O co-autor do best-seller A Estratégia do Oceano Azul alerta que empresas bem-sucedidas tendem à acomodação, prega a inovação permanente e diz que só há um antídoto: contar com gente criativa
Por Amauri Segalla
O coreano W. Chan Kim tornou-se nos últimos dois anos um dos pesquisadores de estratégia mais celebrados por CEOs de grandes empresas. Carlos Ghosn, o brasileiro que comanda com mão de ferro o grupo Renault/Nissan, não cansa de citá-lo em entrevistas e conferências. Frederick Smith, presidente da FedEx, considera-o um pensador iluminado. O que motiva a admiração dos executivos é o livro A Estratégia do Oceano Azul, escrito por Kim em parceria com a americana Renée Maubourgne. Best-seller no segmento de publicações econômicas, o trabalho consiste na análise de estratégias inovadoras capazes de se transformar em sucessos comerciais. A conclusão é reveladora: empresas bem-sucedidas criam seus próprios mercados, os chamados oceanos azuis, em vez de enfrentar a concorrência em batalhas sangrentas (os oceanos vermelhos). Foi assim que corporações de ramos tão diversos quanto Starbucks, Apple, Pfizer , Samsung e até a brasileira Casas Bahia construíram sua trajetória vitoriosa. Professor da escola de administração Insead, na França, e membro do Fórum de Davos, Kim concedeu, de Paris, a seguinte entrevista a Época NEGÓCIOS.
Para ele, o sucesso é um oceano azul reservado apenas para aqueles que têm idéias originais e são capazes de lançá-las
1. Que características uma empresa deve possuir para ser considerada verdadeiramente inovadora? Muitas pessoas associam o conceito de inovação apenas a tecnologias pioneiras e descobertas científicas. Isso é um equívoco. O fundamental é adotar estratégias de negócios diferenciadas. As empresas verdadeiramente inovadoras buscam conquistar consumidores com idéias originais, em vez de perder tempo em lutas sangrentas com a concorrência.
2. As empresas devem, portanto, esquecer a concorrência? O que afirmo, e essa é a pedra angular da estratégia do oceano azul, é que a concorrência esmagadora representa uma espécie de oceano vermelho, no qual as possibilidades são limitadíssimas. Aquelas que navegam no oceano azul não vêem os concorrentes como paradigmas. Elas criam os próprios paradigmas e desbravam espaços de mercado inexplorados.
3. Que experiência empresarial o senhor considera mais emblemática? Um bom caso é o da rede americana Starbucks. Por um bom tempo, ela tentou competir com a indústria tradicional de café. Não conseguiu. Depois, teve a grande idéia de não vender apenas o café, mas o lugar também. A rede passou a oferecer um ambiente agradável e café de primeira, o que ninguém fazia. Ou seja, criou o próprio mercado, inventou um espaço. Isso é o que eu chamo de inovação de valor.
4. Em seu livro, o senhor compara a Starbucks à Pfizer, fabricante do Viagra. Por quê? Com o Viagra, a Pfizer deixou de ser reconhecida apenas como uma empresa farmacêutica e passou a ser vista como uma corporação voltada para a melhoria do estilo de vida. A Starbucks não é só café, é uma experiência emocional. A atmosfera de uma loja Starbucks foi fundamental para a construção de seu sucesso.
5. Nos dois casos, o foco não está apenas nos produtos, mas no conceito que eles transmitem. Essa análise está correta? Sim. Nos últimos 30 anos, as novas indústrias eletrônicas, os fabricantes de celulares, as instituições financeiras e outras tantas corporações não foram movidas apenas pelos produtos que oferecem, mas principalmente pelos conceitos originais apresentados aos consumidores.
6. O senhor conhece experiências inovadoras no Brasil? Sim, o sucesso da Casas Bahia é muito interessante. Qual foi a estratégia da empresa? Foi vender crédito para as pessoas. Eles criaram um oceano azul ao vender produtos eletrônicos e móveis com base em um instrumento financeiro inovador, o crédito amplo, fácil e rápido.
7. É correto afirmar que algumas nações são mais inovadoras que outras? Esse raciocínio contém a premissa de que as nações ricas, justamente por dispor de mais recursos, são mais inovadoras. No entanto, boas idéias não dependem necessariamente de dinheiro. Países emergentes como Brasil e Índia são exemplos disso.
8. Com o tempo, diante das dificuldades, os oceanos azuis também não se tornam oceanos vermelhos? Muito provavelmente. Por isso, as empresas precisam reinventar-se sempre. Buscar obsessivamente a criação de novos oceanos azuis.
9. Como é possível saber o momento de se reinventar? O momento é agora. Muitas vezes, as companhias se acomodam no próprio sucesso. Trata-se de um erro. Você brilha hoje e amanhã se depara com o fracasso. Nada é para sempre.
10. Além da inovação permanente, o que mais é preciso para as empresas crescerem? Pessoas criativas. Nenhuma empresa conseguirá ir adiante se não oferecer a seus funcionários a liberdade de ousar.
>>Publicado pela Harvard Business School, o livro A Estratégia do Oceano Azul (no Brasil, foi traduzido pela Editora Campus, e seu preço médio é R$ 54) está na lista dos mais vendidos da revista Business Week e do diário The Wall Street Journal