Colheita de conilon na safra 2015/16 no ES, que também foi afetada pela seca
29 fev 2016 – Após duas safras com recuo na produção de café conilon, reflexo de problemas climáticos, o Espírito Santo vive a perspectiva de mais um ciclo negativo para a cultura. A escassez de chuvas, que assola o Estado desde 2014, pode prejudicar a produção de café conilon da temporada 2017/18, que só será colhida a partir de abril do ano que vem. O Estado é o maior produtor dessa espécie de café no Brasil.
A razão é que faltou chuva no Estado no período de desenvolvimento das plantas, que ocorre entre os meses de novembro e março. Ainda há um mês para o desenvolvimento, contudo, a escassez de chuvas persiste.
“As plantas não se desenvolveram para dar frutos na florada de 2016”, disse Edimilson Calegari, gerente geral da Cooperativa dos Cafeicultores de São Gabriel, em São Gabriel da Palha (Cooabriel), no norte do Estado. A florada acontece entre os meses de julho e outubro. “Vai ter florada, mas vai ser menor”, lamenta Calegari. Isso significa menor potencial de produção nos cafezais na safra 2017/18.
Marco Antonio, agrometeorologista da Somar, também chama a atenção para a falta de chuvas no Espírito Santo, que afetou o desenvolvimento dos cafeeiros. “É preciso ver se [a escassez de precipitação] já tem impacto na outra safra”, afirma.
Embora “tudo indique” que a próxima safra será afetada pelas adversidades climáticas, Romário Ferrão, coordenador do Programa Cafeicultura do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), pondera que a planta do conilon “tem poder de recuperação bastante agressivo”. Segundo ele, diante disso, ainda não é possível quantificar eventual prejuízo para a safra nova. “Temos que esperar para ver como estarão os pés de café depois da colheita [da safra 2016/17]”, afirma. Se estiverem com poucas folhas, com pouco vigor, e tiverem registrado pouco crescimento, o potencial de produção será afetado, explica.
O pesquisador acrescenta que houve renovação de cafeeiros nos últimos anos com variedades com maior potencial de produção, mais resistentes e que reagem quando as condições melhoram. “Se chover daqui para frente, [as plantas] podem se recuperar”, observa.
O menor volume de chuvas já teve efeitos deletérios para a atual safra de conilon, a 2016/17, do Espírito Santo, que começa a ser colhida no próximo mês de abril.
Pelas estimativas da Cooabriel, maior cooperativa produtora de conilon do país, a colheita no Estado deve ficar entre 6 milhões e 7 milhões de sacas no ciclo 2016/17, queda de 20% a 25% sobre a safra anterior.
A Conab é menos pessimista. Em sua primeira projeção para o atual ciclo, divulgada em janeiro, a autarquia estimou uma produção entre 7,466 milhões e 7,928 milhões de sacas. Segundo a Conab, no ciclo anterior, o Estado colheu 7,761 milhões de sacas.
Calegari afirma que as chuvas ficaram muito abaixo da média no Estado no ano que passou. Segundo ele, a média anual normal de chuvas é de 1.200 a 1.400 milímetros. Em 2015, foram 490 milímetros.
Cerca de 70% das lavouras de conilon do Estado são irrigadas, mas nos meses de outubro e novembro passados passou a haver restrição da água para irrigação em decorrência da seca. Para agravar o quadro, segundo Calegari, a falta de chuvas levou ao surgimento de pragas nos cafezais. “A florada foi boa em 2015, mas com a seca, a florada não pegou, e as pragas atacaram”.
O produtor José Carlos Kubit, de Águia Branca, no norte capixaba, tem cafezais irrigados e viu sua produção recuar na atual temporada. Ele não esconde o receio em relação à próxima safra. “A estiagem foi longa, faltou água e 90% das barragens secaram”, conta.
Kubit esperava produzir 4 mil sacas de café na safra 2016/17, uma vez que novas plantas entraram em produção em suas propriedades. Mas deve colher entre 2,5 mil e 2,8 mil sacas, abaixo até das 3,8 mil sacas que produziu no ciclo 2015/16.
O que vai acontecer na próxima safra, a 2017/18, ainda é uma incógnita. “Vai depender de quanto durar a estiagem”, afirma o cafeicultor, que, apesar da restrição de água, está conseguindo irrigar seus cafezais. Ele avalia que o período para as plantas se recuperarem até a florada é curto.
Por Alda do Amaral Rocha | De São Paulo
Fonte : Valor