Produção de arábica deve subir novamente depois de uma florada muito boa e levar a uma colheita considerável no País
Os temores com a seca nas áreas produtoras de café arábica do Brasil diminuíram, mas os reflexos das condições climáticas desfavoráveis deixam as perspectivas para o robusta em 2017 menos otimistas, além disso, as preocupações também têm crescido em outros países produtores.
Judith Ganes-Chase, analista de soft commodities de longa data, aposta em uma forte recuperação para a variedade arábica neste ano no Brasil – maior produtor do grão –, após ter a produção ameaçada pela seca em 2014 e 2015.
“A produção de arábica deve subir novamente depois de uma florada muito boa e levar a uma colheita considerável no País”, disse Ganes-Chase reconhecendo algumas preocupações com a seca em algumas áreas de cultivo do Norte.
‘Os maiores volumes’
As observações se enquadram com estimativas de outros especialistas, como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que estimou a safra de arábica em 38,4 milhões de sacas de 60 kg, um aumento de 12,8% em relação a temporada anterior, liderada por um salto de 21% na produção de Minas Gerais, maior estado produtor da variedade no Brasil.
A Conab, Companhia oficial de abastecimento brasileira, projetou a colheita entre 37,7 milhões e 39,9 milhões de sacas, acima das 32 milhões de sacas do ano passado, enquanto que o Cepea acredita em números ainda maiores.
No Cerrado e região Sul de Minas Gerais, “agentes estão apostando em maiores volumes do que o apontado pela Conab”, disse o Cepea, ligado à USP (Universidade de São Paulo).
No Sul de Minas Gerais, a produção pode atingir 14,7 milhões de sacas, ante as 14,4 milhões que Conab está prevendo.
‘Produção de robusta comprometida’
Ganes-Chase adverte uma queda na produção de café robusta do Brasil por conta da seca no Espírito Santo, o principal produtor da variedade.
“Pelo segundo ano consecutivo a produção de robusta está comprometida”, disse ela, alertando que o grão do Brasil, segundo maior produtor de robusta depois do Vietnã, pode não subir para os níveis de 11,4 milhões a 12,1 milhões de sacas esperadas pela Conab ante as 11,2 milhões de sacas colhidas no ano passado.
“Enquanto o mercado esperava que a produção pudesse se recuperar moderadamente após o período de seca em outubro, agora há a possibilidade de que a colheita seja menor do que a do ano passado”.
Como o café depende, em parte, da exuberância do crescimento da vegetação do ano anterior, há ainda “a possibilidade de que a produção em 2017/18 possa não se recuperar totalmente se as chuvas necessárias não começarem a cair em breve”.
Clima adverso em outros países
As condições climáticas também influenciaram a produção de outros países, incluindo a Colômbia, onde Ganes-Chase diz que a boa colheita em 2015/16, iniciada em outubro, ‘não vai perdurar’.
“A Colômbia também teve tempo seco no início da temporada e essas condições podem continuar”, disse ela.
Na Etiópia, maior país produtor da África, “tivemos uma seca irregular”, evidente, principalmente, em áreas que crescem outras culturas, mas que fazem com que as condições “não sejam ideais para o cultivo de café também”.
‘Respostas do mercado’
Ganes-Chase acrescenta: “Todas estas questões climáticas criaram incertezas e maior variabilidade sobre como será a produção nesta temporada e na próxima, e os mercados certamente começam a responder”.
Os futuros do café arábica em Nova York têm encenado uma recuperação após chegar em 111,05 centavos de dólar por libra-peso no mês passado.
Os futuros do robusta em Londres reavivaram o preço de US$ 1318,00 por tonelada há três semanas, o que representou o patamar mais fraco para um contrato à vista em quase cinco anos.
No mercado interno do Brasil, as estimativas divergentes paras as culturas do arábica e robusta foram refletidas em prêmios enfraquecidos de até R$ 87,25 por bolsa, de acordo com o Cepea, uma queda de 25% até agora neste ano.
Em termos percentuais, o prêmio do arábica, em 22,1%, é o mais baixo em dois anos.
Fonte: Agrimoney