Tradicional cafezinho vai ter reajuste de 25% a partir de julho

Puxada pela valorização do produto no mercado internacional, alta deve ser repassada parceladamente ao consumidor

Por: Hoje Dia

ECONOMIA
30/06/2010 
 
Puxada pela valorização do produto no mercado internacional, alta deve ser repassada parceladamente ao consumidor
 
Janine Horta – Repórter – 30/06/2010 – 11:00
Carlos Roberto


cafezinho
Cecília Leles não dispensa o cafezinho, especialmente no intervalo da jornada de trabalho
A bebida mais tradicional entre os brasileiros – o café – deverá ficar mais cara a partir do mês que vem, puxada pela alta do produto no mercado internacional. A commodity alcançou valorização de 25% na Bolsa de Nova Iorque, há cerca de 20 dias, e não há – segundo entidades que representam o setor e produtores – sinal de que este comportamento seria passageiro ou pura especulação financeira. A indústria do café já estuda como vai repassar o aumento da matéria-prima aos consumidores. A expectativa é de que o repasse seja parcelado.


A alta na bolsa de Nova Iorque se deve à baixa oferta do produto no mercado internacional, devido à queda na produção dos principais países exportadores, como Colômbia e outros da América Central, como Honduras e Guatemala, que produzem o café da espécie arábica, a mais consumida no mundo, inclusive no Brasil. Já para os cafés da espécie robusta, verificou-se até falta dele no mercado mundial, porque o principal produtor , o Vietnã, também teve grandes perdas por causa do clima. Além dos problemas climáticos, esses países passam por renovação do parque cafeeiro.


Por outro lado, no Brasil, a previsão é de uma colheita recorde em 2010. No ano passado, de acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), o país produziu 2.433.746 toneladas. Minas Gerais foi responsável por 49,2% dessa produção, com 1.197.595 toneladas. A principal região produtora do Estado é o Sul de Minas, com 40,8%, seguida pela Zona da Mata (19,1%) e Alto Paranaíba (16,6%).


Assim, não há risco de desabastecimento, nem no exterior, nem no Brasil, garante a Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic). “A oferta está equilibrada com a demanda, mas a alta internacional de preços puxa o valor do produto no mercado interno pelo fato de o café ser uma commodity”, pontua o diretor executivo da Abic, Nathan Herszkowicz.


O que já está certo é uma alta do produto, pois a indústria não tem como arcar com mais esse aumento sem repassar para o consumidor. O café, de acordo com Herszkowicz, não tem reajuste de preço há quase cinco anos. “Nos últimos 15 anos, a alta acumulada do café foi de apenas 35%, enquanto a cesta básica, nesse mesmo período, valorizou 290%”, afirma o diretor da Abic.


Os produtores mostram satisfação com a possibilidade de alta do preço. Segundo o gerente de cafés especiais da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer), João Ferreira Júnior, a alta na Bolsa de Nova Iorque chega a 30%, mas o reflexo para o produtor brasileiro deverá variar entre 15% a 20%.


“A alta chegou num momento pouco comum. Estamos no início da safra, que deve se prolongar até setembro e outubro. Com a falta de café de outros países, o produto brasileiro será melhor valorizado”, lembra Júnior. A Expocaccer, localizada no município de Patrocínio, região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, produz anualmente cerca de 170 mil sacas de café, com 70% da comercialização voltada para o mercado internacional.


O consumidor final, entretanto, não sentirá o repasse de preços de uma vez. Deverá haver, segundo a Abic e o Sindicato da Indústria de Café do Estado de Minas Gerais (Sindicafé), um escalonamento do reajuste. De acordo com o presidente do Sindicafé, Almir Filho, cada indústria fará seu repasse de acordo com a aceitação da marca no mercado. “Não podemos deixar de repassar. Enquanto, nos últimos 15 anos, o café subiu 35%, o custo da produção – embalagens, mão de obra, energia, distribuição etc – subiu 246%”, argumenta.


Almir Filho pretende repassar, no início de julho, algo em torno de 10% a 15% de aumento para as marcas que detém – Toco, Minas Rio e Apolo – variando conforme a marca, que se diferenciam conforme o tipo de café. “Há 1.200 substâncias que são adicionadas ao café. É uma bebida tão complexa quanto o vinho”, detalha, lembrando que, no final de julho e início de agosto, será praticado o restante do aumento, até alcançar a média 24%.


Já o diretor do Café Fino Grão, Bruno Tavares, que tem 70% de sua produção voltada para o mercado externo, informa que a empresa também irá repassar o aumento em duas vezes, metade em julho e metade em agosto. “Mas não repassaremos integralmente os 25%, porque o mercado consumidor não assimila. Deve haver nova alta de preços do café em outubro, época do final da safra. Para o produtor, é um bom momento, é uma valorização histórica”, conclui.

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.