30/06/2010 20:06:34 – Clube Sat
Modernizar a agricultura familiar no Piauí, criando condições para que o pequeno lavrador possa aumentar sua produção, tem sido um dos grandes desafios que o governo vem conseguindo vencer nos últimos anos, graças a ações que, aliadas ao crédito fácil, estão levando mais tecnologia ao campo.
Entre essas ações, destaque para a reestruturação do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), a distribuição de sementes selecionadas na época certa e, por último, a distribuição com pequenas comunidades de patrulhas agrícolas equipadas com tratores pelo Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR), Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Na prática, os agricultores familiares estão aposentando os velhos, lentos e dispendiosos arados de tração animal e trocando suas enxadas por equipamentos modernos e muito mais eficientes.
A agricultura familiar, apesar do trabalho ainda artesanal, é a principal responsável pela segurança alimentar do Brasil, garantindo, por exemplo, 67% da produção nacional de feijão e 31% da produção de arroz. É lá também que estão 77% das pessoas que trabalham na agricultura. Mesmo com todo esse contingente, a falta de equipamentos modernos faz com que a produção seja bem inferior à obtida em áreas mecanizadas. Estudos mais recentes revelam que uma mesma área poderá produzir quatro vezes mais se tratada com assistência técnica e empregado o uso de tecnologia, como a substituição das queimadas pela correção do solo.
“Só assim vou aposentar meu burro Raul”, diz, com um sorriso estampado no rosto, o agricultor Junielson Sousa e Silva, 30 anos, presidente da Associação de Pequenos Produtores Rurais do Assentamento Mucambo, a 10 quilômetros da cidade de Ipiranga do Piauí, ao receber as chaves de um trator zero quilômetro, acompanhado de discos, batedeira de cereais e carreta. “Sinha”, como é conhecido na comunidade, explica que Raul é o arisco animal que usa para puxar seu arado manual e que chega a precisar de quatro dias para arar três hectares de terra. “Com o trator não vou gastar mais de duas horas para ter esta mesma área pronta para o plantio. Esse trator é muito importante, caiu do céu”.
O trator que “Sinha” recebeu não vai servir só para ele. Vai atender a todos os associados – e também aos não associados – das comunidades Mucambo, Tabocas, Ponta D’água, Taboquinha e Fava Preta. O associado vai pagar apenas R$ 40 por uma hora de trator, a metade do que teria de pagar se fosse contratar de um particular. “Tô convidando todo mundo para se associar, para que a gente possa baixar ainda mais o preço, já que o não associado vai ter que pagar um pouco mais”.
A patrulha agrícola também deu vida nova ao maranhense José Clementino Barbosa Rego, que há 59 anos mora na localidade Caldeirão do Saco, a 22 quilômetros da cidade de Inhuma. Viúvo e pai de seis filhos, Clementino é dono de cerca de 500 hectares de terra, mas só utiliza uma pequena parte na agricultura. Ele explica que com a hora de trator custando R$ 75, não pode pagar mais do que 12 horas a cada plantio. “Sai muito caro e não tenho condições de arar e plantar em toda a propriedade. Com o trator da associação, vai melhorar muito porque a gente só paga mesmo o combustível e vai poder usar mais horas por um preço bem mais barato.”.
Com o trator doado pelo Governo à Associação de Moradores de Caldeirão do Saco, José Clementino acredita que agora vai poder arar uma área de terra bem maior, plantar mais e aumentar sua renda. “Aqui a gente colhe pouco, porque não tem meios para melhorar a terra, mas agora a coisa vai mudar, graças à ajuda que estamos recebendo”. Mesmo com o inverno de poucas e irregulares chuvas, ele não perde as esperanças. “Com toda essa ajuda do governo, se chover só um pouquinho mais a gente já vai conseguir uma boa safra, principalmente de milho e feijão”.
Para a presidente da associação, Risoleide Maria de Carvalho, 49 anos, a importância do trator para a comunidade é muito grande. “Ele não apenas ara a terra, mas também serve para transportar a produção da roça para casa, porque vem equipado com uma carroceria. E o transporte é de graça”. Risoleide, que planta feijão, milho e mandioca numa área de 49 hectares, diz que desde o dia da chegada dos equipamentos as pessoas estão procurando a associação para agendar a aração das terras.
