Torrefação: Guerra dos cafés

1 de dezembro de 2006 | Sem comentários Consumo Torrefação
Por: A Tribuna - Baixada Santista

 


Da Reportagem




VÂNIA LÚCIA AUGUSTO e MARCELO EDUARDO DOS SANTOS

  A indústria torrefadora de Santos está frente a um desafio — sobreviver à expansão dos grandes grupos e ao constante aumento do preço do café. E para resistir e até partir para novos horizontes, a receita dos empresários do setor tem sido uma só: diversificar o mix de produtos. O resultado desta estratégia são investimentos pesados nos segmentos de premiados, gourmets, orgânicos e aromatizados que, junto ao produto tradicional, ganham cada vez mais espaço no mercado.

  A perda de lucro das torrefadoras ao longo do Plano Real, a concentração do mercado e as imposições do varejo têm sido os vilões da indústria cafeeira. A estratégia para driblar as dificuldades — praticamente as mesmas que nos últimos anos transformaram radicalmente a estrutura dos setores bancário e de chocolates e sucos — é buscar reposicionamento no mercado, descobrindo nichos para recuperar prejuízos. No caso específico do café, a saída é investir na produção de gourmets.

  Em Santos, três empresas que estão há pelo menos meio século no mercado — cafés Floresta, Menezes e Dias — apostam na diversificação para fazer frente à concorrência predatória das gigantes do setor — pela ordem Sara Lee (americana), Santa Clara (joint-venture com a multinacional israelense Straus Elite), Maratá (Rio Grande do Norte), Melitta (alemã), Damasco (Paraná), Mitsui e Cacique (ambas de São Paulo).

  Com cerca de 100 funcionários, produção mensal da ordem de 150 toneladas — 10% deste total destinadas à produção das linhas gourmets — o Café Floresta investiu R$ 5 milhões nos últimos dois anos e meio e mantém sua bandeira em 160 cafeterias espalhadas por Santos, São Paulo, Minas Gerais, Tocantins e Recife. A direção da empresa entendeu que a palavra de ordem do momento é diversificação. ‘‘O segmento enfrenta a pior crise dos últimos anos, mas tem que se reinventar para manter participação no mercado’’, afirma Paulo Fernandes, diretor da empresa.

Disputa acirrada

  A disputa entre as grandes empresas é acirrada. O grupo Sara Lee adquiriu as marcas Pilão, Ponto, Seleto e Caboclo. A Santa Clara, rede do Nordeste do País, associada à Straus Elite adquiriu a marca Três Corações. Um dos objetivos da aquisição é ingressar no disputado mercado do Sul e Sudeste do País.

  Na briga por defesa e participação no mercado, a reação foi imediata. A Sara Lee iniciou um processo de redução de preços que as indústrias de menor porte não conseguem acompanhar. ‘‘O setor está desarticulado, a maioria das empresas trabalha com prejuízos acumulados’’, afirma Fernandes.

  Há dois meses o preço da commodity vem subindo. Hoje a saca de 60 quilos está cotada na faixa de R$ 240,00 a R$ 250,00, contra menos de R$ 200,00 do início do semestre. Se o preço não é remunerador, os investimentos se tornam inviáveis e, em consequência, o parque fabril fica ultrapassado. Outro problema é a carga tributária elevada. Apenas o pagamento de PIS, Cofins e ICMS consome 16% da receita da empresas, fora os demais impostos.

Ao ataque

  Identificados os obstáculos, a indústria Café Floresta partiu para o ataque: investiu fortemente em equipamentos — cerca de R$ 2,5 milhões exclusivamente no parque industrial, com a aquisição de máquinas alemãs e equipamentos produzidos com componentes italianos.

  O setor de empacotamento também recebeu atenção especial, com a compra de maquinários para embalar cafés de alto vácuo, exigência crescente do varejo. ‘‘É uma tendência de mercado, os varejistas querem um produto com prazo de validade maior e cuja embalagem não rompa com facilidade nas gôndolas’’, conta o também diretor do Café Floresta, Auro Sato. A empresa investia R$ 50 mil por mês em embalagens.

  Agora, elevou este custo para R$ 65 mil, por conta da embalagem para café de alto vácuo (que pesa 18 gramas), mais cara do que a tradicional (8 gramas de peso). Por mês, o consumo do produto chega a duas toneladas.

  Ciente de que diversificar é a palavra-chave deste mercado, e embalado por pesquisas que mostram o crescimento do segmento de especiais, o Floresta lança hoje três produtos na linha de aromatizados. São cafés com aroma e sabor que remetem a trufas de chocolate, amêndoas torradas e baunilha com nozes.

  Após arrematar um lote de grãos especiais do 5º Concurso de Melhores Cafés de São Paulo, cujo encerramento ocorreu em Santos, há cerca de 15 dias, o Floresta também lança hoje o novo café no mercado, com o selo de produto premiado.

  Mas a aposta na diversificação não se restringe à linha de especiais. Focando em um público de menor poder aquisitivo, a empresa lançou há um ano o café Fazenda do Sol. Além disso, mantém central de distribuição, depósito e escritório na Capital, conseguindo assim colocar seu mix de produtos em vários estados.

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