O deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR) foi convidado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o Ministério da Agricultura. O cargo era reivindicado pela bancada do PMDB na Câmara para garantir o apoio do partido ao governo no Congresso. O próprio Stephanes informou aos jornalistas ter aceitado o convite e que a posse está marcada para as 10 horas de hoje. O peemedebista toma posse junto com Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais) e Marta Suplicy (Turismo).
“Seriedade e profissionalismo são a marca da minha carreira e vou continuar assim no ministério da Agricultura”, disse Stephanes, que foi ministro da Previdência no governo Fernando Henrique Cardoso, quando era deputado pelo PFL.
Lula não planejava dar posse tão rapidamente a Stephanes, mas decidiu fazê-lo a pedido do presidente do PMDB Michel Temer (SP) e do líder da bancada na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). “Achamos melhor fazer a posse já para encerrar as especulações”, disse Temer ao deixar o Planalto.
Na quinta-feira da semana passada, Lula havia feito sua primeira escolha entre deputados do PMDB para a Agricultura. O indicado naquele dia, Odílio Balbinotti (PR), desistiu do cargo 48 horas depois bombardeado por denúncias divulgadas pelos próprios colegas de partido. Balbinotti responde a processo por falsidade ideológica no Supremo Tribunal Federal.
Mesmo respondendo a uma ação popular na condição de ex-presidente do Banestado, Stephanes disse aos jornalistas que não há risco de também desistir do cargo, como Balbinotti.
Com a confirmação de Stephanes, o PMDB passa a ter cinco ministros. Silas Rondeau (Minas e Energia) e Hélio Costa (Comunicações), da cota da bancada do partido no Senado; Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e Stephanes, da cota da Câmara, e José Gomes Temporão (Saúde), indicação pessoal de Lula.
Ruralistas
Após ser confirmado por Lula, Stephanes disse que a oposição da bancada ruralista da Câmara à sua indicação não lhe trará problemas no cargo. “Não é a primeira vez que exerço função pública. Eu tenho essa disposição de diálogo, entendimento, conversa, de ouvir muito. Não há nenhuma questão restritiva sobre esse aspecto”, afirmou. O presidente do PMDB, Michel Temer (SP), também minimizou as diferenças de estilo entre Stephanes e a bancada.
Lideranças do PMDB se reuniram ontem com os ruralistas na tentativa de aparar arestas em relação ao novo ministro. “Ele vai convidar a bancada ruralista logo nos primeiros dias para tomar café, ouvi-los, vai ter contato com todas as entidades. Hoje mesmo eu falei com vários membros da Comissão de Agricultura dizendo que o ministro me comunicara que ia ouvi-los em relação aos vários temas, com várias entidades ligadas à área rural”, afirmou Temer.
A bancada ruralista na Câmara e setores ligados ao agronegócio tentaram trocar a indicação de Stephanes pelo deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR). A mudança também era defendida pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues e pelo governador Blairo Maggi (PR-MT).
Stephanes disse que vai consultar Rodrigues e o ex-ministro Marcus Vinícius Pratini de Moraes antes de assumir a pasta. Também afirmou que será “ministro do governo federal, e não do Paraná” – numa referência direta à influência de Requião no governo federal. O ministro disse que sua principal marca na pasta será a de “profissionalismo e seriedade”.
Stephanes se comprometeu com o presidente Lula a trabalhar no governo com disposição para o diálogo e entendimento —uma vez que deverá enfrentar temas espinhosos no cargo, como a plantação de transgênicos e invasões de terras.
Ele minimizou o fato de ter sido ministro da Previdência Social no governo do ex-presidente FHC, que faz oposição ao presidente Lula. “Quando fui escolhido para a Previdência, o pessoal protestou porque achou que eu era médico. Aí descobriram que a minha história anterior era área agrícola. Eu acho que até a Previdência, que foi experiência muito grande, foi quase um acidente de percurso. Hoje estou voltando à minha origem que foi no Ministério da Agricultura”, afirmou.
Processo
O novo ministro vai assumir o cargo depois que o deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR) desistiu da pasta em meio a uma enxurrada de acusações sobre processos a que responde na Justiça. Stephanes também é réu em uma ação popular por improbidade administrativa relativa ao período em que ocupou a presidência do Banestado (Banco do Estado do Paraná), mas minimizou o fato.
“Eu só fui citado na ação pelo simples fato que eu era o presidente do Banestado. Os trabalhos foram desenvolvidos pela própria estrutura do banco, eu sequer autorizei isso”, afirmou.
Temer também disse que a ação não prejudica as qualidades de Stephanes no cargo. Segundo o presidente do PMDB, o próprio presidente Lula deixou essa posição clara ao novo ministro. “[Ele] veio indicado pelo PMDB em lista de seis nomes, com passado administrativo extremamente confiável. Tenho certeza que vai trazer bons resultados. Basicamente, foi isso que ele [Lula] disse para o deputado”, afirmou Temer.
É possível que Alfredo Nascimento também assuma amanhã o Ministério dos Transportes. O problema é que o PR ameaça vetar a indicação se o governo criar a Secretaria de Portos para acomodar o PSB. A secretaria, com status de ministério, esvaziaria o poder do Ministério dos Transportes.