Campeonato brasileiro de barista e concurso de cafés especiais
brasileiros acontecem em São Paulo e Poços de Caldas; barista campeão
representará o país em mundial na
Suíça
O V
Campeonato Brasileiro de Baristas, que aconteceu entre os dias 22 e 25 no Centro
de Exposições Panamby, no Centro Empresarial São Paulo, premiou o primeiro homem
desde sua criação, em 2002. O curitibano Luiz Otavio da Costa Linhares,
da Lucca Cafés Especiais, fez sua 4ª participação no campeonato e
disputou com outros 44 competidores de diversas cafeterias e regiões do país.
Com a vitória, Linhares
representará o país no World Barista Championship (WBC), campeonato mundial da
categoria que acontecerá em Berna, na Suíça, em maio de 2006. Linhares, 27 anos,
era professor de História antes de chegar à cafeteria de Curitiba, onde trabalha
há 3 anos. Com uma apresentação minimalista e eficiente, Linhares, que
havia ficado entre os 6 finalistas em 2004, causou boa impressão nos
juízes. “Me dediquei aos detalhes da apresentação e procurei ganhar
nota na impressão geral (entre todos os quesitos, o que dá a maior pontuação).
Enxerguei os juízes como clientes da minha cafeteria”, explicou o barista, que
pretende dedicar 2 horas diárias ao treinamento para o mundial. “Quero chegar à
final”, promete ele, que teve como concorrente na final a campeã em 2004,
Priscila da Silva Souza (Suplicy Cafés Especiais), que ficou em 3º lugar
(Priscila ganhou, entretanto, o prêmio de melhor drinque da
competição).
O evento – que incluiu também o I Encontro de Cafés
Especiais e Gourmets — foi organizado pela ACBB (Associação Campeonato
Brasileiro de Barista), um “braço” da Associação Brasileira de Cafés Especiais
(Brazil Specialty Coffee Association ou BSCA), criada em maio deste ano com o
objetivo de organizar o campeonato de baristas. Até então, a prova ficava sob
responsabilidade da BSCA e ocorria juntamente com o Cup of Excellence (ver box). O presidente da ACBB, Marco Suplicy, explica que a missão da associação
é difundir o consumo de bebidas com café de qualidade. “Queremos
difundir o que o italiano chama de os 4 “M”: macchina espresso, macinadosatore,
miscela e mano dell’operatore, ou seja, máquina, moedor, grão e a mão do
barista, ou seja, o treinamento”, sintetiza.
Divulgação
Provador do Cup of
Excellence
O V Campeonato Brasileiro de Baristas
seguiu, como nas edições anteriores, os moldes do campeonato mundial: cada corrente teve 15 minutos de apresentação, divididos entre o preparo
de 4 espressos, 4 cappuccinos e 4 bebidas à base de café. Os baristas
foram avaliados, também, a partir dos mesmos critérios do mundial, que incluem
uma parte técnica — como conhecimento do moinho, tempo de extração do espresso,
dosagem e compactação do café — e outra sensorial. Esta última avaliação, feita
por 4 dos 6 juízes participantes, incluiu quesitos como, por exemplo, aspecto
visual, temperatura e sabor de todas as bebidas apresentadas, uso correto de
xícaras, roupas e apresentação do barista.
“Vamos falar de café, não de Pelé” Uma inovação
sinaliza a importância que o campeonato vem adquirindo no país. Esta foi
a primeira competição com certificação do WBC. Para isso, dois juízes
da entidade responsável pela organização do campeonato mundial estiveram em São
Paulo: Cynthia Chang, coordenadora das Américas do WBC, e Jose Cleofas, um dos 3
únicos certificadores de juízes do mundo.
