Será eterno o brilho das commodities?

Por: 18/04/2007 15:04:00 - Procana

oValor Online

Na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que fabrica
aço, os olhos estão voltados para a mina de minério de ferro Casa de Pedra. A
Votorantim Celulose e Papel (VCP) decidiu concentrar seu foco no ganho de escala
de produção de celulose, ao mesmo tempo em que se reposiciona no negócio de
papéis, com a venda de alguns ativos. E três grupos internacionais – Mosaic,
Yara e Bunge – disputam a Fosfértil, maior fabricante de matérias-primas para
adubos do país.
O que une os três casos é a importância cada vez maior das
matérias-primas na economia atual. Trata-se de uma espécie de ditadura das
commodities do mundo moderno.

Diferentemente das indústrias, que podem
ser instaladas em qualquer país (especialmente se a mão-de-obra for barata),
matérias-primas são escassas e têm “procedência”. Não adianta o Japão ser
desenvolvido e ter tecnologia sofisticada. Ele não produz minério de ferro e,
lá, os eucaliptos não demoram apenas sete anos para crescer, como aqui.


Mas isso não foi sempre assim? Sim, foi, mas há hoje três fatos novos,
fortemente correlacionados. Primeiro, a intensa globalização da economia.
Segundo, a grande escala de produção dos fabricantes das principais commodities.
Vale do Rio Doce, BHP e Rio Tinto, por exemplo, respondem por 70% do comércio
transoceânico de minério de ferro. Por último, a China, que passou a ser o maior
consumidor mundial de commodities, ao mesmo tempo em que oferece uma mão-de-obra
baratíssima.

Some-se a tudo uma pitada de política monetária. Há
estudiosos que defendem que, quando as taxas de juro são altas, o preço das
commodities costuma cair porque o interesse das empresas em carregar estoques é
menor. O inverso ocorre quando a taxa de juro é baixa – e o mundo vive um longo
período de taxas “sob controle” (veja o artigo “Is Easy Money Behind the Recent
Commodity Price Boom?”, em www.rgemonitor.com)

A mistura de
todos esses ingredientes levou ao “boom” das commodities e explica bem por que
CSN, VCP e as multinacionais controladoras da Fosfértil estão tão entusiasmadas
com o minério de ferro, a celulose e os fertilizantes básicos. A Vale do Rio
Doce conseguiu conseguiu fechar cinco anos consecutivos de aumentos de preços de
seu minério (9% em 2003, 18,6% em 2004, 71,5% em 2005, 19% em 2006 e 10% em
2007) e já há analistas sugerindo que o ciclo de alta pode durar outros cinco
anos. A alta impacta as margens de ganho das fases seguintes da cadeia produtiva
e, no caso das siderúrgicas, tem estimulado um movimento de consolidação.
Montadoras de automóveis, como a Nissan, reportam redução dos ganhos por conta
da valorização do aço e de outras commodities.

No caso da celulose, a
diferença entre as margens de ganho com a produção da commodity e do papel são
mais contundentes no Brasil (por conta do baixo custo de produção e, em
contraponto, pela demanda restrita por papel), mas também sentidas no exterior.
No ano passado, por exemplo, com a alta da celulose, a diferença de preço entre
os dois produtos no mercado externo chegou a apenas US$ 150, quando o histórico
é de US$ 200 a US$ 250. Não é à toa, portanto, que a VCP se reposiciona e mira a
produção de celulose e a Suzano já anunciou que seus investimentos prioritários
também estão na celulose. Além disso, grandes investidores, inclusive
brasileiros, começam a se movimentar para adquirir áreas para reflorestamento.


No caso dos fertilizantes, a alta de preços foi bastante acentuada nos
últimos meses, influenciada pela onda do etanol e pelo valor dos fretes. O
fosfato de monoamônio (MAP) e o superfosfato triplo (TSP), por exemplo, subiram
47,6% e 49%, respectivamente, entre setembro de 2006 e março deste ano. A grande
ganhadora do movimento é a Fosfértil, maior fabricante de matérias-primas para
adubos do Brasil e centro de uma disputa entre Mosaic, Yara e Bunge (todas
sócias na Fertifós, controladora da Fosfértil).

O Brasil vem se
aproveitando ao máximo do “boom” das commodities e isso pode ser visto no
desempenho recente da balança comercial brasileira, que registra um descompasso
entre o dinamismo de produtos básicos/semi-manufaturados e os manufaturados. Mas
o risco que se corre é de se tornar refém das commodities. Há ainda um efeito
secundário, segundo Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos do
Desenvolvimento da Indústria (IEDI): “Conforme esses setores produtores de
commodities crescem, aumenta a entrada de recursos estrangeiros no país e o real
se aprecia. É um fenômeno que já vimos na história do Brasil”, diz Pereira,
ressaltando a experiência do país com o café, até o fim da década de 20. A
valorização do real reduz a competitividade de vários setores da indústria.


Há uma maneira de esse movimento se ajustar naturalmente. A valorização
do câmbio reduz a rentabilidade da indústria doméstica, as importações aumentam
e há um ajuste via oferta interna. “O problema é quando a situação de alta se
reverte. O país paga um preço alto em seu balanço de pagamentos, fica menos
competitivo, vem o aperto. E o que estamos vivendo nada mais é do que um ciclo
econômico. A alta não vai durar para sempre”, diz Pereira. Para ele, o país
deveria adotar medidas que reduzam o impacto do ajuste natural. Rússia e
Austrália, grandes produtores de matérias-primas, por exemplo, conseguiram que
suas moedas não se valorizassem tanto quanto o real nesse período.

O que
é preciso é pensar grande. O futuro do país está em jogo. A quebra de 1929
marcou o início do processo de industrialização do Brasil. Na década de 30,
surgiu a indústria de bens de consumo semi-duráveis (têxtil, calçados,
alimentos). Nos anos 50, vieram as de bens de consumo duráveis (automóveis,
eletrodomésticos) e de bens de capital. A terceira fase de industrialização
ocorreu no governo militar, com as indústrias química e petroquímica, entre
outras. Será que não seria hora de deslancharmos um pacote de investimentos para
uma quarta fase da industrialização, marcada pela tecnologia? Ou já é possível
dizer que, daqui pra frente, quem tiver os recursos naturais, as
matérias-primas, está com tudo? Talvez, daqui a dez anos, ao olharmos para trás,
veremos que o ciclo econômico de alta das commodities nos pregou uma bela peça.



 

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