Santos contabiliza perdas com incêndio na Ultracargo

Por: Valor Econômico

Porto Terminais, operadores, prefeitura e até sindicato começam a levantar prejuízos e falam em ressarcimento


Passados quase 20 dias do fim do incêndio na Ultracargo, em Santos (SP), empresas que tiveram as operações prejudicadas pela interdição parcial do porto calculam o prejuízo e se preparam para entrar na Justiça – caso o seguro da Ultracargo não cubra os danos a terceiros. As apólices de responsabilidade civil não cobrem prejuízos resultantes de ações ou omissões, nem decorrentes do não cumprimento de normas legais e regulamentares.


A Polícia Civil, que apura a causa do incêndio, tem 30 dias para concluir o inquérito, mas ele pode ser sucessivamente renovado. O incêndio durou de 2 a 10 de abril, restringindo a movimentação de caminhões na margem direita do porto e prejudicando a operação de todos os terminais desse lado. O Valor apurou que há terminais estudando se caberia pedir ao governo o reequilíbrio econômico financeiro do contrato da área arrendada no porto devido às perdas de movimentação.


“Por enquanto temos fôlego para esperar”, diz o presidente da Brasil Terminal Portuário (BTP), Antonio Passaro. A BTP foi uma das instalações mais afetadas. Ficou parada por nove dias. Inaugurado em 2013, o terminal da BTP fica próximo à Ultracargo e serviu de passagem para as mangueiras usadas no bombeamento de água do canal do porto para resfriar os tanques.


Mesmo depois do fogo aplacado, a BTP reabriu subaproveitada porque a avenida portuária permaneceu interditada para os trabalhos de rescaldo e reparos na via – somente na semana passada voltou à plena carga. No total, a BTP perdeu 20 janelas de atracação de navios, deixando de embarcar ou desembarcar cerca de 20 mil contêineres – o equivalente a 25% do que o terminal faz por mês. Segundo Passaro, o dano financeiro ainda está sendo computado, mas não é possível dizer que o impacto no faturamento foi proporcional à queda dos volumes, pois há diferentes preços para cada tipo de contêiner. “Não é só questão de carga e descarga dos navios, é tudo o que vem atrás, serviços como armazenagem e outros que prestamos tanto aos armadores quando aos importadores e exportadores”. Contudo, o executivo disse que os clientes não pediram contrapartida pela paralisação do terminal. “Primeiro será feita uma tentativa de composição amigável, e, se isso não for possível, o caminho natural será uma ação”, disse um operador portuário que pediu sigilo. Ele perdeu a movimentação de cerca de 2 mil veículos e pelo menos um navio, além de contêineres que ficaram presos.


A Caterpillar, fabricante de máquinas e veículos pesados, sofreu atraso em uma linha de produção no Brasil porque cargas importadas ficaram retidas. “Tivemos de fazer um contingenciamento interno na nossa fábrica”, informou a assessoria da empresa. Houve atraso no processo de produção, mas que não comprometeu o resultado final, afirmou a empresa de origem americana.


A Volkswagen também sofreu atrasos na movimentação de cargas no porto, mas os danos foram minimizados porque ela usou os terminais localizados na outra margem do cais, em Guarujá.


No T-Grão, as operações de embarque caíram pela metade durante o incêndio. Normalmente são embarcadas 20 mil toneladas/ dia no navio e naquele período o volume caiu para 10 mil toneladas/ dia. Da mesma forma, nos dias normais o terminal recebe cerca de 250 caminhões por dia e, durante o incêndio, passou a atender 60. Sobre prejuízos financeiros, o T-Grão disse não ter como quantificar o dano, mas informou, via assessoria de imprensa, que “o prejuízo foi grande”.


Também afetado, o Ecoporto Santos ainda está contabilizando os prejuízos e não tem um posicionamento fechado a respeito dos procedimentos jurídicos que serão adotados.


Assim como as empresas, a Prefeitura de Santos está levantando os danos para pedir ressarcimento à Ultracargo. “Desde a alimentação dos bombeiros até a perda de receita”, disse o secretário de Assuntos Portuários e Marítimos de Santos, Eduardo Lopes. A atividade portuária responde por dois terços da economia da cidade e é a principal fonte de arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS) do município.


O Sindicato dos Trabalhadores na Movimentação de Mercadorias em Geral e dos Arrumadores de Santos e região entrou na Justiça contra a Ultracargo. A associação pleiteia a indenização por danos morais e materiais causados aos trabalhadores e ao sindicato, que faz a intermediação dessa mão de obra avulsa. “O trabalhador ficou parado durante dez dias. Foram 500 postos de trabalho que deixaram de ganhar, o equivalente a R$ 700 mil em perdas”, disse presidente do sindicato, Francisco Pereira.


A Ultracargo foi multada pela Cetesb em R$ 22,5 milhões pelos danos ambientais, mas está estudando formas de reduzir o valor. Só de espuma comprada para abafar o fogo a empresa gastou R$ 30 milhões.

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