Setor de fertilizantes atrai R$ 3,3 bi, com aposta em produção maior de grãos

Por: O CORREIO NEWS

09/07/2010  RIO – A perspectiva de aumento da produção de grãos no Brasil – a safra de 2009/2010 será recorde segundo previsão da COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB) divulgada nesta quarta-feira – está fazendo com que empresas nacionais invistam fortemente no mercado de fertilizantes, segmento no qual o Brasil é importador e que vem passando por um processo de consolidação. A atenção se volta principalmente para os produtos à base de fosfato, muito usados nas culturas de soja, milho e algodão. Os projetos de ampliação da produção nacional deste nutriente são liderados pela Fosfertil, recentemente comprada pela Vale, e pela Galvani. Juntas, as duas empresas vão investir R$ 3,3 bilhões até 2014, o que permitirá que as importações de fosfato sejam reduzidas à metade. Isso proporcionará uma economia de US$ 750 milhões por ano ao país.


O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, mas importa cerca de 65% dos nutrientes usados em sua fabricação, segundo a Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA). A dependência externa custa aproximadamente US$ 5 bilhões por ano aos produtores. Um terço desse montante, ou US$ 1,5 bilhão, é usado para adquirir fosfatos, que vêm principalmente de Rússia (20%) e Marrocos (19%). Os US$ 3,5 bilhões restantes são consumidos na compra dos outros dois nutrientes que compõem os fertilizantes, o potássio e o nitrogênio.



– Os novos projetos contribuirão para amenizar nossa dependência externa, mas estão longe de acabar com ela – frisa Carlos Eduardo Florence, diretor-executivo da AMA.



Vale inaugura novo projeto no Peru em agosto



Os projetos de Fosfertil e Galvani acrescentarão cerca de 1 milhão de toneladas de fosfatos ao parque nacional até 2014, cuja produção beirou dois milhões de toneladas em 2009. No caso da Fosfertil, são duas frentes de expansão. Uma unidade em Uberaba (MG), que terá sua produção elevada em 230 mil toneladas até 2011, e uma nova mina em Patrocínio (MG), que elevará a oferta em 560 mil toneladas até 2014. Os dois projetos estão orçados em R$ 2,4 bilhões.



As iniciativas são anteriores à aquisição do controle da Fosfertil pela Vale, concluída em maio passado. Mas tudo indica que a companhia vai mantê-las. Disposta a ser um dos líderes globais na indústria de fertilizantes, a mineradora criou recentemente uma diretoria para o setor, que tem à frente Mário Barbosa, ex-Bunge. Nas últimas semanas, ele visitou unidades da Fosfertil para se inteirar dos projetos. Paralelamente, a Vale mantém projetos de fosfatados no exterior, como o de Bayóvar, no Peru, que será inaugurado no próximo mês e tem como foco o mercado brasileiro.



Outras duas empresas de porte atuam no segmento de fertilizantes fosfatados: a anglo-sul-africana Anglo American, que está buscando compradores para seus ativos no Brasil, e a paulista Galvani, que trilha o caminho oposto. Fundada em 1934, a Galvani é a única que atua em todas as etapas da cadeia produtiva, da mineração à distribuição do fertilizante. Está investindo R$ 860 milhões em dois projetos para triplicar sua produção até 2013/2014.



Em um deles, na mina de Santa Quitéria (CE), a empresa vai extrair o fosfato que é encontrado em associação com o urânio. A companhia obteve a concessão da mina em 2008, após vencer uma licitação promovida pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que ficará com o urânio produzido lá. A ideia inicial era começar a operação em 2012, mas o presidente do Conselho de Administração da companhia, Rodolfo Galvani Júnior, acredita que o projeto pode atrasar de um a dois anos devido à demora no licenciamento ambiental. Há ainda a ampliação da mina de Serra do Salitre (MG), prevista para 2013. Juntas, as duas minas vão ampliar a produção das atuais 140 mil toneladas para anuais para 400 mil toneladas por ano de fosfato.



Com esses projetos, o executivo espera dar musculatura à empresa para evitar que ela se torne alvo de aquisições e, possivelmente, possa assumir a posição de comprador no futuro, embora descarte fazer uma oferta pelos ativos da Anglo por enquanto:



– A Galvani precisa amadurecer um pouco, ter mais projetos, para depois partir para uma consolidação. Nossa vantagem é que, por sermos uma empresa menor e com menos burocracia, conseguimos tomar decisões mais rápidas.



Soja é carro-chefe da safra 2009/2010



Por trás desse interesse no mercado de fertilizantes está a aposta na agricultura brasileira. Segundo previsão da CONAB, a safra de 2009/2010, que termina em agosto, baterá novo recorde, atingindo 146,75 milhões de toneladas de grãos, aumento de 8,6% sobre a anterior. A soja, uma das culturas que mais demandam fertilizantes à base de fosfatos, é um dos carros-chefe desse avanço. A projeção é que sejam produzidos 68,7 milhões de toneladas de soja nesta safra, alta de 20,2% em relação à anterior. Para os próximos anos, a expectativa é de demanda crescente impulsionada pela recuperação internacional.



