Saco de juta perde mercado para Índia

14/03/2012 
 
Avanço da importação da Índia e de Bangladesh, com preço 10% menor, afeta o mercado dos fabricantes da Amazônia, que já iniciaram demissões
 
MÁRCIA DE CHIARA – O Estado de S.Paulo

A invasão de produtos importados atinge até as indústrias brasileiras de sacos de juta, que já começaram a demitir. Os fabricantes nacionais foram afetados pelo menor preço dos sacos de juta fabricados na Índia e em Bangladesh, que chegam ao País cerca de 10% mais baratos em relação aos produtos nacionais.


Os sacos de juta são usados principalmente para embalar produtos do agronegócio, como o café destinado à exportação.


A Companhia Têxtil de Castanhal (CTC), por exemplo, uma das maiores fabricantes de sacos de juta do País, cortou quase pela metade o número de empregados nos últimos meses. “Até 30 de outubro, a fábrica de Castanhal, no Pará, trabalhava em quatro turnos, sete dias por semana”, conta o presidente da empresa, Hélio Junqueira.


De lá para cá, foram demitidos 820 empregados e os atuais mil funcionários da fábrica trabalham hoje 44 horas por semana e em turnos normais. A produção de sacos de juta, que era de 1.080 toneladas por mês, foi reduzida a 600 toneladas mensais.


A mudança no ritmo de produção se deve, segundo Junqueira, à entrada de produtos importados da Índia e de Bangladesh. A unidade do saco importado para café sai, em média, por R$ 3,75, enquanto o preço do saco de juta nacional para a mesma finalidade gira em torno de R$ 4,15.


“O Brasil, como um todo, tem sido um país muito caro. Se uma fábrica da Índia se estabelecer do outro lado da rua onde está a minha empresa, ganho dela em competitividade”, diz o empresário, que atua no setor há 46 anos.


Ele explica que o produto brasileiro perde na competição com os importados por causa da pesada carga tributária, encargos trabalhistas e deficiências na infraestrutura, entre outros fatores. “Dentro do portão da fábrica somos mais competitivos.”


A cadeia produtiva da juta, da produção da fibra até a confecção do sacos, se destaca pela autossuficiência do País. Porém, o que se viu no ano passado foi um avanço dos volumes importados. Segundo Junqueira, entre 2001 e 2010, o País importava entre 150 e 200 toneladas de sacos de juta por ano. Em 2011, foram 3.600 toneladas.


Produtores. O impacto do avanço dos sacos de juta importados já atinge os cerca de 15 mil produtores ribeirinhos, que cultivam a fibra às margens dos Rios Amazonas e Solimões, nos Estados do Pará e Amazonas. Hoje os produtores estão na fase de colheita e venda da safra.


Arlindo Leão, secretário executivo do Instituto de Fibras da Amazônia (Ifibram), relata que o preço do quilo da fibra recebido pelo produtor nesta safra oscila entre R$ 1,70 e R$ 1,80. Na mesma época de 2011, a cotação do quilo estava em R$ 1,90.


“Hoje há problema no preço e na vazão da comercialização da fibra”, diz o secretário, lembrando que o aumento do importado fez com que as indústrias reduzissem as compras da fibra.


Leão observa também que os produtores estão sendo afetados pela quebra de 40% da safra.
 
 

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