Rússia impulsiona exportações do café e receitas aumentam 46,6%

27 de novembro de 2014 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

DCI
27/11/14


Além de alavancar comércio de carnes, embargo da União Europeia gerou demanda para o grão produzido no Brasil; produto gourmet também entra no radar dos consumidores russos


São Paulo – O desempenho das exportações de café arábica e robusta no período de 2014/2015 (de julho a outubro) tem se mantido superior ao das últimas três safras, com faturamento quase 50% superior.


A resposta está no aumento de demanda gerada pelo mercado russo, após o embargo aos produtos da União Europeia e EUA, e a expectativa é que o país siga com suas compras nos próximos anos. O mesmo movimento foi visto na cadeia de carnes, que disparou em vendas para Rússia neste segundo semestre. A diferença é que as lideranças da pecuária não veem possibilidade de permanência dessas exportações.


Dados do Conselho dos Exportadores do Café do Brasil (Cecafé) mostram que, no acumulado desta safra, os embarques de grão verde para o mercado internacional totalizaram mais de 11,17 milhões de sacas de 60 quilos, volume 16,1% superior ao de mesmo período da temporada de 2013/2014. Considerando-se os envios totais (café verde, torrado e moído e solúvel), foram exportadas 12,38 milhões de sacas, aumento de 14,04% frente ao mesmo período de 2013.


Já em relação à receita, os embarques de todos os tipos de café geraram US$ 2,41 bilhões entre julho e outubro, um avanço de 46,4% no comparativo anual e avanço de 16,65% em relação ao mesmo período de 2012.


Demanda russa


Conforme publicado na imprensa, o diretor geral da Cecafé, Guilherme Braga, disse que nos primeiros dez meses do ano a exportação de café para a Rússia atingiu 780 mil sacas, crescimento médio de 105 mil sacas, em relação ao ano anterior.


Até o fechamento de 2014, este volume deve ficar próximo a um milhão de sacas. “As vendas brasileiras representam 20% do café importado pela Rússia e a tendência é que haja um crescimento maior. O país é um comprador tradicional de café solúvel do Brasil e nos últimos anos começou a importar café verde”, afirma Braga.


Para o Conselho, o preço médio (FOB) do café nesta safra está em US$ 120,38 por saca, 3,61% menor que o do mesmo período na última temporada, de US$ 124,96, fator que deixa o produto brasileiro competitivo no mercado internacional, mesmo com as altas internas do grão.


Segundo avaliação de analistas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a quantidade exportada de robusta no acumulado da safra 2014/2015 também está maior devido principalmente ao grande volume da variedade produzida neste ano. Além disso, o café da nova safra do Vietnã e da Indonésia ainda não entrou com força no mercado, deixando mais espaço para as exportações nacionais.


Mudança de hábitos


O que está sendo visto na Rússia é uma mudança nos hábitos de consumo, que gera tanto um aumento na demanda pela commodity convencional quanto um interesse nos cafés finos produzidos pelo Brasil.


A diretora executiva da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês), Vanúsia Nogueira, conta que os embarques, de fato, ainda são bem pequenos para o país, mas o surgimento de uma curiosidade por parte deles já é algo muito positivo.


“Os russos estão adquirindo hábitos do ocidente europeu e começam a apreciar mais o café. Neste espectro também está o café de alta qualidade. Atualmente, nossos principais mercados consumidores são Estados Unidos, Japão e Inglaterra, e a abertura de outros não depende de negociações bilaterais, mas sim de mudanças na educação do país consumidor”, explica Nogueira.


Cafés especiais representam 10% da produção nacional, cerca de 4,5 milhões de sacas. Segundo a diretora, apenas um milhão destas sacas permanecem no mercado brasileiro, considerando também que os preços praticados giram na média de R$ 850 por saca.


Mercado doméstico


Se as exportações de grão cru respondem por cerca dos US$ 7 bilhões em faturamento do setor cafeeiro em 2014, o mercado interno é o principal responsável pelos outros US$ 20 em receita com o produto torrado e moído, algo em torno de 40% da safra. O diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, disse ao DCI que pelo menos 21 milhões de sacas são consumidas no Brasil. “No que se fala de demanda, as coisas estão boas e esperamos que em 2015 haja um crescimento entre 3% e 4% no mercado. O consumo de café vem aumentando gradativamente, o produto está presenta em 98% dos lares brasileiros.”


Em relação à produção, as previsões de chuvas volumosas enfim se concretizaram nos ressecados cafezais o que pode favorecer o pegamento dos frutos para a próxima safra se as precipitações seguirem regulares, permitindo também tratos culturais que estavam atrasados por conta da seca.


Apesar das chuvas, integrantes de cooperativas e especialistas avaliam que ainda é cedo para falar sobre o tamanho da próxima safra, após meses de déficit hídrico que debilitou as lavouras do maior produtor e exportador global. Todos concordam que o potencial da safra 2015/2016 já foi afetado pela longa estiagem de 2014.

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