Empresa com sede no Ceará deverá estrear na lista das dez maiores empresas do setor em 2005
Maior produtor e exportador mundial de café verde (em grãos), o Brasil começa a conquistar espaço entre as maiores indústrias torrefadoras do mundo. A empresa nacional Santa Clara, com sede no Ceará, deverá fazer sua estréia no ranking das dez maiores este ano, um feito inédito para o país. A lista é tradicionalmente encabeçada pelas gigantes Nestlé e Kraft Foods – líder e vice-líder, respectivamente .
O Valor procurou tradings, indústrias e a Organização Internacional do Café (OIC) e apurou que a Santa Clara, que neste ano deverá processar 1,2 milhão de sacas de café em grão para a produção de torrado e moído, poderá desbancar as multinacionais Segafredo Zanetti (Itália) e Melitta (Alemanha), que em 2004 ocuparam, a nona e a décima posições neste ranking, respectivamente, segundo os dados da OIC. Analistas da própria organização estimam que a companhia brasileira poderá ocupar o lugar de uma dessas duas empresas.
A entrada de uma torrefadora brasileira no ranking das maiores coloca o país em um patamar hoje ocupado por grandes multinacionais, sediadas em países com pouca ou quase nenhuma tradição no plantio de café.
Mas, apesar de passar a figurar nesta lista, a Santa Clara ainda tem poucas chances de competir de igual para igual com as gigantes no mercado externo, segundo uma fonte de uma grande trading internacional. Hoje a participação da Santa Clara no exterior é praticamente nula. “A empresa é grande no Brasil, que é o segundo maior mercado consumidor mundial [atrás dos Estados Unidos]”, destaca a mesma fonte. A companhia ainda carece, entretanto, de uma postura mais agressiva para avançar no exterior, ainda conforme a fonte.
Em uma estratégia marcada pela expansão da produção do Nordeste para o Centro-Sul do país, a Santa Clara – a segunda maior torrefadora brasileira, atrás da múlti Sara Lee – está conquistando mais espaço no território nacional. No exterior, a empresa ainda patina, mas dá seus primeiros passos para se consolidar no mercado internacional. “Estamos reposicionando nossos planos no exterior”, afirma Pedro Alcântara, presidente do grupo. O empresário disse que ainda não tem planos definidos para o exterior. “Mas estamos estudando nossa estratégia para o ano que vem”, adianta o executivo.
As exportações de torrado e moído da Santa Clara não representam ainda nem 2% do que a empresa processa – cerca de 1,2 milhão de sacas. A empresa trabalha para que esses volumes atinjam entre 5% e 10% nos próximos três anos. No mercado interno, entretanto, a postura da empresa é mais agressiva.
Com um faturamento estimado em R$ 550 milhões para este ano, a empresa planeja investir em uma nova torrefadora no Sudeste do país. A empresa já está no Rio desde 2003, com a aquisição da Pimpinella. No Sul e no Sudeste, a empresa está presente por meio de marcas próprias da bandeira Pão de Açúcar, mas também atua com sua marca, a Santa Clara. Fundada há 46 anos, sob gestão familiar, a companhia conta com três fábricas na região Nordeste. “As segundas gerações das famílias que comandam as indústrias de café no Brasil já começaram a adotar planos para expandir seus negócios fora do país”, afirma Alcântara.
Nathan Herszkowicz, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), lembra que o setor é pulverizado, com cerca de 1.100 indústrias em todo país. “As maiores empresas nacionais estão trabalhando para aumentar sua participação no exterior.” Nos Estados Unidos e na Europa, com exceção da Itália, o setor torrefador é mais concentrado, com grandes, mas poucas empresas como players no mercado internacional.
As exportações de café torrado e moído no Brasil deverão alcançar US$ 15 milhões em 2005, segundo a Abic. Se confirmadas as expectativas, o crescimento será de 70% em relação ao ano anterior. Para 2006, as primeiras estimativas das indústrias são de que as receitas com exportações alcancem cerca de US$ 20 milhões.