– Como os projetos de produção de fertilizantes demoram de quatro a cinco anos para colocar os produtos no mercado, essa é a hora de investir para reduzirmos a dependência externa – diz Rosemeire dos Santos, superintendente técnica da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

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Setor de fertilizantes atrai R$ 3,3 bi, com aposta em produção maior de grãos

08/07 – Danielle Nogueira

RIO – A perspectiva de aumento da produção de grãos no Brasil – a safra de 2009/2010 será recorde segundo previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgada nesta quarta-feira – está fazendo com que empresas nacionais invistam fortemente no mercado de fertilizantes, segmento no qual o Brasil é importador e que vem passando por um processo de consolidação. A atenção se volta principalmente para os produtos à base de fosfato, muito usados nas culturas de soja, milho e algodão. Os projetos de ampliação da produção nacional deste nutriente são liderados pela Fosfertil, recentemente comprada pela Vale, e pela Galvani. Juntas, as duas empresas vão investir R$ 3,3 bilhões até 2014, o que permitirá que as importações de fosfato sejam reduzidas à metade. Isso proporcionará uma economia de US$ 750 milhões por ano ao país.


O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, mas importa cerca de 65% dos nutrientes usados em sua fabricação, segundo a Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA). A dependência externa custa aproximadamente US$ 5 bilhões por ano aos produtores. Um terço desse montante, ou US$ 1,5 bilhão, é usado para adquirir fosfatos, que vêm principalmente de Rússia (20%) e Marrocos (19%). Os US$ 3,5 bilhões restantes são consumidos na compra dos outros dois nutrientes que compõem os fertilizantes, o potássio e o nitrogênio.


– Os novos projetos contribuirão para amenizar nossa dependência externa, mas estão longe de acabar com ela – frisa Carlos Eduardo Florence, diretor-executivo da AMA.


Vale inaugura novo projeto no Peru em agosto

Os projetos de Fosfertil e Galvani acrescentarão cerca de 1 milhão de toneladas de fosfatos ao parque nacional até 2014, cuja produção beirou dois milhões de toneladas em 2009. No caso da Fosfertil, são duas frentes de expansão. Uma unidade em Uberaba (MG), que terá sua produção elevada em 230 mil toneladas até 2011, e uma nova mina em Patrocínio (MG), que elevará a oferta em 560 mil toneladas até 2014. Os dois projetos estão orçados em R$ 2,4 bilhões.


As iniciativas são anteriores à aquisição do controle da Fosfertil pela Vale, concluída em maio passado. Mas tudo indica que a companhia vai mantê-las. Disposta a ser um dos líderes globais na indústria de fertilizantes, a mineradora criou recentemente uma diretoria para o setor, que tem à frente Mário Barbosa, ex-Bunge. Nas últimas semanas, ele visitou unidades da Fosfertil para se inteirar dos projetos. Paralelamente, a Vale mantém projetos de fosfatados no exterior, como o de Bayóvar, no Peru, que será inaugurado no próximo mês e tem como foco o mercado brasileiro.


Outras duas empresas de porte atuam no segmento de fertilizantes fosfatados: a anglo-sul-africana Anglo American, que está buscando compradores para seus ativos no Brasil, e a paulista Galvani, que trilha o caminho oposto. Fundada em 1934, a Galvani é a única que atua em todas as etapas da cadeia produtiva, da mineração à distribuição do fertilizante. Está investindo R$ 860 milhões em dois projetos para triplicar sua produção até 2013/2014.


Em um deles, na mina de Santa Quitéria (CE), a empresa vai extrair o fosfato que é encontrado em associação com o urânio. A companhia obteve a concessão da mina em 2008, após vencer uma licitação promovida pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que ficará com o urânio produzido lá. A ideia inicial era começar a operação em 2012, mas o presidente do Conselho de Administração da companhia, Rodolfo Galvani Júnior, acredita que o projeto pode atrasar de um a dois anos devido à demora no licenciamento ambiental. Há ainda a ampliação da mina de Serra do Salitre (MG), prevista para 2013. Juntas, as duas minas vão ampliar a produção das atuais 140 mil toneladas para anuais para 400 mil toneladas por ano de fosfato.


Com esses projetos, o executivo espera dar musculatura à empresa para evitar que ela se torne alvo de aquisições e, possivelmente, possa assumir a posição de comprador no futuro, embora descarte fazer uma oferta pelos ativos da Anglo por enquanto:


– A Galvani precisa amadurecer um pouco, ter mais projetos, para depois partir para uma consolidação. Nossa vantagem é que, por sermos uma empresa menor e com menos burocracia, conseguimos tomar decisões mais rápidas.


Soja é carro-chefe da safra 2009/2010

Por trás desse interesse no mercado de fertilizantes está a aposta na agricultura brasileira. Segundo previsão da Conab, a safra de 2009/2010, que termina em agosto, baterá novo recorde, atingindo 146,75 milhões de toneladas de grãos, aumento de 8,6% sobre a anterior. A soja, uma das culturas que mais demandam fertilizantes à base de fosfatos, é um dos carros-chefe desse avanço. A projeção é que sejam produzidos 68,7 milhões de toneladas de soja nesta safra, alta de 20,2% em relação à anterior. Para os próximos anos, a expectativa é de demanda crescente impulsionada pela recuperação internacional.


– Como os projetos de produção de fertilizantes demoram de quatro a cinco anos para colocar os produtos no mercado, essa é a hora de investir para reduzirmos a dependência externa – diz Rosemeire dos Santos, superintendente técnica da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

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