AGRONEGÓCIO / 26/03/2008
Roberto Tenório
O risco de recessão nos Estados Unidos e o forte indício de que a safra brasileira de café fique em um patamar de 50 milhões de sacas são os principais responsáveis pela forte volatilidade que atinge os preços da commodity no mercado internacional. Ontem, os contratos para maio recuperaram parte das perdas e fecharam em US$ 132,65 centavos por libra peso na Bolsa de Nova York, alta de 3%. Em Londres, os contratos para maio ficaram em US$ 2.328 por tonelada.
Devido a intensificação da crise americana, especuladores e fundos de investimento passaram a migrar das ações para os contratos futuros das commodities. De acordo com a Safras & Mercado, há dois anos, as posições líquidas de café compradas por esses investidores na Bolsa de Nova York (Nybot) chegavam a 40 mil. Neste ano, os contratos negociados passaram dos 70 mil. Com essa participação, os grandes investidores que atuavam no mercado de ações e tiveram grandes perdas com a crise imobiliária americana no final do ano passado, liquidaram os contratos para reaver parte das perdas.
Para especialistas se não existissem essas atuações, as linhas dos preços seriam mais tênues. Gil Barabach, analista da Safras & Mercado explica que esses especuladores não atuam como hedgers para garantir uma proteção nos ganhos, mas como compradores com grandes recursos financeiros que atuam através de vários contratos ao mesmo tempo para garantir o máximo de lucro. “Mesmo assim, a expectativa é de preços positivos com uma média de US$ 140,00 centavos por libra peso neste ano”, prevê. Para ele, se a crise não atingir China e Índia, os preços das commodities devem permanecer em patamares altos.
Barabach lembra que da mesma maneira que o mercado corrigiu os preços para baixo após a bolha especulativa que levou os preços do grão a US$ 170 centavos por libra peso em fevereiro, deverá acontecer de hoje em diante com preços seguindo uma linha mais firme, após a consolidação. Para ele, a volatilidade não é ruim, pois aumenta em parte os ganhos dos produtores. “O único problema é saber a hora certa para vender”, explica.
Já Reginaldo Rezende, analista de risco da FCStone, acredita que o mercado foi influenciado nos últimos dias pela crise americana, que forçou os investidores realizarem lucros no mercado de commodities para compensar parte das perdas sofridas com a queda das ações. Para ele, as especulações tendem a crescer. “Em 2007, os ganhos com os agrícolas foram muito elevados. E isso com certeza desperta a atenção de grandes investidores”, explica. Com relação à expectativa sobre a safra maior que o previsto ele adota uma postura mais conservadora e diz que espera algo entre 48 e 50 milhões de sacas.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma safra entre 42 e 44 milhões de sacas. Para Jorge Damião, analista da Conab, a previsão é de que a safra fique realmente dentro do previsto e critica as previsões. “Gostaria de saber como funciona a metodologia utilizada”.