31/05/2013
Chuvas que afetaram o plantio nos EUA oferecem suporte a milho e soja, mas tendência é de queda
Por Gerson Freitas Jr., Mariana Caetano, Fernanda Pressinott e Fernando Lopes | De São Paulo
Como acontece todos os anos desde meados do século XIX, quando a necessidade dos produtores americanos em garantir a comercialização de suas safras levou à criação da bolsa de Chicago, em 1848, e dos contratos futuros, em 1865, o “mercado de clima” foi o principal fator ligado aos fundamentos de oferta e demanda a nortear as cotações internacionais dos grãos em maio. É tempo de plantio nos Estados Unidos, e nesta época as cabeças estão viradas para o céu.
Assim, independentemente das áreas plantadas nos EUA nesta safra 2013/14 e das boas perspectivas para as colheitas no país depois da dura quebra de 2012/13 – o escoamento começará a ganhar ritmo no início do segundo semestre -, as chuvas que atrasaram o início do plantio e os riscos que ainda pairam sobre as lavouras do Meio-Oeste limitaram a queda do milho e garantiram a alta da soja em Chicago no mês. Segundo cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez), o cereal recua 3,94% sobre abril, e a oleaginosa sobe 1,76%.
Em tempos de “financeirização” dos mercados agrícolas, movimento que amadureceu na segunda metade do século XX e vive seu auge em meio às incertezas econômico-financeiras que mantêm o crescimento global nas cordas, os fundos que especulam com grãos também ofereceram suporte aos preços, sobretudo os da soja, plantada depois do milho nos EUA. De acordo com a Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC) americana, no dia 21 os investidores institucionais tinham posição líquida de compra (descontada a posição vendida) de 105,6 mil contratos futuros e de opções em soja, 18,9% mais que na semana anterior e maior posição comprada desde o dia 2 de abril.
Mas, apesar do aumento da posição líquida, os números da CFTC mostram que os investidores estão abrindo posições nas duas pontas do mercado, em uma aposta dividida sobre a tendência para os preços da commodity nos próximos meses. Em termos brutos, o número de contratos de compra (instrumento com o qual os investidores apostam na alta dos preços) cresceu 15,3% na última semana da série, para 210 mil. Mas o número de contratos de venda (com os quais aposta-se na baixa) cresceu 12%, para 104,5 mil, na maior posição bruta de venda desde setembro de 2006. Ou seja, nos últimos sete anos, os fundos nunca estiveram tão preparados para faturar com a queda dos preços da soja.
Essa divisão de apostas traduz o que indicam hoje os radares meteorológicos. Sim, oscilações vinculadas ao volume de chuvas e seus efeitos sobre o desenvolvimento das lavouras nos EUA virão nas próximas semanas, com boas possibilidades de lucros para os fundos. Mas, de maneira geral, é pequena a chance de o clima reduzir de forma expressiva a produção, abrindo caminho para uma recomposição de estoques mundiais que já começou com a produção recorde na América do Sul – puxada pelo Brasil – na temporada 2012/13. No mercado de milho, o embate entre fundos e fundamentos apresenta um viés mais negativo, até porque os americanos produzem quase quatro vezes mais milho do que soja, seu peso no mercado global do cereal é muito maior e tudo indica que a colheita será farta.
Como a alta de maio interrompeu uma sequência de dois meses de perdas para a soja, a queda dos futuros de segunda posição em relação à média de dezembro diminuiu para 3,87%. Na comparação com maio de 2012, a média deste mês é 0,89% menor. No milho, a retração em relação a dezembro aumentou para 16,23% e a alta sobre maio do ano passado recuou para 6,96%. Já o trigo, que forma com milho e soja o trio de grãos com maior liquidez no comércio global, sobe 0,45% em maio, cai 13,92% em relação a dezembro e sobe 9,32% na comparação com maio de 2012. A neve que atrapalhou o desenvolvimento final das lavouras de inverno nos EUA e a chuva que afeta a safra de primavera do país têm interferido no rumo das cotações, mas outros países, como a Rússia, têm limitado as valorizações.
Na bolsa de Nova York, as “soft commodities” registraram variações modestas. Com estimativa de déficit global – o primeiro em três anos – da ordem de 60 mil toneladas na safra 2012/13, o cacau encerra o mês com preço médio 2,44% superior ao de abril. No mercado de suco de laranja, adversidades climáticas e a proliferação da doença conhecida como greening garantem uma pequena alta de 1,09% sobre o mês passado, apesar de novas quedas das vendas da bebida no varejo dos EUA. Açúcar e café recuam na comparação – 1,19% e 0,71%, respectivamente -, ainda sob a influência das boas produções esperadas no Brasil. E o algodão, que vinha em franca recuperação, tem baixa de 1,66%.
Ainda que permaneçam distantes das máximas históricas de suas médias mensais, atingidas em 2011 – exceto o suco, cujo pico foi em 2006 -, as “soft”, menos básicas que os grãos, também seguem bem acima das mínimas mensais, verificadas entre 1999 (açúcar) e 2004 (suco). Aqui, a esperança é a que a economia reaja de forma a estimular o incremento do consumo.