O associado, segundo a presidente, tem prioridade no atendimento e vai pagar praticamente só as despesas com combustível e tratorista, porque a associação ainda não dispõe de recursos suficientes para bancar todos os custos. Mas quem não é sócio também será atendido, só que pagando um preço maior pela hora de trator. “Vamos ter condições de atender aos nossos associados e também a todos os agricultores da região de Caldeirão do Saco”, garante.
Na localidade Lagoa do Boi, a 10 quilômetros da cidade de Paes Landim, a vida dos agricultores também já começa a mudar. Dos R$ 130 que costumavam pagar por uma hora de trator, eles agora pagam apenas R$ 35 e o atendimento é imediato e de qualidade. A queda acentuada no valor aconteceu com a chegada da patrulha agrícola da Associação de Produtores Rurais de Lagoa do Boi.
“Antes da chegada do nosso trator o preço era este mesmo e ainda por cima era uma dificuldade danada para a gente conseguir um”, conta o presidente da entidade, Raimundo Moura, 45 anos e cinco filhos. “A procura é boa, pois desde o final do ano passado até fevereiro deste ano já atendemos a 32 agricultores, entre sócios e não sócios. Uma pena que o inverno seja fraco”. Adianta que no passado a maioria dos agricultores usava mesmo era o arado de tração animal, porque não tinham condições de contratar um trator de particular para arar as terras. “O preço alto já deixava os pobres de fora. Os poucos que podiam pagar ainda tinham que ficar esperando um tempão para encontrar um trator e fazer o serviço. Agora, não, pediu, o trator tá lá, e bem baratinho”.
Por conta do preço alto cobrado por uma hora de trator, a associação mantinha em Lagoa do Boi a égua Valquíria e um potro, além de dois arados para atender aos sócios. Segundo Raimundo Moura, era um trabalho demorado e que não surtia o mesmo efeito do serviço feito por trator com grades. “A égua e o potro agora estão de férias, porque até o transporte da colheita é feita no trator. “Temos todas as condições para produzir mais, ganhar mais um dinheirinho e melhorar a vida na roça”.
Orgulhoso, conta também que a doação da patrulha agrícola não é a única ação do governo em Lagoa do Boi. Ao todo são 12 projetos, que vão desde o apoio à apicultura, projetos de caprinocultura, perfuração de poços e energia.
Na localidade Peixe, na zona rural do município de Campinas do Piauí, o agricultor Francisco José da Silva, 41 anos, é um exemplo de trabalhador beneficiado pelas patrulhas agrícolas. Morador da comunidade Mocó, onde possui 50 hectares de terra e onde usava um boi para puxar arado, ele recorreu ao trator da Associação de Pequenos Produtores Rurais das Localidades Peixe e Juá para arar sua roça e conta que foi atendido na hora, pagando R$ 70 pela hora do trator. “Foi bom demais. A gente pagava até cem reais por uma hora com o trator dos outros”, conta, satisfeito da vida, prometendo se associar logo para pagar apenas a metade do preço no futuro.
Frutuoso Elesbão da Cruz, um agricultor de 82 anos de idade, mas que faz questão de manter sua jornada diária de trabalho na roça, onde planta arroz e milho, foi outro que este ano gastou bem menos para preparar sua terra. “Moço, eu chegava a pagar cento e vinte reais por uma hora de trator dos outros, mas este ano só paguei setenta e dois reais, porque usei o trator da associação”, comemora. Ele tem certeza de que, assim, vai poder produzir muito mais e melhorar a qualidade de vida. “Não preciso de mais terra, não. Com este mesmo pedacinho vou colher muito mais, com fé em Deus”. Mesmo aos 82 anos, “Seu” Frutuoso não pensa em aposentadoria. “Vou continuar trabalhando na roça todos os dias. Pra mim, trabalho é vida”, diz, sentado numa cadeira de ferro, no terraço de sua casa, humilde como o próprio dono.
O presidente da associação, Aurino Bispo da Cruz, 50 anos, dois filhos, reconhece: “Melhorou muita coisa, melhorou muito mesmo. Em três meses já atendemos a mais de 30 pessoas e tá todo mundo muito satisfeito”. A associação da qual Aurino é presidente possui apenas 27 sócios, mas ele acredita que em pouco tempo este número será dez vezes maior. “O trator mais barato vai trazer todo mundo para a associação e o preço vai cair muito”.
