Por Leslie Josephs e Alexandra Wexler | The Wall Street Journal
O mercado de suco de laranja nos Estados Unidos, o maior do do mundo, está sendo espremido por consumidores como a bibliotecária Susan Zenick, de 45 anos. Mãe de três filhos, ela diz que lhes oferece suco de laranja “como um agrado”. O pediatra a advertiu sobre a quantidade de açúcar existente no suco. Agora, ele é “a sobremesa da nossa família”, acrescentou.
A mudança dos gostos do consumidor americano tem sido sentida além das mesas de café da manhã e das prateleiras dos supermercados. No mercado de futuros de suco de laranja, os operadores detinham no início da semana US$ 440,8 milhões em contratos, 60% menos que o registrado em agosto de 2011. Até agora, neste ano, a média diária é de 2.233 contratos, 15% menor que nos últimos dez anos.
Os americanos em geral estão bebendo menos suco de laranja, em especial o suco congelado que é negociado no mercado de futuros. Uma das razões foi a volta à moda da dieta Dr. Atkins, com baixo teor de carboidratos. Também têm influenciado essa queda a maior variedade de bebidas disponíveis nos supermercados, desde o energético Red Bull até águas vitaminadas como a Vitaminwater, da Coca-Cola Co., e novidades como sucos de romã e açaí, diz Ross Colbert, estrategista global de bebidas do Rabobank, em Nova York.
A propagação da citrus greening, praga que asfixia os nutrientes da laranja e faz com que a fruta caia da árvore prematuramente, também reduziu a oferta e elevou os preços.
O Brasil, porém, enfrenta uma tendência oposta. O consumo de concentrado de laranja somou 55.000 toneladas no ano passado, um aumento de 22% em relação a 2003, segundo estudo realizado pela empresa Markestrat. Mas o mercado brasileiro é muito pequeno em relação ao americano, que, de acordo com o mesmo levantamento, consumiu 708.000 toneladas em 2012, 29% menos que em 2003.
O Brasil é o maior produtor e exportador de suco de laranja do mundo e as mudanças de hábito do consumidor dos dois lados do Atlântico estão afetando o setor no país. A Europa, destino de mais de 70% das exportações brasileiras de suco de laranja em 2012, também vem registrando queda no consumo, de 7% só nos últimos dez anos, segundo o estudo da Markestrat. Os EUA representaram só 12% do total exportado pelo Brasil no ano passado.
Em julho, a firma de pesquisa Nielsen Holdings NV revelou que as vendas no varejo de suco de laranja nos EUA caíram para 150 milhões de litros nas quatro semanas encerradas em 6 de julho, o nível mais baixo já registrado, segundo análise dos dados feita pelo The Wall Street Journal.
Os preços caíram 2,8% no dia seguinte à divulgação do relatório, com o contrato para entrega em setembro na bolsa ICE Futures Exchange dos EUA fechando em US$ 1,4025 por libra. Na quarta-feira, o pregão de futuros fechou em US$ 1,3845 por libra, o nível mais baixo em um mês.
“O relatório sobre a demanda foi o último golpe num mercado que já está fraco”, diz James Cordier, presidente da corretora Liberty Trading Group, de Tampa, na Flórida, que negocia futuros de suco de laranja.
Na Flórida, Estado que mais produz laranjas nos EUA, a produção caiu de um pico de 244 milhões de caixas de 41 quilos em 1998, para 133,4 milhões em 2013, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.
O mercado de futuros tem passado por um declínio similar. Havia 20.636 contratos futuros de suco de laranja em aberto na segunda-feira. Durante um dia semelhante em 2008, o número era 52% maior.
O suco de laranja concentrado congelado deve ser derretido e misturado com água antes de ser consumido. Esse tipo de suco, e o suco feito a partir do concentrado antes de chegar aos supermercados, representam 44% do total de suco de laranja vendido no varejo dos EUA. Há dez anos, era de 53%, segundo a Nielsen.
Os futuros do suco, que começaram a ser negociados em 1966, já atraíram mais investidores e processadores. O advento da negociação completamente eletrônica pode ter tido um papel no declínio do mercado, segundo analistas. Entre 2006 a 2008, depois que a negociação de futuros se tornou eletrônica, o volume anual do mercado caiu 23%, segundo dados da bolsa.
E como nos supermercados dos EUA a demanda pela bebida também esfriou, esse é outro obstáculo ao mercado de futuros. A Coca-Cola e a PepsiCo Inc., por exemplo, com forte presença nos mercados de suco de laranja no país, têm reagido à queda nessa demanda lançando produtos feitos com outras frutas.
Sucos de laranja que não são feitos a partir de concentrados também ganharam mais popularidade. Esse suco é visto pelo público como mais saudável e mais fresco porque é pasteurizado, não congelado. A categoria responde por 56% do varejo de suco de laranja nos EUA.
(Colaborou Silvana Mautone.)