Consumo cada vez maior e uma produção que não acompanha o mesmo ritmo de crescimento. Este é o principal dilema do setor cafeeiro mundial. No segundo e último dia da 19ª edição do Seminário Internacional de Café de Santos, realizada no Sofitel Jequitimar, em Guarujá (SP), especialistas discutiram esse assunto.
A analista internacional de café Maja Wallengren revelou que desde 2002 a produção de café está estagnada no mundo. “Não vimos nenhuma mudança até agora. Poucos países conseguem manter uma produção boa. O Brasil é um deles”.
Ela cita o case do Espírito Santo como um dos fatores de sucesso do Brasil, mas diz que o mundo vai precisar de muito mais para atender a demanda. “O Estado está fazendo o possível para chegar a uma produção de 80 sacas por hectare. Apesar de ser um bom número, isso é apenas uma gota no oceano para o consumo mundial”.
Estoque – Com o estoque baixo na Colômbia e em países da América Central e
Ásia, Maja acredita ser cada dia mais difícil achar uma solução para o problema.
“Escuto que o Brasil tem áreas para produzir 10 milhões de novas sacas de café,
mas ninguém fala sobre o custo disso: US$ 6,7 bilhões”. “Se eu tivesse esse
dinheiro, eu investiria no mercado imobiliário ou outro setor. O mercado do café é
muito volátil”.
Clima e Pestes – Diversos fatores contribuíram para a trava no setor. Segundo a
dinamarquesa, que vive no México, mudanças climáticas e pestes são os principais
motivos. “Todos os países produtores sofreram impacto com as mudanças
climáticas na safra 2010/2011. Nunca tínhamos passado por um momento como
esse. E isso não deve mudar em dois ou três anos”.
Colômbia – Como exemplo das condições adversas, Maja usou a Colômbia,
tradicional produtora de café. “Se a temperatura média sobe um grau no país, a
produção é muita afetada. E não tem saída. Ninguém vai desenraizar e subir o
plantil para o morro, 300 metros acima, para manter a produção”.
Consumo – O aumento no consumo, mesmo sem números divulgados, está muito
ligado aos países emergentes. Brasil e China são dois dos responsáveis pelo
crescimento. Maior produtor do mundo, com 55 milhões de sacas por ano, o Brasil
é o segundo maior consumidor também. Especialistas apontam, no entanto, que o
País deve ultrapassar os Estados Unidos até o final do ano.
Para o pesquisador do Centro de Café do Instituto Agronômico da Secretaria de
Agricultura do Estado de São Paulo, Roberto Antônio Thomaziello, o Brasil pode
ampliar ainda mais a liderança no mercado. “Muito se fala em qualidade, mas
precisamos melhorar a produtividade. A qualidade vem junto”. (A Tribuna)