fonte: Cepea

Safra de café pode aumentar para 43 milhões de sacas

Tomas Okuda

31 de janeiro de 2006 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: Estadão








Redução de
estoque eleva preço do grão para US$ 135 a saca de 60 kg; em 2002, valia US$
40

O mercado
mundial de café tem
mostrado vigor como não se via há pelo menos sete anos. Prova disso é a
consistente ascensão dos preços do grão, depois de queda recorde em 2002.
Naquele ano, a saca de 60 quilos chegou a ser negociada a US$ 40. Agora, vale
cerca de US$ 135.

A virada do mercado veio com a gradativa redução da
oferta nos países produtores, por causa da baixa rentabilidade da cultura nos
últimos anos. Mais recentemente, a disponibilidade de café ficou ainda mais curta em virtude de
problemas climáticos no Vietnã (seca) e em países da América Central e México
(tempestades e furacões).

Nesse cenário, as atenções estão voltadas para
o Brasil, maior produtor e exportador mundial. A safra 2006/2007, cuja colheita
começa entre abril e maio, está estimada entre 40,4 milhões e 43,6 milhões de
sacas, ou 10 milhões de sacas a mais que no período anterior. “Se na safra
2006/2007 o País terá café suficiente,
o mesmo não ocorrerá nos próximos três ciclos”, prevê o corretor Rodrigo Costa,
da Fimat Futures, em relatório distribuído aos clientes. Segundo ele, embora
mais altos, os atuais preços não encorajam a produção, com exceção do Brasil e
Vietnã, onde os custos são baixos. Mesmo assim, o Vietnã tem escassas áreas
irrigáveis. No Brasil, há consenso de que o plantio desenfreado resulta em
excesso de oferta e queda dos preços. Os produtores procuram, então,
diversificar lavouras, com outras culturas como soja e cana. Na melhor das
hipóteses, o nível de oferta no País deve ser garantido pelo parque cafeeiro,
avaliado em 6 bilhões de pés, cuja maior parte teria menos de 10 anos e estaria
em condições de produzir bem. “É improvável que a oferta dê saltos maiores que
os já conhecidos”, diz Costa.

Ele ressalta que não há mais espaço para
quebra de produção ou perda de estoques. “Isso justifica por que acreditamos que
a volatilidade dos preços será muito alta dentro dos períodos de risco (estiagem
e geadas) e que as cotações podem alcançar níveis nunca negociados se algo
ocorrer.”

Quanto à demanda, acredita-se que a evolução de 1,5% a 2% ao
ano será mantida, acompanhando o crescimento da população. O presidente da
Tristão Comércio Exterior, Sérgio Tristão, diz que a demanda mundial por
café nos próximos 5 anos deve
crescer em cerca de 10 milhões de sacas de 60 kg. “Considerando a taxa média de
crescimento do consumo, em 5 anos vamos precisar de mais 10 milhões de sacas”,
informa. Ele projeta o consumo global em 2006/2007 de 120 milhões de sacas, para
uma produção de 110 milhões de sacas.

Tristão concorda que outros
produtores, como Vietnã, Índia e Colômbia, têm pouco potencial de produção e
competitividade se comparados ao Brasil. Mas faz uma ressalva: “Se não houver
fomento, ou seja, preços remuneradores aos produtores, problemas de oferta podem
surgir já em 2007/2008”.

Costa avalia que dois fatores devem ser
acompanhados de perto: o ritmo de exportação dos países produtores nos cinco
primeiros meses do ano e a utilização dos estoques.

O corretor calcula
que o consumo brasileiro de café entre janeiro e maio seja de 6,5
milhões de sacas. Considerando exportação de 1,6 milhão de sacas por mês, no
início da safra 2006/2007, em junho, o Brasil terá apenas 2 milhões de sacas em
estoque. Costa diz que é difícil precisar quais os estoques brasileiros, mas
mesmo que estejam 3 milhões de sacas acima do estimado, são impróprios para
exportar.

Até maio, o volume de café disponível no mercado físico será
menor em virtude da entressafra. A forma de atender a demanda será a desova dos
estoques. O diretor da exportadora Marcelino Martins & Johnson, Sérgio
Wanderley, estima que os armazéns contenham 20 milhões de sacas nos países
consumidores. Segundo ele, o volume é elevado, considerando a média histórica de
10 milhões de sacas, e pode manter o equilíbrio de oferta e demanda.

Mas
o mercado não tem respeitado esse número. Os fundos de investimento abriram 2006
dispostos a apostar no mercado futuro de café. Na Bolsa de Nova York, os fundos
passaram de saldo líquido “vendido” no fim de 2005 para “comprados” em atuais 20
mil lotes (cerca de 6 milhões de sacas, ou metade do que a maior torrefadora do
planeta processa em um ano). A indústria continua menos “comprada” na Bolsa do
que o ideal. Os países produtores vendem nas altas de preços, mas com menos
força do que se imaginava. Esta, conclui Costa, é a receita para forte alta de
preços.

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