Rodrigues nega saída, mas diz que não está feliz

Ministro compreende as grandes demandas do governo, porém volta a afirmar que juros e câmbio complicam a situação da agricultura neste momento de crise

6 de outubro de 2005 | Sem comentários Comércio Mercado Interno
Por: Venilson Ferreira / Estado de São Paulo

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem, em São Paulo, que não pretende deixar o governo e suas críticas aos juros e à política cambial, feitas na terça-feira, na Suíça, não significam desavença com a área econômica. ‘Eu tenho a compreensão de que as demandas são muitas e não cabem no cobertor do orçamento nacional. Eu compreendo, mas não significa que estou feliz’, comentou.

Rodrigues disse reconhecer o esforço do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para combater a inflação utilizando a taxa de juros e a política cambial.

Entretanto, ressaltou, neste momento em que a agricultura enfrenta uma perda de renda de R$ 17 bilhões em decorrência da queda dos preços e do recuo da produção em 18 milhões de toneladas de grãos por causa da seca, os juros e o câmbio complicam mais a situação do setor.

Desde que assumiu a Pasta, Rodrigues coleciona divergências com colegas de governo.

Com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disputou as regras do plantio de sementes transgênicas; com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, envolveuse numa batalha em torno das regras de desapropriação de terras para reforma agrária e com o Ministério da Saúde tem divergências por causa das restrições para o cultivo do tabaco.

Nada se compara, porém, aos embates com o ministro da Fazenda na busca de recursos para o agronegócio. A demora na liberação de dinheiro para o setor, mesmo diante da pior crise dos últimos anos, é a principal fonte de desânimo do ministro.

Antes mesmo da crise que atingiu os produtores rurais neste ano, Rodrigues vinha insistindo na liberação de verbas adicionais para a defesa sanitária, pesquisa agropecuária, estocagem de álcool ou apoio a comercialização de café, por exemplo.

Neste ano, com o agravamento da crise da agricultura – resultado do aumento dos custos de produção, quebra de 18,4 milhões de toneladas na safra 2004/05, redução dos preços internacionais dos principais produtos agrícolas e câmbio desfavorável às exportações – as negociações com a área econômica se intensificaram.

Rodrigues procurou Palocci várias vezes para pedir mais recursos, mas, maioria, voltou sem garantias de liberação. ‘Muitas vezes, só conseguimos uma cara de candura’, comentou um técnico da Agricultura. Sem sucesso, Rodrigues chegou a alertar o presidente Lula para a crise dos produtores rurais.

Num dos últimos embates com a Fazenda, ele chegou a anunciar a prorrogação de parcelas da dívida de custeio da safra passada dos produtores de algodão, arroz, milho, soja, sorgo e trigo.

O anúncio foi feito no dia 19 de junho, mas o Conselho Monetário Nacional (CMN) só ratificou a prorrogação mais de um mês depois. A demora criou um clima de indefinição e muitos produtores optaram por quitar os débitos. O alongamento do prazo deste ano para 2006 foi estimado em R$ 2 bilhões.

Na semana passada, a relação entre os dois ministérios foi novamente estremecida.

O da Agricultura encaminhou ao CMN voto propondo a liberação de R$ 400 milhões para custeio da safra 2006/07 de café, que começa a ser colhida em abril.

A fonte dos recursos era o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé). No mesmo voto, pediu a ampliação do limite individual de empréstimo para os cafeicultores, de R$ 140 mil para R$ 240 mil.O voto não foi avaliado e pode voltar para análise este mês. Colaborou: Fabíola Salvador

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