Cleofas, que ministrou o
treinamento dos juízes e conduziu o trabalho deles em todas as apresentações,
estava satisfeito. “Gostei de verem representadas as várias regiões do país, e
que o vencedor tivesse vindo de longe para mostrar seus conhecimentos em São
Paulo, que é uma cidade com muito mais cafeterias do que Curitiba”, avalia o
mexicano, que há 5 anos é o mestre de cerimônias do mundial de baristas. Segundo
ele, os 21 juízes certificados poderão participar de competições regionais. “Queremos que o Brasil forme um time de café, com juízes, baristas e
jornalistas, para alavancar o nome do Brasil. Daqui há pouco tempo, não
vai-se falar mais de Pelé, mas de café”, brincou ele. “Creio que temos chance de
estar entre os finalistas em Berna”, arremata Suplicy, que acredita conseguir
patrocínio e enviar o campeão de 2005 para treinar fora do país para o mundial
(a melhor colocação de brasileiros em um mundial foi o 12º lugar, obtida pela
barista Silvia Magalhães).
Baristas noruegueses que
acompanharam o campeonato concordam. “Os brasileiros tem um grande
potencial”, avalia Halvard Amble, que pertence ao time vencedor da prova nos
países nórdicos (os noruegueses estão entre os melhores baristas do
mundo). “Mas ainda é preciso um conhecimento maior de como o sabor do café se
comporta durante a extração”, avisa.
O time de juízes do
V Campeonato Brasileiro de Baristas incluiu Sílvio Leite, classificador de café
e conselheiro da BSCA, Reinaldo Bongiovanni, distribuidor das máquinas italianas de espresso La
Cimbali e um dos diretores da ACBB, Silvia Magalhães, além de jornalistas da
área de gastronomia e outros profissionais.
Paralelamente ao campeonato,
o I Encontro Brasileiro de Cafés Especiais e Gourmets 2005 reuniu no
Panamby fabricantes de equipamentos e acessórios, além de cafés de várias
marcas. Estavam lá estandes do café Orfeu, da Fazenda Sertãozinho (MG);
café Pessegueiro, da fazenda de mesmo nome, localizada em Mococa (SP); o Ateliê
do Café, loja virtual que comercializa grãos da fazenda Daterra; Café do Centro,
entre outros.
Divulgação
Cafés
preparados para o Cup
Café premiado no Cup of Excellence tem nota
recorde A final do 7º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil –
Cup of Excellence, que aconteceu entre os dias 14 e 18 em Poços de Caldas (MG),
teve como vencedor o produtor Francisco Isidoro Dias Pereira, das Fazenda Santa
Inês, em Carmo de Minas (MG). O café campeão teve nota recorde de 95,85
pontos (em um total de 100) — a maior já registrada em todas as 22
provas realizadas nos países (El Salvador, Nicarágua, Honduras, Bolívia e
Colômbia) que aderiram a este concurso, criado no Brasil em 99.
O Cup of Excellence, realizado pela BSCA há 6 anos, tem o
objetivo de mostrar ao mercado internacional que o Brasil produz cafés especiais
de altíssima qualidade. O vencedor do ano passado, por exemplo, obteve
preços bastante elevados (US$ 1.300) por cada saca do lote premiado, e sua
fazenda torna-se conhecida internacionalmente.
Todos os anos, os
produtores de café arábica submetem as amostras a uma competição com 3 fases: as
amostras participantes passam, primeiro, por uma pré-seleção, para garantir
padrões mínimos de qualidade. Depois, são provados (sem identificação) por um
júri nacional, que seleciona os melhores. Por fim, após uma degustação de 3 dias
feita por um júri internacional, os melhores lotes são premiados com o Cup of
Excellence. Os lotes vencedores são, então, vendidos ao importador de
café ou torrador por meio de um disputado leilão internacional pela
Internet. O vencedor do Prêmio Cup of Excellence é o que tem o maior
número de pontos.
Em 2004, 973 amostras foram inscritas. Este ano, 36
lotes, dentre 553 amostras inscritas (a safra de cafés especiais este ano foi
menor), obtiveram nota superior a 84 e participarão do leilão internacional, que
acontece dia 10 de janeiro. O júri internacional foi composto por 32
provadores e compradores dos Estados Unidos, Noruega, Grécia, Inglaterra,
Holanda, Alemanha, Dinamarca, Japão, Malásia e Nicarágua, além do
Brasil.