Publicação: 17/08/07
Com a incerteza nas bolsas, fundos liquidaram posições, derrubando preços futuros dos produtos. A tensão no sistema financeiro mundial, disparada pelo crédito de alto risco nos Estados Unidos, provocou queda generalizada de todas as commodities agrícolas nas bolsas internacionais. Os maiores tombos ocorreram no café e na soja. Na Bolsa de Nova York (Nybot), o contrato do café com vencimento em setembro caiu 6,6%, fechando em US$ 111,30 por libra-peso. A soja veio em seguida com um recuo de 4,7% nos papéis de novembro na Bolsa de Chicago (CBOT). Mesmo com as baixas nas cotações internacionais, os preços das commodities no Brasil estão conseguindo se sustentar, devido à valorização do dólar.
“A queda dos preços das commodties está em linha com o processo de destruição de riquezas que ocorreu nas últimas semanas”, diz o economista Fábio Silveira, da RC Consultores. Segundo ele, é um processo que responde mais a mecanismos psicológicos que econômicos, pois “quando se deflagra um clima de pânico, as reações são das mais variadas, para minimizar perdas e vender”.
“Todas as commodities caíram. Houve liquidação de posições para ativos mais seguros”, afirma Joselito Soncella, analista da A Rural.
Café
Para o analista Francisco Arantes, da Termo Corretora, a baixa verificada nos futuros do café foi baseada na “operação desmonte” que ocorre no mercado global. Segundo ele, durante todo o dia o mercado de café se manteve pelos fundamentos, que são altistas – uma vez que a safra brasileira é menor. No entanto, acabou cedendo porque, segundo ele, “quando o financeiro contamina o econômico, não tem fundamento em produto que se mantenha”.
Apesar de em Nova York a queda ter sido equivalente a quase US$ 10 por saca (60 quilos), no mercado físico brasileiro, os preços mantiveram-se nos mesmos patamares, entre R$ 260 e R$ 265 a saca. Isto porque ao câmbio teria compensado a desvalorização verificada nos contratos futuros. Com isso, o produtor brasileiro aproveitou para vender. “Se não fosse o câmbio, o mercado travava”, diz Arantes. Segundo ele, a comercialização tem sido da safra velha, não da atual.
Soja
Segundo o analista da AgraFNP, Fábio Turquino Barros, os preços da soja no mercado físico praticamente não se alteraram nas principais praças brasileiras. Em Cascavel (PR) a saca foi cotada a R$ 34,50, o mesmo valor do dia anterior. “Apesar do preço sustentado, houve pouquíssimos negócios no mercado físico. Grande parte das empresas ficaram fora do mercado”, afirma o analista.
Segundo Barros, o recuo da soja foi mais intenso do que o do milho, porque a oleaginosa já vinha registrando boas altas há algumas semanas. “Com a queda generalizada, o mercado recuou liquidando posições. Somente ontem foram vendidos 12 mil contratos de soja na CBOT, o que é um volume muito significativo”, completa Barros. Além disso, o clima nas lavouras dos Estados Unidos também está favorável, o que contribuiu para o movimento de ontem, conforme Barros.
Milho
Os contratos do milho na CBOT com vencimento em setembro apresentaram queda de 1,98%, fechando em US$ 321,50 centavos de dólar por bushel.
No caso do milho, a sustentação dos preços no mercado interno se deveu, além da valorização do dólar – 7,6% desde sexta-feira passada – também à forte demanda pelo produto pela União Européia (UE), segundo Barros. Ontem, em Paranaguá, a cotação da saca de 60 quilos do produto estava em R$ 24, ante os R$ 23 do dia anterior, segundo a AgraFNP. “Os compradores estão atuando agressivamente dando sustentação, inclusive para a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Os contratos de novembro na bolsa brasileira fecharam em alta de 4,5%.
“Mas os negócios também ficaram travados, porque está subindo muito. Ontem foi dia tenso, nervoso. O produtor fica com receio de vender e tenta segurar o grão apostando em ganhos maiores. “, avalia Barros.
Os prêmios do milho no porto foram elevados de 10 centavos de dólares para 50 centavos de dólares por tonelada, resultado dessa maior procura pelos europeus.
Segundo Fernando Pimentel, da Agrosecurity, é normal o mercado físico reagir em momento posterior às bolsas internacionais. Mas, no caso do milho, a tendência é que os preços continuem sustentados, pois a demanda na Europa está muito forte. “Além de eles precisarem do milho para suprir a falta de trigo, a preferência pelo produto brasileiro se deve ao fato de ser livre de transgênico”, diz Pimentel. Para o analista da Agrosecurity, em um horizonte curto de calmaria, a tendência é o dólar ir se alinhando novamente. Terá que ter a contrapartida de Chicago e prêmio porto para movimento de retorno.