Aumento de custos de produção é um dos principais fatores levantados pelo setor
A estiagem prolongada e atípica, registrada no início deste ano, vai afetar algumas culturas agrícolas que terão quebra de safra e de produção, alertaram especialistas durante as comemorações dos 117 anos da Sociedade Nacional de Agricultura, no Rio de Janeiro. O presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, João Sampaio, disse que esse é o caso da cana-de-açúcar, café, laranja. “Mesmo a soja, que ainda está indo muito bem no Mato Grosso,vai quebrar um pouco nos estados onde a estiagem foi mais forte, como Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais”.
A expectativa, explicou Sampaio, é que a chuva se torne regular a partir de agora e minimize os estragos. “Se a chuva não vier, pode ter um impacto grande na segunda safra de milho, porque, sem chuva, não se planta”. O presidente do Cosag-Fiesp não acredita, entretanto, que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio venha a ser afetado. O que normalmente ocorre,quando há quebra de safra, disse ele, é que os preços sobem e a receita bruta do agronegócio pode não ser impactada. “ Mas, com certeza, afeta a renda do setor, porque, produzindo menos, mesmo que o preço seja maior,você tem um impacto nos custos”.
O presidente da SNA, Antonio Alvarenga, se mostrou mais otimista. Ele acha que a estiagem comprometeu pouco a safra de grãos. “Poderia ser um pouco melhor, mas não chegou a comprometer”. No caso de culturas como café, ele achaque essa perda é muito limitada ainda. A entidade trabalha com a perspectiva de crescimento de 3,5% a 4% no PIB da agricultura brasileira este ano, superando o PIB do país, que ele estima ficar em torno de 2%. “A gente tem uma vantagem no agronegócio, porque, possivelmente, neste ano o dólar vai ficar bastante mais alto que o dólar médio do ano passado.
Haverá crescimento na renda dos produtores também em função do dólar”. O diretor técnico da SNA, Hélio Sirimarco, destacou que a possibilidade de redução, em torno de 2 milhões de toneladas na safra de soja, ocorrerá mais em função da queda de produtividade. Mas admite que a estiagem também afetou a produção de milho da primeira safra, e que a segunda safra também deve ser menor, “mas, por enquanto, nada sério”, disse. As culturas que estão sofrendo mais são café e laranja.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que dependendo das culturas que forem afetadas pela falta de chuvas, isso pode contribuir para elevar os preços no mercado internacional, que estão muito baixos atualmente. Castro ponderou que a tendência de elevação do dólar pode ajudar o produtor, ou o exportador, em termos de receita, “mas não o país, em termos de divisas”.
Também para a agricultura fluminense a estiagem já provocou os primeiros prejuízos em produtos típicos dessa época do ano, de acordo com o secretário estadual de Agricultura do Rio de Janeiro, Christino Áureo. “São produtos cuja colheita ocorre no verão, mas não são maioria. É o caso das hortaliças e do leite”, ponderou. A safra de leite preocupa um pouco mais o secretário, devido ao aumento de custo da produção.
Sobre verduras e legumes, ele disse que não há, ainda, um levantamento preciso sobre prejuízos, mas espera que não haja grandes alterações. Segundo ele, a estiagem atípica também atrasou um pouco a renovação da lavoura de cana-de-açúcar que, tradicionalmente, se dá em janeiro, e avaliou que os produtores vão esperar ainda o mês de março para proceder ao plantio. ABr