CIDADES
30/11/2009
Taquaritinga cultiva raridade
Arábica típica, espécie cujo cultivo é precioso no mundo, atrai compradores de vários países
Myllena Valença
mvalenca@jc.com.br
Maior produtora de café orgânico do Agreste, Taquaritinga do Norte esconde uma raridade em meio à sua produção agrícola: a arábica típica, primeira planta cafeeira a ser introduzida no Brasil, em 1727. O cultivo dessa espécie é precioso no mundo. No Brasil, pode ser encontrado apenas nesta cidade do Agreste pernambucano e na região do Maciço de Baturité, no Sertão cearense. Adaptável apenas a regiões de altitude elevada e clima ameno, o arábica possui sabor adocicado e perfume forte, características que têm atraído a Taquaritinga compradores dos EUA, Japão, Suíça, Alemanha e outras partes do mundo.
O plantio do café arábica se dá na sombra, sob árvores frutíferas e pés de Ipê e Pau-Brasil. Por ser sombreado, o fruto precisa de mais tempo para maturar do que outras espécies. Isso garante ao café um sabor mais doce do que o normal. Além disso, ele tem, naturalmente, menos cafeína. “Temos na cidade um café muito difícil de ser encontrado. Podemos dizer que cultivamos uma grife da cafeicultura”, disse o secretário municipal de Agricultura, Michelson Arnóbio, destacando que o clima de Taquaritinga contribui para a qualidade do café. A temperatura média é de 33º, no verão, e de 9º, no inverno. A altitude passa dos 900 metros.
Existem hoje 480 produtores na cidade, que para essa cultura utilizam 2,3 mil hectares de terras. A produção anual é de oito a dez sacas de café por hectare. Dos cultivadores, 80% são especialistas em plantação orgânica, ou seja, sem uso de adubos químicos. Michelson diz que, entre todas as propriedades que cultivam o arábica – a maioria através de agricultura familiar – apenas 18 conseguiram certificação específica para orgânicos, exigência no processo de exportação.
“O valor do certificado (em média R$ 2 mil) ainda custa caro para grande parte dos agricultores, porque a cada safra é preciso renová-lo e pagar mais taxas”, frisou o secretário, garantindo que em 2010 vai procurar órgãos públicos que ofereçam o documento gratuitamente. Em um ano pretendem ter, no mínimo, 100 exportadores no município.
Até lá, a Associação dos Produtores Orgânicos de Taquaritinga do Norte (Aprotaq) terá melhorado o produto de seus associados, segundo o presidente da entidade, Júlio César Pontes. “Com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) vai iniciar um projeto de assistência e orientação técnica, montando na cidade uma espécie de laboratório na universidade, já no próximo ano. Isso nos fará alcançar um mercado consumidor maior”, destaca.
Hoje a exportação do café depende de uma empresa do Rio de Janeiro. “Deixamos de ter o atravessador regional para ter um internacional. Par mudar isso, nossa meta é ganhar autonomia de negócio, seja através de comércio justo e solidário, promovido por ONGs, ou da montagem de uma agroindústria, com o apoio do Programa Estadual de Apoio ao Pequeno Produtor Rural, o ProRural”, planeja Pontes.
Enquanto isso, o escritório do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) oferece assistência técnica, coleta e análise de solo para a plantação e incentiva práticas agrícolas sem uso de adubos químicos. Evandro Bezerra, agente de extensão do IPA, diz que, para melhorar a qualidade do café é preciso organização no espaço de tempo entre plantio e colheita e mão de obra qualificada. “Em Taquaritinga sobra emprego para quem quer viver no meio rural.”
Profissionalismo na produção
Uma média de duas mil sacas é a safra anual em Taquaritinga do Norte. Enquanto o grão tipo exportação pode ter entre nove e 23 defeitos, o que cultiva Tatiana Peebles, produtora de café especial, tem de zero a cinco distorções somente. “Para as vendas nos Estados Unidos e Japão selecionamos os grãos maiores, inteiros e sem a presença de qualquer fragmento. O restante é vendido no mercado doméstico, em Pernambuco. O que tiver baixa qualidade nem chega a ser comercializado”, destacou.
Para obter tal seleção, Tatiana estruturou uma fazenda onde cria caprinos e suínos, só para utilizar o esterco animal como adubo, junto às cascas da semente de café. Ela plantou mais de 20,3 mil mudas do arábica em sua propriedade, para não ter que comprar de terceiros. “Além desses cuidados, todo o manejo e colheita são manuais, para evitar desgastes ou avarias no produto final. Tudo influencia no sabor e conta pontos no valor da saca”, explica.
Recentemente, a produtora importou a primeira máquina de torrefação de café do País, investimento que faz a diferença na negociação. A saca do grão especial é vendida entre R$ 400 e R$ 900. A comum custa de R$ 380 a R$ 420. “Sabemos que Taquaritinga nunca vai produzir em grandes quantidades, porque nosso diferencial é a qualidade do café”, garante.
E é dessa qualidade que se orgulha o agricultor Manuel Gomes Silva, que já foi convidado para representar o café de Taquaritinga numa importante feira alemã. “Já participei de eventos nacionais e internacionais e não tenho dúvida: temos aqui um dos melhores cafés do mundo”, defende Silva.