AGRONEGÓCIOS / 26/03/2008
Daniela D’Ambrosio e Mônica Scaramuzzo
A gigante Sara Lee fechou um acordo com o grupo Maratá, terceira maior torrefadora de café do Brasil, para expandir suas vendas no Nordeste. Por este acordo, a Maratá industrializa, empacota e distribui os produtos da multinacional americana naquela região. O entendimento entre as duas empresas é visto no mercado como mais um passo consolidador da Sara Lee. Mas a companhia nega uma eventual aquisição.
Líder no varejo em vendas no Brasil, a multinacional chegou ao Brasil em 1998, quando comprou as marcas Café do Ponto e Seleto. Em 2000, adquiriu de uma só tacada as marcas União, Pilão e Caboclo, com maior atuação na região centro-sul do país.
Agora, por meio desse acordo, a Sara Lee passa a utilizar as instalações da torrefadora Maratá em Itaporanga d’Ajuda, no Sergipe, sede da empresa, e passa a ter o controle da produção das suas marcas naquela região, segundo um executivo da múlti. Esta mesma estratégia foi adotada pela gigante para avançar no Rio de Janeiro – por meio de um acordo com a Socan -, afirmam fontes do segmento.
O movimento de nacionalização das marcas de café deve se tornar uma tendência entre as maiores torrefadoras do país. O grupo alemão Melitta informou, em recente entrevista ao Valor, que deverá expandir seus negócios no Nordeste. A própria Sara Lee já possui um centro de distribuição naquela região, mas preferiu adotar uma estratégia mais eficiente para que seus produtos tenham um alcance maior nas gôndolas de supermercados.
Segundo Nathan Herszkowicz, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o movimento de expansão não se limita aos grupos do centro-sul do país. “Grandes empresas do Nordeste também estão expandindo seus negócios para as regiões Sul e Sudeste”, diz. O caso mais recente foi o da Santa Clara, vice-líder no mercado nacional, que se associou no início do ano passado à israelense Strauss-Elite, detentora da marca Três Corações, por meio de uma joint venture.
“No topo das maiores torrefadoras de café do país estão duas empresas nordestinas [Santa Clara e Maratá, respectivamente a segunda e a terceira no ranking]”, afirma Herszkowicz.
De gestão familiar, a Maratá foi fundada há 50 anos e atua há 25 anos em café. O grupo sergipano também tem uma divisão de suco de laranja, que representa 15% do faturamento da companhia, estimado em R$ 500 milhões. O grupo começou como beneficiador de fumo no Sergipe, atividade que mantém até hoje, e depois diversificou para café, suco, produção de vinagre e temperos. A Maratá também investe na área de bebidas destiladas e vinhos, e atua na área de embalagens plásticas e filmes flexíveis. Procurado pelo Valor, o grupo não retornou às ligações.
Segundo Herszkowicz, a região Nordeste virou alvo de “desejo” de várias empresas de alimentos. “Os mercados de café torrado e moído e solúvel também crescem na região.” No país, o consumo per capita de café está estimado entre 4,5 e 5 quilos.
Extremamente pulverizado, com cerca de 1.200 torrefadoras e mais de 2 mil marcas de café no país, o movimento de aquisições tem se concentrado, sobretudo, na região centro-sul nos últimos anos. A Sara Lee, com faturamento líquido global de US$ 12,3 bilhões, ainda é o grande player neste mercado, considerando que nos últimos dez anos realizou cinco importantes aquisições. As fusões e aquisições neste setor ainda são consideradas tímidas. Em um segmento onde as marcas regionais se destacam, sobretudo as de Minas Gerais, a gigante americana traça suas estratégias para se manter presente nas principais regiões do país.