São Paulo, 24 de Maio de 2006 – Numa iniciativa semelhante à adotada pelas vinícolas, a indústria do café decidiu ensinar o consumidor a diferenciar uma boa de uma má bebida e com isso, agregar valor ao produto e, além disso, ampliar as vendas. Por meio da impressão de selos nas embalagens de café torrado, o fabricante especifica se seu produto é Gourmet, Tradicional ou Superior. A segmentação da produção foi a estratégia adotada para informar o consumidor doméstico sobre o padrão de qualidade, a principal justificativa para o preço que cobra pelo produto.
Por um Gourmet, o consumidor poderá pagar R$ 31 em média pelo quilo do café. Valor maior que dobro de um Superior e três vezes maior que um café Tradicional. O investimento elevado se justifica pela alta qualidade da bebida, garante o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Nathan Herszkowicz. A compensação se dá pelo aroma da bebida, que é encorpada, suave e o seu sabor pode ser considerado intenso. A bebida dos cafés Gourmet é classificada como mole. São produtos raros, exclusivos e de elevada qualidade, segundo informa a indústria.
O café denominado como Superior tem quase todas as qualidade do Gourmet, mas, ao ser degustado por provadores profissionais, recebeu uma nota um pouco mais baixa. A classificação adotada pela Abic para segmentar sua produção foi de notas que vão de zero a dez. O café Gourmet, para ser qualificado como tal, deverá receber nota superior a 7,3. O produto superior deve merecer uma nota entre 6 e 7,3 e o Tradicional, o mais comum no mercado, deve receber nota entre 4,5 e 6. Abaixo de 4,5, segundo os fabricantes, a qualidade do produto não é recomendável.
A reeducação do paladar do consumidor vai ser promovida por meio de intensa campanha, que deverá absorver recursos do Funcafé. A Abic não informou o valor dos investimentos. A indústria do café acredita que a nova estratégia deverá ajudá-la a ampliar as vendas do produto torrado e moído no mercado interno para 21 milhões de sacas até 2010. No ano passado, as vendas chegaram a 15 milhões, mais que o dobro do volume consumido no Brasil em 1989, quando foi lançado o selo pureza, informou o presidente da Abic, Guivan Bueno.
Sem impurezas
A intenção, naquela época, era de assegurar a boa qualidade do produto e com isso, oferecer uma boa bebida para que o brasileiro pudesse consumir mais café. Nos anos 80, o consumo de café no Brasil era de 6,8 milhões de sacas e o produto comercializado no País era sofrível, lembra Dagmar Cupaiolo, também diretor da Abic. “Não havia condições de assegurar a bebida, porque toda a matéria-prima era vendida pelo extinto Instituto Brasileiro do Café. A indústria só podia garantir que o consumidor bebia exclusivamente café e que não estava misturado a impurezas.
Hoje, indústria e cafeicultores trabalham de forma integrada, o que lhes permite ter acesso respectivamente ao produto de boa qualidade e ao mercado. Cerca de 7% da produção nacional de café é de Gourmet. Herszkowicz calcula que outros 20% sejam compostos por café do tipo superior.
Fonte: Gazeta Mercantil