A seca que atinge áreas de café de Minas Gerais, Estado que lidera a produção do grão no país, deverá causar grandes prejuízos aos cafeicultores. Em lavouras mais novas, as perdas poderão chegar a 50%, segundo relatos de produtores e informações da Cooxupé, maior cooperativa de cafeicultores do mundo.
Fernando Rocha, que planta café nos arredores de Alfenas, no Sul de Minas, disse que em seus 65 anos de vida nunca viu uma estiagem tão severa como a que afeta a região. Ele estima que a safra brasileira a ser colhida a partir de maio, a 2014/15, poderá ser 10 milhões de sacas menor que o inicialmente previsto por causa da seca. Rocha estimava colher 1 mil sacas, mas acredita que a produção será reduzida pela metade.
Segundo o produtor, a recente valorização da commodity em função da seca, que na bolsa de Nova York já chega a quase 30% desde o início do ano, não compensa o prejuízo. Rocha disse que mesmo se começar a chover nos próximos dias, como indicam as previsões meteorológicas, não conseguirá recuperar as perdas, porque as plantas vão tirar a água dos grãos, que ficarão murchos.
Na área que envolve o Sul de Minas, o Cerrado Mineiro e o Vale do Rio Pardo, em São Paulo, onde atua a Cooxupé, a quebra da safra deverá ficar em 30% em 2014/15, conforme o presidente da cooperativa, Carlos Alberto Paulino da Costa. No ano passado, foram colhidas nessa área por todos os cafeicultores, inclusive os não associados à Cooxupé, 9,8 milhões de sacas de 60 quilos.
Nesse cenário, a cooperativa deverá receber este ano 5,5 milhões de sacas, ante 4,6 milhões no ano passado. Apesar das adversidades, o volume ainda crescerá devido à bienalidade que marca a cultura, que alterna um ano de boa produtividade com outro de menor rendimento. A cooperativa tem 11,5 mil associados. Desse total, 8,4 mil produzem café. As exportações da Cooxupé deverão alcançar 3 milhões de sacas em 2014, ante as 2,8 milhões de 2013.
A situação para a próxima colheita, em 2015, também já é crítica, conforme o vice-presidente Carlos Augusto Rodrigues de Melo. E não só por causa da atual estiagem. Também houve queda de investimentos em fertilização e tratos culturais em geral em decorrência da forte retração dos preços no ano passado.
Mauro de Souza Siqueira, que tem uma propriedade em Botelhos, no Sul de Minas, disse que muitos produtores não conseguiram fazer a segunda adubação e que, por isso, terão mais prejuízos com a seca. Ele estima uma quebra entre 20% e 30% na região, embora afirme que suas lavouras não apresentam problemas porque estão bem nutridas, com duas adubações. “Se não chover, contudo, vai ficar preocupante”.
Siqueira disse ainda que muitos produtores que cultivaram mudas em janeiro perderam tudo. Até as irrigadas estão sendo abandonadas, já que o custo para mantê-las não compensa. Ele cultiva 100 hectares de café e deverá colher 2,5 mil sacas.
A estiagem também é severa na Alta Mogiana Paulista, tradicional polo de café do Estado, onde a quebra de safra poderá chegar a 40%, segundo Daniel Alves Carrijo, coordenador de implementos e máquinas da Cocapec, cooperativa que atua na região. Normalmente, a produção poderia atingir 1,5 milhão de sacas.
Os problemas para a safra mineira acontecem em um momento de demanda “extremamente aquecida”, segundo Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé. Torrefadores e importadores acreditavam que comprariam estoques baratos por conta de uma safra grande, mas agora estão com estoques baixos.
Segundo Archimedes Coli Neto, presidente do Centro do Comércio de Café do Estado de Minas Gerais e gerente da área de compras da Stockler Comercial e Exportadora, do grupo alemão Neumann Kaffee, a demanda maior pelo café brasileiro ocorre por vários motivos. Entre eles estão a própria seca no Brasil, o recuo das exportações do Vietnã (segundo maior produtor mundial) e os estoques europeus mais baixos.
Coli Neto disse que os prejuízos com a seca brasileira ainda não foram totalmente “precificados” no exterior, onde as informações sobre as adversidades têm chegado desencontradas, o que pode significar novas valorizações de preço.
Ele calcula que, mesmo com as perdas, mas com a bienalidade da safra, as exportações do país ficarão entre 33 milhões e 35 milhões de sacas neste ano, ante as 31 milhões de 2013. Se confirmado o aumento, será uma retomada aos níveis do fim da década passada.
Fonte: Valor Econômico