Turismo e educação alavancam preservação, dizem especialistas
Cláudia Kojin
A presença de prédios históricos nos centros urbanos podem contribuir para o turismo se aliados a projetos de conservação pelo Poder Público e a conscientização da população. Revitalizados, passam a valorizar os espaços urbanos onde se localizam e tornam-se referência, mudando a percepção da população local sobre os significados, revivendo a memória e identidade do povo.
Segundo a socióloga e proprietária da Fazenda Quilombo, Maria José Ribeiro, o crescimento econômico e a modernização das cidades fizeram com que os laços com a história da cidade fiquem perdidos. Com isso, não há respeito e nem interesse em preservar. Ela diz que devem ser elaborados projetos de educação que valorizem a visitação aos prédios históricos. “Essa riqueza é uma fonte de renda, já que pode ser aberta ao turismo”, diz.
Em um passeio pelo centro, o Palacete Levy, prédio do Museu Histórico e Pedagógico Major José Levy Sobrinho e as casas antigas da Rua Barão do Cascalho chamam a atenção pela arquitetura de uma época passada. Porém, o estado precário em que se encontram demonstra o descaso com a memória e a demora para implantação de projetos de preservação.
A presidente do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Arquitetônico de Limeira (Condephali), Juliana Binotti, afirma que o departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura, da qual também participa, desenvolve projetos de reforma e restauro dos principais prédios e fazendas. Segundo ela, em 1997 foi feito um levantamento dos prédios com interesse histórico. “Vários deles foram demolidos”, lamenta. Outros estudos foram realizados e hoje o número de prédios chega a 200, entretanto apenas 34 foram enquadrados com interesse histórico, o restante foi demolido ou descaracterizado.
Segundo explica, o projeto de restauro do prédio principal da estação ferroviária foi finalizado. Porém, ainda estão pendentes os barracões e casas no entorno. O prédio do Museu também está com o restauro iniciado e o Palacete Levy está com o processo em andamento.
Em 2008, o prefeito Sílvio Félix assinou decreto em que ficaram tombados, provisoriamente, os imóveis, públicos e particulares, da Barão de Cascalho, no trecho compreendido entre a Praça João Pessoa e a Rua Santa Cruz; Estação Ferroviária; Palacete Levy; Palacete Tatuiby; Igreja Boa Morte; Creche Prada, Edifício Prada, Casarão localizado na Praça Toledo Barros, prédio onde se encontra o banco Nossa Caixa e a casa de azulejos na Rua Tiradentes. “Hoje, o Departamento trabalha com 19 prédios na Rua Barão de Cascalho e 70 processos de restauro em andamento”.
Linha férrea marcou período de crescimento econômico
O diretor da Associação Pró-Memória de Limeira, José Eduardo Heflinger, conta que esses prédios estão vinculados a períodos de desenvolvimento da história da cidade. A Estação Ferroviária, fundada em 1876, trouxe para a cidade um avanço econômico, principalmente porque colocou Limeira no eixo dos grandes produtores de café. “Limeira deslanchou economicamente a partir do momento em que facilitou o escoamento da produção de café para o Porto de Santos”, frisa. Inclusive, promovendo a expansão de cidades vizinhas, como Cordeirópolis.
As grandes fortunas dos barões de café podem ser lembradas através dos prédios como o Palacete Levy, construído pelo neto do Barão de Campinas, Sebastião Barros Silva. A construção foi finalizada em 1881. “O palacete era contornado de jardins que ocupavam o quarteirão inteiro”. O detalhamento da arquitetura, pinturas nos tetos, as madeiras e os mármores simbolizavam a classe dos cafeicultores, que eram possuidores de grandes fortunas. “Dom Pedro II chegou a visitar o Palacete nessa época”, enfatiza.
De moradia passou a Conservatório denominado Carlos Gomes, financiado pela família Levy, que se tornou proprietária da casa quando Sebastião Barros Silva, proprietário da Fazenda Itapema, foi a falência. “Durante um período, o conservatório reuniu conceituados professores de música e formou muitos alunos sendo que a primeira sinfônica de Limeira nasceu nessa época”, contou. “Preservar as joias arquitetônicas e conviver com o novo é o desafio da nossa geração”, ressalta.
Para ele, Limeira é uma cidade rica em histórias, contudo não é repassada aos estudantes. “Os alunos aprendiam lendas. Por isso, a iniciativa de resgate da história por meio de publicações de revistas e livros”, abordou.
Heflinger disse que, para resgatar a memória histórica, tem que primeiro pensar em preservação, depois em conscientização.
O secretário de Turismo e Eventos, Domingos Furgione Filho,disse que após finalização da reforma e restauro do prédio principal da estação ferroviária, área destinada à Secretaria da Cultura, serão instaladas oficinas, museu ferroviário, bar de época, Casa do Artesão e atividades do Ceprosom funcionarão no local. “Os processos de licitação estão em andamento”, disse. Furgione disse ainda que a preservação da história limeirense é fundamental para a cidade, tanto no aspecto cultural como turístico. (CK)
Limeira: berço da imigração
Limeira promoveu a vinda dos imigrantes 40 anos antes da Abolição da Escravatura. O proprietário da Fazenda Ibicaba à época, Senador Vergueiro, trouxe os imigrantes para trabalhar na lavoura de café. “Limeira é o berço da imigração”, destaca Heflinger. Suíços, alemães e portugueses foram os primeiros a chegar na fazenda. O fato serve para ilustrar o momento da história que caracteriza essa época. O prédio da Fazenda Ibicaba sintetiza um importante momento da história do Brasil porque faz lembrar os fatos relacionados a essa época em que Limeira era apenas um pequeno povoado.
O arquiteto Alexandre Rocha já trabalhou na cidade de São Paulo no Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Paulo e no Instituto Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (Iphan), e diz que em Limeira concentra a diversificação de pessoas vindas de vários locais, caso semelhante a São Paulo. Com as raízes de fora, leva-se um tempo para se identificar com o local. “Há necessidade de iniciativas que identifiquem esse vínculo”, ponderou.
Ele destaca que a cidade passou por uma evolução e o patrimônio histórico ficou perdido no cotidiano das pessoas. O interessante, segundo Alexandre, é que alguns prédios históricos representativos pertencem ao poder público e não correm risco de ser foco do interesse imobiliário. “São edifícios representativos da história”, acrescentou.
Ele destaca que nos debates sobre preservação, a educação é um item sempre abordado. “A informação faz com que haja atividades que levem ao apego”, conta. A conscientização somente poderá ser atingida através da educação e pode convergir para a mudança de comportamento, no caso das depredações, e atitude de preservação. Um prédio histórico passa a ter valor, não é depreciativo ter um imóvel antigo.”Precisa de uma mudança de mentalidade”, finaliza. (CK)