27/08/2014
Maior produtor mundial, país pode ter uma queda de safra de 18% nesta temporada
A seca prolongada no Brasil já custou metade da colheita de café de José Francisco Pereira. No ano que vem, pode ser ainda pior e o país está a caminho da primeira queda de três anos na produção desde 1965. “Todos estão rezando pela chuva”, disse Pereira, diretor-geral da Monte Alegre Coffees, uma produtora dona de 2.500 hectares com sede em Alfenas (MG), que previu uma colheita de 45 mil sacas nesta safra, abaixo das 82 mil da temporada passada.
O Citigroup Inc. previu em 21 de agosto que o déficit global na produção pode durar até 2016 por causa da escassez no Brasil, que no ano passado respondeu por 36% da oferta mundial. Os contratos futuros, que se valorizaram mais que os de qualquer outra commodity neste ano, podem subir mais 19% até o fim de dezembro, para US$ 2,25 a libra-peso (454 gramas), segundo uma consulta da Bloomberg a 18 analistas. O incremento está forçando compradores como a J.M. Smucker Co., produtora da Folgers, a marca mais vendida dos EUA, a elevar os preços no varejo.
A produção do Brasil, maior produtor do mundo, pode cair 18% quando a colheita terminar no mês que vem, para 40,1 milhões de sacas, estima o Conselho Nacional do café, após um declínio de 3,1% no ano passado. Com a piora dos danos antes do início da primavera no Hemisfério Sul, o Conselho disse que os agricultores poderão colher menos de 40 milhões de sacas em 2015, gerando a queda mais longa em três décadas.
“O mercado está vulnerável ao incremento devido a todos os problemas no Brasil”, disse ontem Donald Selkin, que ajuda a gerenciar US$ 3 bilhões como estrategista-chefe de mercado da National Securities Corp. em Nova York. “As pessoas estão prevendo ofertas mais apertadas e esperando evoluções climáticas mais drásticas”.
O café arábica subiu 71% neste ano, para US$ 1,892, na ICE Futures U.S., o maior ganho entre 22 matérias-primas no índice Bloomberg Commodity, que caiu 0,1%. O índice de ações MSCI All-Country World subiu 5,4% no mesmo período. O índice Bloomberg Treasury Bond teve amento de 4,1%.
O Brasil está enfrentando sua pior seca em décadas. Os reservatórios de Sudeste e Centro-Oeste, onde está a maioria das plantações, estavam em menos de 32% de sua capacidade em 24 de agosto, contra a média de 59,3% no mês nos 13 anos anteriores, segundo a Operadora Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Agravando os danos à colheita, em julho chuvas torrenciais inesperadas levaram ao florescimento prematuro de árvores cujos frutos já haviam sido colhidos. Quando o clima seco retornou neste mês, as flores murcharam e caíram, prejudicando ainda mais o rendimento potencial para 2015.
A colheita menor do Brasil e o consumo crescente redundarão em um déficit da produção global de até 10 milhões de sacas no ano que começa em 1º de outubro, segundo a Organização Internacional do café. Bloomberg