No assentamento Barreirinho, no município de Brejo do Piauí, na região de Canto do Buriti, a festa é ainda maior. Lá, os sócios da Associação de Desenvolvimento dos Pequenos Produtores Rurais de Barreirinho pagam apenas R$ 21 pela hora de trator. “Isto não existe em lugar nenhum”, garante o presidente da entidade, Josileide Vieira de Sousa, o Lelê, 37 anos, que recebeu a patrulha agrícola do PCPR no final de 2009. “Com o burro puxando o arado, a gente levava mais de um dia para arar uma tarefa de roça. Com o trator, em um dia a gente chega a fazer trinta e cinco tarefas, sem contar que o esforço físico é bem menor”.
Com 31 famílias e cerca de 150 pessoas, o assentamento Barreirinho tem no milho a sua principal cultura. Quando o inverno é bom, um hectare chega a produzir 1,8 mil quilos de milho, produção bem distante das oito toneladas por hectare que o agricultor pode alcançar com o emprego da tecnologia que hoje começa a chegar aos campos do Piauí. “A coisa tá mudando no campo, vamos produzir muito mais”, garante o agricultor José Ferreira de Andrade.
A Agricultura Familiar no Brasil
A agricultura familiar é a principal responsável pela segurança alimentar do Brasil. É responsável por 67% da produção nacional de feijão, 97% do fumo, 84% da mandioca, 31% do arroz, 49% do milho, 52% do leite, 59% de suínos, 40% de aves e ovos, 25% do café e 32% da soja; e ocupa 30,5% da área total dos estabelecimentos rurais, produz 38% do Valor Bruto da Produção (VBP) nacional e ocupa 77% do total de pessoas que trabalham na agricultura. Além disso, a agricultura familiar é considerada o principal agente propulsor do desenvolvimento comercial e, consequentemente, dos serviços nas pequenas e médias cidades do interior do país. Quando ampliada, viabilizada e fortalecida, a agricultura familiar tem capacidade de aquecer a economia dessas cidades pela base.
As ações realizadas através do Programa de Agricultura Familiar nos estados brasileiros indicam que aproximadamente 85% do total de propriedades rurais do país pertencem a grupos familiares. São 13,8 milhões de pessoas que têm na atividade agrícola praticamente sua única alternativa de vida em cerca de 4,1 milhões de estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77% da população ocupada na agricultura.
Os resultados indicam ainda que cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira vêm desse tipo de produção rural e quase 40%, do Valor Bruto da Produção Agropecuária são produzidos por agricultores familiares. Cerca de 70% do feijão consumido pelo Brasil – alimento básico do prato da população brasileira – vêm desse tipo de produção rural e quase 40% do Valor Bruto da Produção Agropecuária são produzidos por agricultores familiares. Produz também 84% da mandioca, 5,8% da produção de suínos, 54% da bovinocultura de leite, 49% do milho e 40% de aves e ovos.
A Agricultura Familiar no Piauí
De 2008 a 2009, o Governo do Piauí assistiu a 105 mil agricultores familiares em todo o Estado. Depois da lei 11.326, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, o homem do campo passou a ter acesso às políticas públicas e assistência específica e o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí (Emater) passou a oferecer atividades de capacitação, com cursos, palestras e feiras, através de vários projetos e programas. O trabalho faz parte do foco principal das ações, visando ao desenvolvimento e agregação de valor à agricultura familiar, responsável por cerca de 50% dos produtos consumidos pela população piauiense.
Para o diretor do Emater, Adalberto Nascimento Filho, a agricultura familiar é aquela em que os produtos obtidos resultam do trabalho dos próprios agricultores. A produção é feita na área em que o agricultor detém e juntamente com os membros de sua família administra e coordena todo o processo de plantio, colheita, consumo e comercialização do excedente. Segundo ele, a assistência técnica é de fundamental importância em todo esse processo produtivo, e o Emater se insere nesse trabalho através de ações participativas, a partir da educação voltada para a geração de renda no campo, repercutindo na melhoria da qualidade de vida daqueles que se enquadram no perfil de agricultor familiar.