26/05/2006
Por Claudia Facchini
A partir de agora, o casal Rodenbeck sairá de casa todas as manhãs para tocar, cada um, o seu próprio negócio. Maria Luisa será a diretora geral no Brasil da rede americana de cafeterias Starbucks. Peter continuará à frente da cadeia americana de restaurantes Outback no mercado brasileiro.
Maria Luisa era diretora financeira da rede, mas deixou a gestão para se dedicar exclusivamente ao Starbucks. A empresária, porém, continua como sócia de seu marido no Outback.
Peter, por sua vez, também será sócio de sua mulher na Starbucks, mas não participará da administração da rede de cafeterias no país. “Na Starbucks, ele será só um investidor, assim como eu serei no Outback”, disse Maria Luisa, em entrevista ao Valor.
A Starbucks anunciou ontem nos Estados Unidos que firmou uma parceria no Brasil com o casal Rodenbeck. O acordo, cujas negociações foram antecipadas pelo Valor, foi assinado há duas semanas. A filial brasileira irá se chamar Starbucks Cafés do Brasil (CSB).
Peter e Maria Luisa Rodenbeck criaram uma holding específica, que se chama Cafés Sereia do Brasil Participações. Nessa empresa, o casal terá também como sócio o grupo mexicano Alsea SA. A Alsea é a operadora de várias redes americanas no México, que incluem, além da própria Starbucks, a Dominos Pizza e o Burger King. O grupo trouxe a Dominos Pizza para o Brasil e opera o Burger King na Argentina e no Chile.
A vinda da Starbucks para o Brasil era esperada há vários anos. A cadeia americana, que já está presente no México e no Chile começou a prospectar as oportunidades na America Latina em 2002. Hoje, a cadeia já possui operações em 37 países.
“Não sabemos ainda qual será a estratégia e o posicionamento da Starbucks no mercado brasileiro. Vamos começar a pensar sobre isso agora”, disse Maria Luisa, que não quis prever quantas lojas serão abertas no país.
Ao contrário dos rumores que circulavam no mercado, a primeira cafeteria será inaugurada em São Paulo e não no Rio de Janeiro, onde vive o casal. A unidade deve ser inaugurada dentro de uma prazo de 12 meses.
Segundo Maria Luisa, ainda não foi definido qual será o posicionamento de preços da Starbucks. Segundo analistas, dependendo do valor cobrado pelo cafezinho, a rede pode se restringir a um nicho de mercado mais sofisticado. Neste caso, o tamanho do consumo e o espaço para abertura de lojas serão mais limitados.
“Com certeza, nós seremos competitivos”, disse Maria Luisa. Segundo ela, as lojas brasileiras também devem oferecer mais cafés brasileiros do que as americanas já que o Brasil é um grande produtor. Nos EUA, a Starbucks importa cafés da fazenda brasileira Ipanema.
A vinda da rede americana, que se transformou em um fenômeno empresarial, cria expectativas e deve mexer com o mercado. A maior dúvida de consultores e executivos do varejo de alimentos é se o modelo de negócio da Starbucks será bem-sucedido no Brasil, onde o hábito de beber café forte é arraigado, ao contrário do americano. Foi a própria Starbucks que difundiu o consumo de café de expresso nos EUA.
Seu fundador, Howard Schultz, viajou em 1983 para a Itália e ficou impressionado com a popularidade do café expresso no país. Em 1984, o empresário, que é o atual presidente do conselho da Starbucks, começou a testar o conceito de cafeterias em uma loja em Seattle.
“A Starbucks é um oásis, um lugar onde os clientes podem eleger como seu”, diz Maria Luisa.
Nos EUA, a rede procura infundir a idéia de intimidade, de que cada loja é única. Em inglês, a empresa utiliza o termo “third place”, ou o terceiro lugar que cliente freqüenta depois de sua casa e de seu trabalho. “Cada restaurante é personalizado e está inserido na comunidade ao redor. É um lugar onde as pessoas entram e conhecem o atendente pelo nome”, afirma Maria Luisa.
“A Starbucks vê com humildade e respeito a sua chegada ao Brasil, e está bastante honrada em ser recebida em um país de tão rica herança e tradição de café”, afirmou Buck Hendrix, presidente do Starbucks América Latina, em um comunicado enviado à imprensa.