Safra de café 2014/2015 e 2015/2016 – O que é Fato e o que é boato!

por Janio Zeferino da Silva



Dizem os entendidos em café que: “que nunca se sabe tudo de café porque cada safra é diferente das que passaram” e “que café vive mais de boatos do que de fatos”.


Concordo em parte com o paradigma de que cada safra traz novos ensinamentos e surpresas, porque tudo na vida está em constante mudança e evoluindo, por isso é que a vida não se repete.


Quanto aos boatos e os fatos, o que mudou é a velocidade da sua disseminação e os estragos que produz na cadeia produtiva.


Hoje, uma palavra dita em Varginha em poucos minutos chega a Bolsa de Nova York e impacta dos preços para cima ou para baixo. Portanto, a responsabilidade e custo das opiniões ganha ainda mais relevância.


Da mesma forma, um fato comprovado nas Matas de Minas também tem esse poder de mudar expectativas, estratégicas e mexer com o mercado.


Com relação a safra atual, desde junho/2013 se sabia que a safra seria menor por conta de alguns fatores tais como:


– baixo trato cultural pela queda de preços;


– antecipação de tratos culturais em lavouras mais antigas para reduzir custos de produção;


– erradicação e abandono de lavouras no Paraná, São Paulo e Minas Gerais;


– geadas que praticamente aniquilaram os cafezais paranaenses.


Esses fatos não são novidades, e, mesmo considerando que a safra 2013/2014 seria de bianualidade positiva era consenso que não haveria aumento na produção.


Para completar o quadro tivemos o calor excessivo no início de 2014 que foi a pá de vale na produção e na produtividade das lavouras de arábica com impactos significativos global, salvando-se as lavouras irrigadas e alguma microcosmos privilegiados.


Desde então estamos assistindo periodicamente opiniões de “especialistas” e lideranças prevendo produções de 40 a 60 milhões de sacas neste ano.


Porque os números são tão díspares?


A razão principal é o interesse de quem os produz e divulga, já que esses prognósticos causam oscilações nas bolsas de café do Mundo e atendem interesses imediatistas de elevação ou queda de preços e como sempre o produtor é quem paga a conta das oscilações.


Além disso, temos a CONAB e o IBGE divulgando previsões oficiais com bases de dados diferentes e que sempre causam confusões em leituras apressadas dos números produzidos. Enquanto a CONAB olha a safra em função das expectativas de produção e pondera a bianualidade, o IBGE compara a produção esperada com a safra passada gerando indicadores conflitantes. E aí, “especialistas” tiram vantagem dos números para tentar influir nos preços futuros e no mercado à vista.


Somando-se a esse burburinho ainda tem o estoque de passagem que é outro fator que desestabiliza as cotações por conta das discrepâncias entre os dados oficiais e os de mercado.


Neste ano, ouvimos dizer que o Brasil tem café suficiente para atender o mercado internacional até 2016 o que momentaneamente reduziu preços presentes e futuros.


Porém, o fato é que desde o início do ano os importadores aceleram o ritmo de compras e já se garantiram até o final do ano a preços remuneradores para o produtor quando comparados o valor pago em 2013, mas que serão ainda menores que os que pagarão em 2015.


Uma conta simples explica a real possibilidade de bons preços em 2015:


Estoque de passagem – 16 a 19 milhões sacas
Safra 2013-2014          – 43 a 45 milhões sacas
Consumo interno          – 20 a 22 milhões sacas
Exportação                    – 34 a 36 milhões sacas
Estoque para 2015        –  5  a  6 milhões sacas


Com um volume tão baixo em janeiro/2015 não teremos café nem para cumprir os compromissos iniciais de exportação e consumo interno razão pela qual os importadores anteciparão compras e firmarão contratos para assegurar suprimento, já que em 1 ano nenhum país consegue suprir essa demanda e nem considerei o aumento do consumo mundial estimado entre 2 a 3% pela OIC.


Portanto, acredito que a safra 2014/2015 ainda será uma safra com baixa produção por conta do clima e da resposta que a planta dará aos tratos culturais e que em 2016 voltaremos a normalidade se nada de novo em termos de clima acontecer.


Diante disso, penso que a estratégia ideal é fazer vendas programadas que garantam lucro, já que “produto na tulha” como se dizia antigamente não é dinheiro e nem reserva de valor e os riscos de especular no mercado não compensam a segurança de uma lavoura bem cuidada e do dinheiro em caixa para aproveitar as boas oportunidades que sempre surgem.


 


Janio Zeferino da Silva
Consultor em agronegócios

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.