra brasileira começaram a entrar no mercado, a logística foi se ajustando, e a demanda forte pelas tradings continuou pagando prêmios elevados para conseguir produto, e na sequência veio o período da seca que durou até o início de novembro). Com a volta das chuvas, a partir de novembro, o mercado voltou a corrigir forte, com o Set-21 negociando a 109,65 centavos de dólar por libra-peso e o Real voltando a desvalorizar negociando @ 5,76 R$/US$ (em função da crise interna política/econômica/risco do teto do limite de gastos ser ultrapassado). E terminamos esta semana com o Set-21 @ 129,90 centavos de dólar por libra-peso e o Real voltando a valorizar fechando @ 5,10 R$/US$.

No curto prazo o Set-21 segue com forte resistência @ 132,60 centavos de dólar por libra-peso e a primeira suporte @ 126,60 centavos de dólar por libra-peso e o próximo suporte @ 124,60 centavos de dólar por libra-peso. Acreditamos que se o mercado romper a primeira resistência veremos o mercado indo “buscar” os 135 centavos de dólar por libra-peso e depois 150,00 centavos de dólar por libra-peso.

Seguimos preocupados com a próxima safra 21/22.

Com receio para a próxima safra, tanto quanto a qualidade quanto ao rendimento das lavouras, os produtores se retiraram do mercado. Vários produtores já venderam grande parte de suas produções entre 550-680 R$/saca. Os que venderam abaixo de 600 R$/saca estão preocupados e procurando renegociar suas vendas com os compradores/tradings, tentando realizar operações de “wash-out” (recomprar parte do que foi vendido), e/ou procurando alternativas para se proteger caso algum novo fato adicionar mais “gasolina na fogueira”)!

Continuamos altistas, pois a quebra será real (com bancos e corretoras já indicando uma produção entre 50-55 milhões de sacas), os fundos com condição para aumentar a posição comprada (última posição índica os fundos comprados em 26.141 lotes). Acreditamos que os produtores brasileiros não terão muita munição para vender pois muitos já fixaram e já realizaram “vendas a termo” de grande parte das suas produções para as próximas safras 21/22 e 22/23.

No comentário semanal anterior pontuamos alguns fatores altistas, tais como: o Real seguir valorizando frente ao USD, aumento do consumo; quebra de produção em outros países produtores, e principalmente o risco de ocorrer geadas entre 15-junho/15-agosto do ano que vem!

Nossa sugestão segue sendo a compra de “Call-Spread” contra o contrato Set-21 (pois o contrato de Julho-21 expira ainda no período onde geadas poderão ocorrer), comprando a Call de 135 centavos de dólar por libra-peso e vendendo a Call de 180/200 centavos de dólar por libra-peso. O “Call-Spread” no Set-21, comprando a Call de 135,00 centavos de dólar por libra-peso e vendendo a Call de 180,00 centavos de dólar por libra-peso fechou a semana custando aproximadamente 5,00 centavos de dólar por libra-peso, ou aproximadamente 60,00 R$/saca. Caso o Set-21 negociar e fechar acima dos 180,00 centavos de dólar por libra peso esse seguro irá proteger o produtor em aproximadamente 250,00 r$/saca!

Seguimos sugerindo aos produtores a não comprometer mais do que 75% da sua produção até junho/julho-21.

Alguns produtores já venderam parte da sua produção para a safra 22/23, e sugerimos que façam a proteção acima também. Caso o mercado “explodir” aproveitem a oportunidade para vender o saldo da safra 22/23 e talvez até mesmo parte da safra 23/24!

Colheitas seguem sem surpresas na América Central, África, Vietnam, Indonésia. E chuvas seguem favorecendo o estágio final das lavouras na Índia.

Como sempre, cuidado com as “operações estruturadas” (os famosos acumuladores que podem dobrar, aparecer se o mercado negociar a X nível). Não coloquem riscos desnecessários nos livros! Façam suas contas, levantamento das suas lavouras, projeção de “eventuais quebras”, e aproveitem as oportunidades!

Como falamos, nesse ano alguns nos deixaram, e recebemos com imensa tristeza a notícia do falecimento, na última terça, de Herbert Penfield, um dos pioneiros do mercado futuro de commodities no Brasil. Herbert trabalhou na Anderson Clayton nos anos 1960, então a maior exportadora de café do Brasil e, em seguida, por mais 6 anos em outra exportadora de primeira grandeza na época, a Tristão. Em 1976, Herbert fundou a Penfield Commodity – Corretora de Mercadorias, única – naqueles tempos em que a comunicação era escassa e cara no Brasil – a ter uma linha telefônica direta com o pregão de Chicago e a mais importante corretora de commodities do País. Herbert foi tutor e professor de várias gerações de traders, corretores, tendo sido presidente da Bolsa de Mercadorias de São Paulo, a Bolsinha, ao lado de outros ícones do setor. Homem de ideias brilhantes, raciocínio rápido e com grande espírito inovador foi figura importante no desenvolvimento do mercado futuro. Alguém disse que os grandes professores nunca morrem, eles sobrevivem na alma e na memória de seus pupilos. Que Mr. Penfield tenha o descanso merecido.

Este é o último relatório de 2020. Gostaríamos de aproveitar a oportunidade para agradecer a todos os nossos clientes, amigos e leitores por mais um ano juntos. E eu poder agradecer ao Arnaldo Correa a oportunidade em estar escrevendo esse comentário semanal! Foi um ano muito difícil com o mundo lutando incessantemente contra um inimigo invisível. Sabemos, pela ciência, que 2021 será um ano que vai exigir redobrada paciência, pois a vacina não vai nos permitir abandonar as máscaras e os cuidados que temos tomado até aqui.

Meus votos para todos vocês e suas famílias são de muita saúde, muita paz, muita resiliência e a esperança renovada de um 2021 de muitas conquistas. Feliz Natal (não se esqueçam do Aniversariante), Boas Festas e Feliz Ano Novo.

Voltaremos no primeiro final de semana de fevereiro. Vamos seguir acompanhando o mercado nesse período. Caso venha a acontecer algum fato importante faremos um “comentário extraordinário”.

Marcelo Fraga Moreira*

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