São Paulo, 27 de Janeiro de 2006 – Redes de franquias, lojas independentes e mesmo as padarias ganham mais por xícara de café. Para fechar um negócio ou colocar a conversa em dia, não falta um cafezinho. Pelo menos no Brasil, onde o consumo da bebida cresce cerca de 100 mil sacas por mês. Em 2005, os brasileiros consumiram 15,5 milhões de sacas de café. Desse mercado, o expresso significa apenas 4%, mas cresce em taxas superiores a 20% ao ano, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA). O número se repete na venda de máquinas de expresso e nos negócios das empresas que fabricam os suprimentos para a produção. A rede paulistana Fran’s Café, que desde 1972 comercializa expresso com blend próprio (mistura de grãos que faz uma marca única), aumentou sua receita em 22% em 2005. A média diária de consumo ficou em torno de 270 xícaras de expresso por loja, 18% acima de 2004. Lançar blends próprios tem sido uma alternativa para se diferenciar frente à concorrência. Para Gerson Cantarino, gerente de operações da Fran’s Café, este é o motivo do crescimento da marca. “O sabor fideliza nossos clientes, hoje 3,5 milhões de pessoas por mês. É uma tendência forte. As cafeterias estão aprimorando seu grão e a qualidade do produto, da matéria-prima na fazenda ao produto final.” O blend da rede é formado por grãos de diversas regiões, como Sul de Minas, Paraná e Bahia. “A mistura de grãos selecionados resulta em um café de excelente qualidade, que chega ao consumidor por R$ 1,90 a xícara”, diz Cantarino. Já são 95 lojas, quatro próprias e demais franqueadas. Para este ano, a expectativa é abrir 25 novas lojas. A venda de café expresso representa cerca de 20% do faturamento da Fran’s, que tem receita mensal em torno de R$ 50 mil por loja. Isto é, cada unidade fatura algo em torno de R$ 10 mil somente em cafezinho. Há dois anos, o café Fran’s também é vendido nos supermercados Pão de Açúcar e no Sam’s Club, em pacotes em grãos e sachês para máquinas de expresso. Hoje são comercializados mensalmente cerca de mil caixas de sachês (porção individual) e 200 quilos em grãos, ambos para expresso. Somada ao consumo nas lojas, representa uma produção de oito toneladas mensais de café Fran’s. Fornecedor homologado A rede Grão Espresso, com 135 lojas, não tem produção própria. “Temos fornecedores homologados, como Café Pelé e Modele (locatária das máquinas de café)”, afirma Breno Bromberg, gerente comercial. “Hoje a busca é por qualidade. Vale muito mais a pena tomar um expresso, em que a qualidade dos grãos é maior, por R$ 1,30, do que um café coado por R$ 0,90.” A média diária de consumo é de 250 cafés por loja e corresponde a 25% do faturamento das unidades, de R$ 25 mil mensais. “Desde 2003 temos um aumento anual de consumo de expresso de cerca de 10%, considerando o mesmo número de lojas”, diz Bromberg. O aumento se concentra no Estado de São Paulo, nas regiões Nordeste e Centro-Oeste. O número de cafeterias independentes, desvinculadas das grandes redes de franquias, também é crescente, mas não assusta as casas tradicionais. “Não consideramos muito a concorrência das cafeterias ‘sem bandeira’. Você pode conseguir um fornecedor de café e de pão-de-queijo e abrir sua loja, mas fará praticamente o mesmo investimento de uma franquia”, pondera Bromberg. “Não terá taxas de royalties e propaganda, mas também não terá o treinamento de equipe, identificação visual, fornecedores homologados com condições de compra diferenciadas e apoio administrativo.” Para o executivo, a chance de acerto com a entrada no mercado através de uma rede já estabelecida é muito maior, pois, apesar das despesas fixas a mais, o faturamento e os produtos dão um retorno compensador. Estrangeiras O aumento do consumo nacional de expresso tem atraído investimento de gigantes do setor. A italiana Luigi Lavazza SPA, sexta maior rede de café expresso do mundo, já anunciou que desembarca este ano no Brasil. A empresa vai construir aqui a sua primeira fábrica fora da Itália, com investimentos iniciais superiores a R$ 5 milhões. Também italiana, a Illy Bar Concepts, com 60 lojas em 15 países, não confirma notícia sobre sua entrada no País. Na marca Illy Café, mais de 55% do blend procede do Brasil. Já os executivos da americana Starbucks, maior rede mundial de cafeterias, elegeram no ano passado o Brasil como um de seus três mercados prioritários, junto com Índia e Rússia. A rede soma vendas de US$ 4 bilhões. (Gazeta Mercantil/Caderno C – Pág. 3)(Maria Luíza Filgueiras) |