RURAL
02/08/2008
Saneamento rural nas mãos das mulheres
A tecnologia é eficaz. A gerência está a cargo dos grupos femininos da Copacol
Celso Pacheco e Célia Guerra
Análises na qualidade da água de 24 minas existentes em propriedades rurais, em Cafelândia, no oeste do Estado, chamou a atenção para um problema recorrente. Das amostras, apenas uma das minas teve a água aprovada para o consumo. As demais estavam contaminadas por coliformes fecais e totais. Praticamente todas as nascentes analisadas eram utilizadas para o abastecimento das casas dessas propriedades.
A falta de saneamento básico é a principal causa da contaminação. Na ausência da rede de esgoto, a destinação mais comum para o dejetos sanitários são as fossas negras ou até mesmo esgotos a céu aberto que contaminam lençóis freáticos e poços caseiros, problema que afeta cerca de 90% da população do campo, trazendo sérios riscos à saúde.
O levantamento foi realizado em março de 2002, como uma das primeiras iniciativas da Cooperativa Agroindustrial Consolata (Copacol), em busca de ações para os grupos femininos recém criados. Mas este ano, com uma tecnologia comprovadamente eficiente nas mãos – a fossa séptica biodigestora -, a solução para a falta de saneamento básico na zona rural foi assumida como meta pelas esposas e filhas de associados.
”Cabe à mulher a responsabilidade pela educação e formação na família. Então, seriam elas também a melhor opção para fomentar mudanças pela melhoria da qualidade de vida na propriedade”, justifica Elizete Lunelli Dal Molin, assessora de cooperativismo que coordena os grupos femininos. A tecnologia, criada pelo pesquisador Antonio Pereira de Novaes, da Embrapa Instrumentação Agropecuária, de São Carlos (SP), tem sido apresentada às participantes nas tardes de campo organizadas pela cooperativa. O sistema desvia o esgoto dos vasos sanitários para caixas de amianto ou fibra de vidro, nas quais um processo anaeróbico de fermentação elimina todos os elementos patogênicos existentes nas fezes humanas (veja matéria nesta página).
O sistema das fossas já foi instalado em três propriedades, nos municípios de Cafelândia, Nova Aurora e Formosa do Oeste, que funcionam como vitrines da tecnologia. Nestes locais ocorrem as tardes de campo. Além de ver in loco o funcionamento do sistema, as participantes recebem folders explicativos, elaborados pela Embrapa. Até setembro mais duas fossas vão ser montadas também em Cafelândia e Formosa do Oeste (esta na área de um grupo feminino que atende o município de Jesuítas). A iniciativa já rende resultados na região. ”Em Nova Aurora, um produtor já instalou o sistema em sua propriedade”, informa Elizete.
Além das fossas sépticas, os grupos femininos estão mobilizados também com a proteção das minas. Nessas ações a Copacol tem apoio da Emater e do Serviço de Educação de Cooperativismo (Sescoop-PR).
A propriedade de Márcia Depieri Roecker, na comunidade Alto Alegre, em Nova Aurora, é uma das vitrines do sistema de tratamento de esgoto. Há 15 dias foi retirado o primeiro volume de adubo orgânico produzido pelas fossas biodigestoras e o destino do produto foram os jardins do sítio.
Márcia diz que ainda não foi possível avaliar resultados do adubo nas flores, mas está satisfeita com o método de tratamento do esgoto sanitário. Ela e o esposo Ildo, apaixonados pela natureza, estão investindo no potencial da propriedade para o turismo rural e vêem o sistema como mais uma atração para as pessoas que visitam o local.