Mauro Zanatta, de Brasília
O Ministério da Agricultura está no centro de uma acirrada disputa partidária por dois cargos estratégicos. A saída do secretário-executivo, Silas Brasileiro (PMDB-MG), para assumir o mandato do deputado cassado Juvenil Alves (PRTB-MG) e a licença temporária do presidente da Embrapa, Sílvio Crestana, abriram o apetite da influente bancada ruralista e de alguns partidos da base política do governo.
O PMDB tem nomes para os dois cargos, mas o ministro Reinhold Stephanes reivindica a indicação para a secretaria executiva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tenta emplacar um aliado no comando da Embrapa. Ao Palácio do Planalto, interessa “blindar” a principal instituição nacional de pesquisa contra eventual loteamento partidário. E o PT quer manter alguns postos-chave na estatal.
A saída de Silas Brasileiro estimula um enfrentamento entre o ministro e a cúpula do PMDB. Apoiados em parte da bancada, dirigentes do partido querem escolher um nome afinado com o presidente da Câmara, Michel Temer (SP). O nome mais forte, e que tem até lista de apoio, é Francisco Jardim, atual superintendente do ministério em São Paulo. Por fora, corre o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Wagner Rossi. Mas Stephanes reuniu força política para ter direito de indicar um nome de sua estrita confiança, o que não ocorreu na escolha de Silas. O preferido seria seu braço direito Newton Pohl Ribas.
As divergências já chegaram ao Planalto, mas ainda não há definições. Com prazo até 1º de maio para voltar à Câmara, Silas ainda tenta ficar no cargo, à espera de um “fato novo”, mesmo sabendo da estreita margem interna de manobra. “Um fato novo poderia ser um apelo do partido ou do ministro para eu ficar. Mas ele disse que era minha oportunidade de assumir”, disse ontem Silas Brasileiro ao Valor. “Ou um apelo do Palácio, que dissesse que era mais importante eu ficar aqui”. Nesse caso, informa-se nos bastidores, haveria interesse de auxiliares do presidente Lula em trazer à Câmara o próximo da fila, o influente petista mineiro Paulo Delgado. Mas teria que haver uma “compensação” a Silas.
Ele despista: “Isso seria um fato novo. Não podemos descartar nada. Mas não teve nada. Ele me fez uma visita, é um parlamentar extraordinário, mas veio só cumprimentar”. Se dependesse de Silas, a opção seria permanecer. “Gosto muito de ficar aqui. Se fosse para optar, ficaria aqui sempre. Me faz bem e posso ajudar estando aqui. Aqui, o campo tem mais abrangência”. Em último caso, Silas quer influir na sucessão. “Se eu pudesse ser ouvido pelo partido e o ministro, gostaria de participar”, diz. E quem seria seu preferido? “O Gerardo (Fontelles) seria um bom nome”, afirma, em referência ao seu braço direito na secretaria.
A poucos quilômetros do gabinete de Stephanes, a disputa política pela presidência da Embrapa foi aberta pela saída “temporária” do físico Sílvio Crestana, indicado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues e chancelado pelo PT de São Carlos (SP). O PMDB tende a apoiar o ex-diretor da estatal Dante Scolari, um experiente pesquisador e atualmente assessor da Comissão de Agricultura da Câmara. Mas o governador Eduardo Campos joga pesado para emplacar o aliado José Geraldo Eugênio de França, um dos três atuais membros da diretoria executiva da Embrapa. Entre as preferências, está o pesquisador Francisco Reifschneider, que tem apoio de setores do Itamaraty e a simpatia da “velha guarda” da Embrapa. Mesmo de saída, Silas Brasileiro dá uma dica da posição interna no caso: “Há muita especulação, lógico. Mas o Sílvio deve voltar”.