O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, manifestou ontem ao presidente Lula sua insatisfação com a lentidão do governo para liberar recursos e atender às reivindicações do setor agrícola. Rodrigues, mais uma vez, está enfrentando o constrangimento de não ter seus pleitos atendidos e deixou claro ao presidente que a sua permanência no governo pode se tornar insustentável. Segundo fontes do setor, o ministro teria pedido demissão a Lula, na semana passada. “É tudo mentira. É pura especulação. Não há o menor fundamento nessa história”, disse ao Estado, ao descartar o pedido de demissão. “É pura especulação. É bom acabar logo com essa conversa.”
Rodrigues pode não ter pedido demissão em caráter irrevogável, mas está cada vez mais impaciente com a lentidão das decisões do governo em relação ao setor agrícola. Ele está pressionando o Ministério da Fazenda e relatou a Lula as dificuldades que está enfrentando para garantir a liberação dos R$ 2 bilhões necessários à comercialização da safra. Até o momento, foram liberados R$ 650 milhões. Ontem, em Araras (SP), ele deixou claro que a demora na liberação dos recursos pode prejudicar seriamente o setor. “A agricultura demanda medidas tempestivas e, se essa decisão for como no ano passado, a partir de agosto, setembro, não resolve o problema.” A pressão maior de Rodrigues envolve o dinheiro para comercialização.
Ele teme, segundo assessores, que se repita o que ocorreu em 2005: o dinheiro da comercialização foi liberado em duas parcelas – julho e novembro – e quando chegou às mãos dos agricultores, já era tarde. Eles tiveram de recorrer a empréstimos no sistema financeiro e, para pagar as parcelas iniciais, venderam a safra em curtíssimo prazo, o que derrubou os preços. “A queda dos preços pode ser boa para os índices de custo de vida, mas para o produtor, não”, comentam assessores ao se referirem ao processo de descapitalização do setor.
O Ministério da Fazenda justifica o atraso na liberação na demora do Congresso em aprovar o Orçamento da União deste ano. Os assessores do Ministério da Agricultura concordam com a ponderação, mas identificam “um bom pretexto” para o governo não atender às reivindicações dos produtores. Não são poucas as iniciativas de Rodrigues em favor do setor agrícola, mas são consideráveis as dificuldades de convencer a Fazenda. A agricultura negocia a edição de uma “MP do Bem” agrícola para garantir a desoneração do PIS-Cofins que incide sobre todos os insumos do setor rural, a ampliação dos recursos com juros subsidiados para a safra 2006/2007 e um novo refinanciamento das dívidas dos agricultores.
Ontem, Rodrigues confirmou as negociações para a “MP do Bem”.