AGROPECUÁRIO
04/01/2010
Mais trabalho e renda na mesma
Setor agropecuário entra 2010 com cautela e acredita que vai ter de se esforçar muito para recuperar os preços desvalorizados em consequência do dólar desvalorizado e do consumo menor lá fora
Paola Carvalho
A desvalorização dos preços das commodities e dúvidas quanto à retomada do consumo dos países desenvolvidos impedem que especialistas em agropecuária tracem um cenário de longo prazo para o setor. A certeza é de que essa combinação obriga o produtor rural a se esforçar para vender muito, mas faturar no mesmo nível, como destaca o secretário de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais, Gilman Viana. “Exportamos menos em cada unidade negociada. Este é o ônus que a crise está nos trazendo. A pressão para o produtor administrar custos tem sido cada vez maior”, afirma. A dificuldade, segundo o secretário, é que, à exceção de fertilizantes, o custo operacional da produção agrícola não diminuiu, sobretudo as despesas com mão de obra e transporte.
O presidente da Federação Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Roberto Simões, destaca que a crise atingiu fortemente o setor, principalmente no que se refere aos preços e resultados do comércio exterior, e trouxe dificuldades para a grande maioria das cadeias produtivas mineiras. Segundo ele, todos os segmentos do agronegócio recuaram em 2009, dos insumos à distribuição, com exceção da agroindústria de base vegetal, impulsionada basicamente pelos setores de produção de açúcar, álcool e bebidas. Simões concorda com Viana de que a pressão dos preços agropecuários no mercado internacional é a marca mais grave deixada pela turbulência econômica e, na opinião dele, não traz expectativa de melhora para a maioria dos produtos no próximo ciclo em razão da expectativa de recuperação lenta da demanda.
A queda nos preços das commodities no mercado mundial trouxe reflexos nas cotações internas. O IPR-D/MG (Índice de Preços Recebidos Dessazonalisado), calculado pela Faemg, registrou ao longo do ano essa tendência negativa nos preços, acumulando, até outubro, queda de 4,97% e, nos últimos 12 meses, retração de 9,94%. “É nessa proporção, em torno de 10%, que esperamos a queda na renda bruta na agropecuária mineira em 2009”, afirma Simões. Entre os produtos agrícolas, no grupo grãos, os preços que mais caíram entre janeiro e outubro deste ano foram os do feijão, arroz e milho. Já entre os produtos pecuários, nos 10 primeiros meses do ano, ovos, boi gordo e suínos são os que registravam a mais expressiva queda acumulada de preços.
As exportações do agronegócio mineiro, de janeiro a novembro de 2009, geraram receita de cerca de US$ 5,1 bilhões. Uma redução de 4,5% em relação ao mesmo período do ano passado. A queda é explicada justamente pela depreciação dos preços no mercado internacional. Por outro lado, o volume exportado pelo agronegócio mineiro cresceu 26,2%, atingindo o recorde de 5,6 milhões de toneladas.
Simões destaca outros obstáculos, como a redução do crédito para exportadores e importadores, que vem se recuperando, mas ainda não voltou ao nível pré-crise. “Na realidade, o problema cambial revela as fragilidades do país, que são escondidas quando o dólar está mais valorizado em relação ao real. Trata-se do conhecido custo Brasil, que envolve encargos trabalhistas, carga tributária muito elevada e mal- distribuída entre as esferas de governo e precária infraestrutura de transporte e de portos, entre outros. Problemas estes que têm sua solução adiada governo após governo”, critica o presidente da Faemg. A expectativa para 2010 é de que o reaquecimento da economia brasileira impulsione o consumo das famílias e permita a recuperação dos preços no mercado interno, já que não se pode esperar muito da demanda externa.
Pesa favoravelmente, segundo Humberto Silva, analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), avanços conquistados pelo setor agropecuário. “O uso de variedades melhoradas, novas técnicas de cultivo e irrigação estão contribuindo consideravelmente com o aumento de produtividade de várias culturas, tanto de grãos, como fruteiras, olerícolas, e até mesmo o café, principalmente no cerrado”, diz.