fonte: Cepea

Tradição inspira produtores de ca­fé

Por: 15/08/2009 - Folha de Londrina

Raquel de Carvalho


17/08/2009 – O apego à tradição familiar é o que leva pequenos
produtores da região de Lerroville, distrito na região sul de Londrina, a manter
centenas de pés de café em suas propriedades. Eles afirmam que enfrentam grandes
dificuldades ao comercializar o produto com as torrefadoras. O valor da saca, em
torno de R$ 220,00, não lhes garante o ganho necessário.


O produtor Oscar Takashi, que cultiva um total de 22 alqueires junto com a
família, calcula que cada saca tem um custo entre R$ 180,00 a R$ 190,00. “”Na
hora de vender ficamos à mercê da torrefadora”, afirma. Segundo Takashi, os
compradores usam uma série de argumentos para desqualificar o produto. “Quando o
dólar sobe, eles dizem que a bolsa de mercadorias caiu e vice-versa. Nunca o
mercado está a nosso favor”, critica. Este ano, a justificativa é a chuva. “Eles
(compradores) nem avaliam o café; dizem que o café é “chuvado” e já colocam o
preço lá embaixo”, queixa-se.


“O ganho fica com o intermediário porque o consumidor acaba pagando um preço
alto”, avalia. Do outro lado, os produtores relatam a pressão dos custos. Mauro
Vieira da Silva, que cultiva 4 alqueires, cita a escassez de mão de obra, que
cobra um valor muito acima do correspondente ao valor da venda.


Segundo o produtor, os trabalhadores exigem atualmente R$ 7,00 por quilo de
café colhido, que não passaria de R$ 3,50 se o trabalho fosse remunerado de
acordo com o valor recebido pela saca. “Se a gente for pagar menos, simplesmente
não encontra ninguém para trabalhar”, afirma.


Com as dificuldades, os produtores optam por trabalhar sozinhos e contratar
mão de obra somente na colheita. “Eu e minha mulher é que damos conta do
recado”, diz José Ramos de Nadai, que tem 5 alqueires. Em 2008, ano de safra
cheia, Nadai colheu 600 sacas de café em coco. “Agora, não tenho produção, só
cata”, afirma.


A cafeicultura faz parte da história das famílias Takashi, Silva e Nadai.
“Fui criado com o café, tenho amor por ele”, declara Takashi. “Criei meus filhos
na propriedade, eles foram ensinados a cultivar e até fazer mudas. Não vou abri
mão disso”, afirma Nadai.


Mauro Silva tem o mesmo sentimento. Ele chegou a tentar a vida na cidade, mas
a tradição de agricultor o fez retornar. Porém, Silva sabe o que representa
financeiramente esta opção. Segundo ele, se tivesse na zona urbana atuando como
cobrador de ônibus, atualmente teria um salário de aproximadamente R$ 720,00.
“Minha renda aqui não chega à metade disso”, calcula.


As propostas que vêm sendo aventadas para a solução dos problemas do setor
não atingem os produtores de Lerroville. “Ouvimos falar em leilões do governo
federal que iriam pagar cerca de R$ 300,00 a saca. Mas não temos condições de
oferecer o produto que querem”, diz Takashi.


Segundo ele, os custos para a produção do café para os leilões não compensa.
O produto tem que ser padronizado, a sacaria deve ser especial e o produtor
ainda gasta para levar o café até os armazéns. “A gente teria que vender pelo
menos 100 sacas e para atingir o padrão, precisaríamos de 200 sacas. Isto é
completamente inviável”, diz Silva.

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