PRODUTOS & MERCADOS
04/09/2008
Ameaça ou oportunidade?
A sustentabilidade é um dos maiores desafios do agronegócio brasileiro na obtenção de certificados internacionais, que atestam o respeito à sociedade e as ações em prol do meio ambiente
Manter a atividade agrícola de maneira sustentável no Brasil pode ser mais complicado do que parece. De acordo com Evaristo Eduardo de Miranda, chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, sob o ponto de vista legal, o agronegócio brasileiro caminha para uma situação insustentável. Miranda revela que as leis criadas na atual administração federal estão colocando agricultores e pecuaristas na ilegalidade. “Cerca de 70% das terras do Brasil são inviáveis legalmente para atividades produtivas. Na Amazônia, apenas 6% poderiam virar lavoura ou pastagem”, calcula.
O cenário é complicado porque novas áreas de restrição são implantadas em localidades onde já existem produtores há décadas. “Chegou a hora de estabelecer o que pode em termos de uso e ocupação da terra ou continuaremos com essa situação bizarra em que um país do tamanho do Brasil terá falta de espaço para pastagens e lavouras”, disse Evaristo em sua participação no 7° Congresso da ABAG – Associação Brasileira de Agribusiness, realizado em agosto. Para André Nassar, diretorgeral do Icone – Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais, a situação é ainda mais grave quando se olha para o futuro. “A demanda por alimentos vai continuar crescendo e vamos precisar de mais área para cultivo.”
Segundo Nassar, as lavouras, que ocupavam 42 milhões de hectares em 1995, hoje abrangem 77 milhões de hectares, devendo chegara 90 milhões de hectares em 2016. “O crescimento da lavoura pode ser compensado pela estabilidade nas áreas de pastagem. Em 1995, havia 178 milhões de hectares de pasto no Brasil, número que se manteve praticamente estável -172 milhões em 2006”, diz.
Garantir a legalidade da atividade agrícola é fundamental para que o Brasil tenha acesso a uma das ferramentas mais modernas de sustentabilidade, a certificação, que é vista pelo economista Michael Conroy como a melhor forma de as grandes empresas garantirem que estão fazendo negócios respeitando a sociedade e o meio ambiente. Diretor da empresa Colibri Consulting, que atua em certificações e desenvolvimento sustentável, Conroy afirma que as evidências de que um varejista está comprando carne da região amazônica, onde a carne pode estar liga da diretamente à devastação da floresta, proporcionam uma base muito fácil – e muito dramática – para atacar a marca da companhia, diminuindo sua participação no mercado e prejudicando o valor das ações da empresa. Segundo ele, um dos melhores exemplos da atualidade é o Fair Trade Certified (Certificado de Comércio Justo), que garante aos consumidores que os agricultores receberam não apenas um preço mais alto do que receberiam de atravessadores pelo café, mas também um “prêmio social” que contribui para o desenvolvimento econômico de suas comunidades. “A resposta dos consumidores foi tão grande que o Fair Trade Certified é o segmento que mais cresce na indústria de café em todo o mundo”, diz Conroy, acrescentando que um dos casos mais bem-sucedidos do Brasil é o da empresa Café Bom Dia, que detém 13 certificados.
LUCIANA FRANCO