Equipe da Embrapa Arroz e Feijão faz ensaios com café, arroz, feijão e milho. Meta é mostrar a viabilidade do processo
A primeira safra de café orgânico do cultivo experimental que os pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão estão conduzindo na sede da estação em Santo Antônio de Goiás vai ser colhida no final de maio. O plantio das mudas ocorreu em abril de 2004, em sistema de irrigação por gotejamento, e os resultados são animadores, segundo o pesquisador José Aloísio Alves Moreira, coordenaor da equipe muldisciplinar envolvida no projeto de orgânicos, que inclui também experimentos com milho, arroz e feijão.
Em todos as culturas, o objetivo é avaliar os processos de produção orgânica e disponibilizar tecnologias para os produtores interessados. Segundo José Aloísio, já é possível mostrar como deve ser a condução das lavouras. No caso do milho, a ênfase é para o produto verde, cujos resultados econômicos são muito mais atraentes do que para grão. Quanto ao café, os dados de rendimento ainda serão avaliados a partir da realização dessa primeira colheita.
Por se tratar de agricultura orgânica, não se usa nos experimentos nenhum tipo de defensivo químico. A adubação, assim como o combate a pragas e doenças, é feita por processos naturais. José Aloísio explica que o início da produção orgânica pressupõe a escolha de um terreno que já esteja razoavelmente estruturado. Mas pode-se partir também de solos mais fracos, desde que usadas técnicas necessárias, a começar pela correção da acidez.
Nos ensaios conduzidos na Embrapa, o nitrogênio é fornecido exclusivamente pelo uso de leguminosas como mucuna, crotalária, guandu e feijão caupi, que têm capacidade de fixá-lo no solo. Elas são plantadas no início do período chuvoso. Depois de três meses, em média, estão prontas para corte e incorporação ao terreno ou para colocação como cobertura sobre o solo que, com a ação das bactérias do gênero Rizobium, vão liberando matéria-orgânica rica em nitrogênio para a cultura seguinte (milho, arroz e feijão).
No caso do café, as adubações são feitas ao longo do ano com manejo correto da leguminosa, em geral cortadas na fase de floração e espalhadas ao longo das leiras. Em pouco tempo, pela ação das bactérias, a matéria-seca será incorporada ao solo, oferecendo nutrientes para as plantas. No primeiro ano foi usada a mucuna e no segundo, a crotalária.
Quanto ao fósforo, os pesquisadores usam fosfato natural ou fosfato de rocha, que é permitido para a agricultura orgânica. Para o plantio do café, os melhoristas utilizaram esterco aviário para fornecimento de matéria orgânica. Já o potássio pode ser adicionado com uso de cinza, produto também natural. Nas culturas anuais (milho, arroz e feijão), os técnicos avaliam o plantio direto na palha e o plantio convencional.
Pragas e doenças
O controle de pragas e doenças é feito com agentes biológicos e com produtos não-agressivos. Para o milho, utiliza-se a vespinha Tricograma, que parasita os ovos da lagarta do cartucho (principal praga). Existem empresas que comercializam o ovo produzido em laboratório e aplicado na lavoura onde eclode e se transformam em vespinhas. Como o cultivo é orgânico, outro inseto – a tesourinha – é preservada e age predando a lagarta da espiga.
Já no café houve ocorrência pouco significativa do bicho mineiro. Para prevenção de doenças fúngicas, os pesquisadores usaram calda bordalesa e calda viçosa (que é a bordalesa com adição de micronutrientes). Quanto ao arroz, a principal doenças é a brusone, mas não houve ocorrência nos experimentos da Embrapa. De acordo com José Aloísio, em plantios orgânicos em geral ocorrem menos ataques de pragas e doenças.