Seca: mecanização salva os produtores de café
Pequenos seguem o exemplo dos grandes e investem em máquinas para reduzir perdas
Anos de baixos preços do café, seguidos pela pior seca em décadas no Brasil, levaram até mesmo os pequenos produtores familiares a comprar maquinário moderno para depender menos da mão de obra cada vez mais escassa e cara. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou uma “intensa comercialização de máquinas, principalmente colheitadeiras, para a região cafeeira de São Paulo e de Minas Gerais” nesta temporada, em resposta a uma alta média de cerca de 46% nos custos com trabalhadores ante um ano antes.
Grandes produtores do Brasil, que fornece cerca de um terço do café consumido no mundo, começaram a comprar maquinário — boa parte dos EUA — 15 anos atrás. Agora, a modernização tornou-se uma necessidade também para os pequenos produtores, em dificuldades financeiras.
O produtor Michael Reguim, de 26 anos, comprou uma colheitadeira em 2008 e nesta temporada tornou-se o primeiro de sua comunidade de 82 famílias, nas montanhas de Minas, a adquirir uma máquina que retira a casca dos grãos de café, tarefa que antes empregava quatro pessoas. “Você costumava comprar máquinas para tentar melhorar as margens, agora faz isso para sobreviver”, disse Reguim, mostrando seu novo equipamento, comprado por R$ 72 mil com a ajuda de um financiamento do governo.
A máquina também trouxe o benefício de reduzir o consumo de água na região, que viu a seca do início do ano reduzir a safra 2014 em 30%. Reguim inicialmente esperava colher 4 mil sacas de café este ano: “Agora vou estar feliz com 2 mil. Se eu não tivesse mecanizado, não teria sobrevivido”.
O café é a única das grandes commodities agrícolas exportadas pelo Brasil que é produzida majoritariamente por agricultores familiares. Na soja, no milho e na cana, há uma grande participação de grandes propriedades e uso generalizado de maquinário pesado e moderno.
No sul de Minas Gerais, região responsável por um quarto da produção brasileira de café, metade da colheita está agora automatizada, ante 20% cinco anos atrás, disse o engenheiro agrônomo Luiz Reis, da Emater. Segundo outro produtor, Bruno Reguim Filho, o custo de colheita caiu de R$ 300 por hectare para R$ 100 reais, graças à automação. Reuters