?Nos últimos 15 anos, o Brasil perdeu em média US$ 1 bilhão na atividade cafeeira.? A declaração é do presidente da Frente Parlamentar do café, deputado federal Carlos Melles (DEM-MG).
Na semana em que se comemorou o Dia Nacional do café, as discussões a respeito das políticas adotadas para a cafeicultura brasileira ganham força. O Brasil carrega a responsabilidade de ser o maior produtor e consumidor de café do mundo, com Minas Gerais respondendo por 51% da produção total.
Resta avaliar o que ainda é preciso ser feito para que a condução da atividade no país faça justiça aos títulos e tradição.
?Em 1990, o PIB (Produto Interno Bruto) mundial do café era de US$ 30 bilhões, o percentual da matéria-prima dos países produtores chegava a 30%. Hoje o PIB do grão é superior a US$ 80 bilhões e os países produtores ficam com menos de 10%?, reforça o deputado Carlos Melles.
Representante do setor, o deputado se preocupa com as políticas utilizadas para administrar o café. Em sua avaliação, o governo do expresidente Fernando Henrique Cardoso foi ruim e o atual governo é ainda pior, por falta de políticas reguladoras dos estoques de café.
Caráter bienalO café, por característica particular, é um grão de caráter bienal, o que significa que as safras se alternam entre altas e baixas de ano em ano. De acordo com o deputado, no Brasil existe uma falha comercial grave para gerenciar a quantidade de grãos circulantes no mercado.
Nos anos de safras altas, os importadores de café brasileiro se abastecem a baixo preço, pois a oferta no mercado mundial é alta. Em contrapartida, em anos de safra baixa, o mercado externo deixa de comprar o produto porque já estocou grãos da safra anterior.
?Em períodos de safra alta, chegam a sobrar cerca de 10 milhões de sacas. E como o governo não retira os grãos do mercado, os importadores compram esse café a baixo custo e o repassa por preços mais altos. É o que faz a Alemanha, por exemplo?, afirma.
De acordo com a Frente Parlamentar do café, o governo federal deveria exercer a função de regular os estoques para evitar oscilações excessivas nos preços do produto. A variação descontrolada pesa nos rumos do mercado.
Os preços altos do café no período de safra baixa causam euforia e provocam o ingresso de produtores inexperientes na atividade. O resultado é o incremento na quantidade de grãos da safra posterior e, por conseqüência, a queda nos preços do produto.
CustosDados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e do Conselho Nacional do café (CNC) comprovam o peso dos custos de produção para os cafeicultores. De janeiro de 1996 a junho de 2006, os preços recebidos pelo produtores avançaram 69%, enquanto os gastos com fertilizantes subiram 130%.
?O Brasil tem plantados 2 milhões de hectares de café, os quais saem ao custo de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões. Para a venda, o país tem cobrado de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões, ou seja, 20% abaixo do custo de produção?, salienta Melles.
Atividade emprega 8,4 milhões de pessoas
O café figura como uma das atividades agrícolas de maior importância econômica e social do país. Abrange 1.900 municípios brasileiros e emprega 8,4 milhões de trabalhadores em todo o processo. Das quase 370 mil unidades produtoras do país, 90% são de propriedades com menos de cem hectares.
Atualmente, o Brasil detém 33% da produção mundial do fruto. Ao ter em vista tais fatores, uma das maiores preocupações do setor cafeeiro é quanto à recuperação de perdas sofridas.
De acordo com informações da Confederação Nacional de Comércio (CNC), de 1999 a 2006, a atividade cafeeira acumula, em perdas anuais, US$ 2,3 bilhões. O Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) possui orçamento de R$ 2 bilhões.
Segundo o Ministério da Agricultura, desse montante, R$ 450 milhões são destinados à colheita, R$ 850 milhões à estocagem, R$ 426 milhões ao custeio e R$ 300 milhões serão aplicados no Financiamento para Aquisição de café (FAC).
O ministério informou, ainda, que R$ 490 milhões foram liberados para a colheita e comercialização da safra atual.
SafraA última safra brasileira de café somou nada menos que 42,5 milhões de sacas, para uma área nacional plantada de 2,15 milhões de hectares. O país tem uma produtividade média de 19,75 sacas por hectare plantado.
Para 2007, a projeção cai para 15,7 sacas por hectare, tendo em vista que este ano será de safra baixa. Para a safra deste ano em Minas Gerais, a projeção da Companhia de Abastecimento Nacional (Conab) é de 14,4 milhões de sacas de café beneficiado, 36,4% menor do que a produção da safra anterior.
As regiões Sul e centro-oeste são as que tiveram maior redução em relação à safra passada de café, com queda de 46,5%. (Da Redação)