Santa Clara entre as grandes torrefadoras de café do mundo

Empresa com sede no Ceará deverá estrear na lista das dez maiores empresas do setor em 2005

29 de novembro de 2005 | Sem comentários Consumo Torrefação
Por: Valor Econômico por Mônica Scaramuzzo De São Paulo

Maior produtor e exportador mundial de café verde (em grãos), o Brasil começa a conquistar espaço entre as maiores indústrias torrefadoras do mundo. A empresa nacional Santa Clara, com sede no Ceará, deverá fazer sua estréia no ranking das dez maiores este ano, um feito inédito para o país. A lista é tradicionalmente encabeçada pelas gigantes Nestlé e Kraft Foods – líder e vice-líder, respectivamente .

O Valor procurou tradings, indústrias e a Organização Internacional do Café (OIC) e apurou que a Santa Clara, que neste ano deverá processar 1,2 milhão de sacas de café em grão para a produção de torrado e moído, poderá desbancar as multinacionais Segafredo Zanetti (Itália) e Melitta (Alemanha), que em 2004 ocuparam, a nona e a décima posições neste ranking, respectivamente, segundo os dados da OIC. Analistas da própria organização estimam que a companhia brasileira poderá ocupar o lugar de uma dessas duas empresas.

A entrada de uma torrefadora brasileira no ranking das maiores coloca o país em um patamar hoje ocupado por grandes multinacionais, sediadas em países com pouca ou quase nenhuma tradição no plantio de café.

Mas, apesar de passar a figurar nesta lista, a Santa Clara ainda tem poucas chances de competir de igual para igual com as gigantes no mercado externo, segundo uma fonte de uma grande trading internacional. Hoje a participação da Santa Clara no exterior é praticamente nula. “A empresa é grande no Brasil, que é o segundo maior mercado consumidor mundial [atrás dos Estados Unidos]”, destaca a mesma fonte. A companhia ainda carece, entretanto, de uma postura mais agressiva para avançar no exterior, ainda conforme a fonte.

Em uma estratégia marcada pela expansão da produção do Nordeste para o Centro-Sul do país, a Santa Clara – a segunda maior torrefadora brasileira, atrás da múlti Sara Lee – está conquistando mais espaço no território nacional. No exterior, a empresa ainda patina, mas dá seus primeiros passos para se consolidar no mercado internacional. “Estamos reposicionando nossos planos no exterior”, afirma Pedro Alcântara, presidente do grupo. O empresário disse que ainda não tem planos definidos para o exterior. “Mas estamos estudando nossa estratégia para o ano que vem”, adianta o executivo.

As exportações de torrado e moído da Santa Clara não representam ainda nem 2% do que a empresa processa – cerca de 1,2 milhão de sacas. A empresa trabalha para que esses volumes atinjam entre 5% e 10% nos próximos três anos. No mercado interno, entretanto, a postura da empresa é mais agressiva.

Com um faturamento estimado em R$ 550 milhões para este ano, a empresa planeja investir em uma nova torrefadora no Sudeste do país. A empresa já está no Rio desde 2003, com a aquisição da Pimpinella. No Sul e no Sudeste, a empresa está presente por meio de marcas próprias da bandeira Pão de Açúcar, mas também atua com sua marca, a Santa Clara. Fundada há 46 anos, sob gestão familiar, a companhia conta com três fábricas na região Nordeste. “As segundas gerações das famílias que comandam as indústrias de café no Brasil já começaram a adotar planos para expandir seus negócios fora do país”, afirma Alcântara.

Nathan Herszkowicz, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), lembra que o setor é pulverizado, com cerca de 1.100 indústrias em todo país. “As maiores empresas nacionais estão trabalhando para aumentar sua participação no exterior.” Nos Estados Unidos e na Europa, com exceção da Itália, o setor torrefador é mais concentrado, com grandes, mas poucas empresas como players no mercado internacional.

As exportações de café torrado e moído no Brasil deverão alcançar US$ 15 milhões em 2005, segundo a Abic. Se confirmadas as expectativas, o crescimento será de 70% em relação ao ano anterior. Para 2006, as primeiras estimativas das indústrias são de que as receitas com exportações alcancem cerca de US$ 20 milhões.

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