Comentário Semanal – de 17 a 21 de novembro de 2014
Indicadores econômicos mais fracos para as economias da zona do Euro, China e Japão tiveram na sequência anúncios de novos estímulos e movimentações de líderes que resultaram em altas dos ativos de risco – as bolsas americanas fizeram uma nova alta histórica, para variar.
Na Europa o presidente do banco central mudou algumas palavras para repetir promessas de que vai ampliar, se necessário, as compras de títulos para estimular inflação na região. No Japão foi adiado aumento de impostos e o primeiro-ministro antecipou eleições. Entretanto o destaque, principalmente para os mercados de commodities, foi o Banco Central Chinês cortar os juros pela primeira vez desde julho de 2012, provocando um rally nas matérias-primas e ajudando o Real a valorizar – o último também recebeu a contribuição do vazamento de informações da nomeação de alguns ministros pela presidente Dilma Roussef.
O café em Nova Iorque teve uma semana volátil tanto para o spread do dezembro/março como no futuro isoladamente. No último dia antes do começo do período de entrega do contrato de dezembro o spread firmou para incríveis US$ -1.70 cts/lb, saindo de US$ -4.30 cents, pegando de surpresa quem ainda precisava fazer rolagem de seus shorts (posição vendida). No dia seguinte houve uma puxada de mais de US$ 6.20 centavos em todos os contratos em aberto, muito em função de cobertura de vendidos (do pessoal de curto-prazo), colocando o mercado acima de US$ 200.00 cents. A alegria durou pouco pois na quinta-feira, feriado em São Paulo, o arábica despencou US$ 10.25 centavos com facilidade, negando a alta e desenhando uma figura técnica negativa.
Alguns analistas culparam a queda dos preços pela revisão da safra corrente brasileira (14/15) pelo USDA, que aumentou de 49.5 para 51.2 milhões de sacas sua estimativa. O órgão incrementou o arábica de 33.1 para 34.2 milhões, e o conillon de 16.4 para 17 milhões, justificando uma melhora na produtividade. Claro que muitos questionam o volume, mas a percepção geral não foi tão negativa como refletido pelas cotações, já que de certa forma muitos acham natural uma reavaliação para comportar as exportações elevadas brasileiras junto com um consumo interno grande.
Os produtores ficaram desacorçoados com os números, compreensível ainda mais pelos que viram sua produção cair bastante em função da seca. Na sexta-feira uma respeitada trading mundial divulgou seu relatório trimestral mantendo as suas estimativas para o Brasil em 47 milhões de sacas, considerando 32.3 de arábica e 15.7 milhões de conillon – como se vê não é tão grande a diferença da produção de arábica. Interessante também foi a empresa apontar para um déficit mundial de 9.9 milhões de sacas, cujo Brasil é responsável por dois-terços do déficit e o Vietnã um-terço. Em sua análise os estoques mundiais cairão para aproximadamente 40 milhões, ou o equivalente a um pouco menos de 14 semanas de consumo – o que será o mais baixo desde 2009/2010.
O divisor das águas vai ser, obviamente, o quanto produziremos na safra 15/16, razão inclusive que deu gás para o contrato “C” ainda estar mantendo os ganhos no ano de mais de 70%. Ao mesmo tempo é bom notar que a percepção do mercado está se alterando quanto a um cenário muito ruim da lavoura brasileira. Explico. Ao longo do ano muito foi falado e escrito sobre grandes chances da produção no próximo ciclo poder ser menor do que 40 milhões de sacas, o que não podemos negar que ajudou a cotação do mercado futuro subir. Por sua natureza o mercado tem sempre a tendência de antecipar movimentos – lembra há um ano quando se falava de preços atingirem US$ 80 centavos por libra, e por sinal eu escrevi neste espaço que já tínhamos visto as mínimas (mais ou menos nesta época se não me engano).
Pois é, se a partir de agora, como vimos na semana retrasada, os novos relatórios de quem andou e estará percorrendo as lavouras, continuarem transpirando notícias de que a safra não será tão catastrófica – o que não significa necessariamente que será boa – veremos também um desconto nos preços daqueles que “apostavam” em algo pior. Em outras palavras, um mercado de alta (“bullish” em inglês – em referência ao touro), precisa ser alimentado constantemente com notícias altistas, e uma vez que elas cessem, há uma virada de mão.
A proximidade do fim do ano tendo os operadores uma melhor leitura dos efeitos da chuva nas árvores brasileiras, e daí sim sabendo que no começo de 2015 os fundos de índice terão que liquidar um bom volume de suas posições (que é sempre comprada), e finalmente com um carrego que nunca desaparece e é custoso para os outros fundos (que continuam comprados) manterem suas posições, podem estar nos indicando que já vimos a alta deste ciclo.
Para tanto é imperativo que as chuvas continuem e que as perdas de chumbinhos não se traduzam em uma safra abaixo de 40 milhões. Ou seja: se a safra não for menor do que 40 milhões Nova Iorque não terá força para fazer novas altas.
Os diferenciais voltaram a enfraquecer para todas as origens, e a transferência dos estoques para os países consumidores americanos não foi notada no mês de outubro, pois o GCA no mês caiu em 25,849 sacas, para ainda elevadas 6,001,443 sacas (há um ano haviam 5,190,417 sacas por aqui).
Uma observação: os produtores que operam BM&F estão vendo na bolsa local o melhor comprador do momento, assim como exportadores que podem vender na bolsinha a 15 centavos abaixo, nível bem melhor do que os 22 abaixo praticados no FOB.
Uma boa semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting