AGRONEGÓCIOS
30/04/2008
Soja cede terreno em novas fronteiras sucroalcooleiras
Patrick Cruz e Mônica Scaramuzzo
A cana avança, e em ritmo acelerado. Prova disso é a rapidez com que as novas fronteiras agrícolas do país absorvem a cultura. Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais têm concentrado os principais investimentos neste segmento, uma vez que São Paulo – maior Estado produtor do país – tem pouco espaço para expandir a cultura.
Mesmo assim, São Paulo avançou quase 352 mil hectares em cana na safra 2007/08, sobretudo na região oeste e noroeste do Estado, com tradição na pecuária. No Mato Grosso do Sul, a cana tem avançado basicamente no sul do Estado. Em Dourados divide a área com os grãos, mas a expansão predomina basicamente nas áreas de pastagens. Todo Estado registrou uma área maior de 39,2 mil hectares para cultura. Em Minas Gerais, sobretudo no Triângulo Mineiro, os cafezais foram os que mais cederam espaço. A ampliação dos canaviais mineiros ficou em 75,9 mil hectares no ciclo 2007/08. Em Goiás, a expansão se deu em 51,9 mil hectares, principalmente em pastagens e em grãos.
Paraná, segundo maior Estado produtor, deve descer no ranking e Minas deverá ocupar a vice-liderança. Os canaviais paranaenses cresceram 82,1 mil hectares, mas deverão desacelerar por conta da limitação de área no Estado, cuja tradição é forte para os grãos.
Em todos os quatro Estados que lideram o avanço da cana – São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás -, a área de soja recuou na safra 2007/08. No Mato Grosso, tradicional reduto de soja, o aumento da área ocupada pela soja entre safra 2006/07 e a atual foi de 9,5%, para 5,6 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Dos quatro, o que teve o decréscimo de área de soja mais significativo foi Minas Gerais, que reduziu em 4,9%, para 885 mil hectares. Em todos eles, por outro lado, a produtividade cresceu. Goiás, com o aumento de 6,5%, levou sua produtividade para 2,971 toneladas por hectare, acima da média de 2,835 toneladas por hectare esperada para a safra brasileira.
Ainda que com área menor, quase todos, em virtude do aumento da produtividade, ampliaram a produção. A exceção foi Minas, que, com 45,4 mil hectares a menos dedicados à soja, foi o que mais perdeu área e não conseguiu compensá-la com o aumento de produtividade. Segundo o último levantamento da Conab, a produção no Estado deve cair 3,5%, para 2,5 milhões de toneladas.
Da soja, oleaginosa que é a base da produção brasileira de biodiesel, obtém-se 78% de farelo e 19% de óleo. Um dos argumentos dos técnicos do setor para sustentar o argumento de que, em vez de reduzir a oferta de alimento por conta de sua utilização para a produção de biodiesel, a soja aumenta ainda mais a alimentação disponível é que, para cada litro de biodiesel produzido, produzem-se quatro quilos de farelo. Estes, por sua vez, gerariam oito quilos de carne, já que o farelo é usado na alimentação animal.
“[A aversão aos biocombustíveis] é um movimento orquestrado, com muita desinformação e uso equivocado de informações sobre o mercado. É uma discussão mais política que qualquer outra coisa” afirma uma fonte ligada às indústrias de óleo.