RETROSPECTIVA: CAFÉ TEVE 2009 DE DIFICULDADES / 2010 PROMETE REAÇÕES Por Gil Barabach

23 de dezembro de 2009 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

SAFRAS (23) – O ano de 2009 não foi nem um pouco fácil para o produtor brasileiro de café. A safra foi pequena diante do ciclo bienal de baixa produção, e a qualidade foi prejudicada pelas chuvas na colheita. Ainda assim, o mercado não foi recompensador em boa parte do ano, apresentando baixa nos preços inicialmente e recuperando-se mais para o final de 2009.

Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach, o mercado de café atravessou caminhos tortuosos em 2009. Não bastasse a crise financeira, dois gargalos baixistas marcaram o ano. Os primeiros meses do ano foram para tentar reconstruir o que a crise havia posto por terra no último trimestre de 2008, comenta. E foram tempos difíceis, com a inconstância nos mercados e desdobramentos negativos sobre a economia real não permitindo que o café
reagisse. Tudo isso ocorreu sob o olhar atônito do produtor, que, apegado aos fundamentos, observou a depreciação dos preços, mesmo em um cenário de aperto na oferta global, lembrou Barabach.

A quebra na safra da Colômbia e a produção modesta do Brasil deixaram as indústrias preocupadas com o abastecimento futuro. Entretanto, Barabach salienta que a falta de crédito e a insegurança diante da desaceleração econômica prevaleciam e o mercado não conseguia se desvencilhar dos aspectos negativos, iniciados em setembro do ano anterior. O analista recorda que a situação só foi sofrer uma mudança mais radical em maio, quando, enfim, os fundamentos “funcionaram”.

A entressafra no Brasil e carência de cafés suaves no mundo permitiram uma subida das cotações do café no mercado mundial. Mas a alta durou pouco e o mercado voltou a cair, pressionado pelo avanço da oferta de café novo no Brasil.

Ao longo do primeiro semestre de 2009 o Brasil havia embarcado muito café, suprindo o vácuo deixado pela Colômbia, garantindo o abastecimento nos importadores, pontua Barabach.

O analista de SAFRAS caracteriza que, de um lado, havia um comprador (importador) reticente e inseguro, encontrando garantias na reserva acumulada nos primeiros meses do ano e, do outro lado, um vendedor em alguns casos até desesperado, necessitando de caixa para suprir despesas com colheita. O resultado, como não poderia ser diferente, foi uma queda acentuada nos preços. A bica de café arábica duro tipo 6 no Sul Minas foi negociada a R$ 235,00 a saca
de 60 quilos ao longo do mês de julho, recorda Barabach.

E a situação só não foi pior porque o governo resolveu atuar com mais força no mercado. Primeiro com os leilões de opção de venda, que mobilizaram 3 milhões de sacas. A renegociação da dívida e a prorrogação dos débitos de colheita e comercialização também ajudaram a desafogar os produtores, tirando o peso vendedor do mercado, o que permitiu uma reação nas cotações, indica o analista.

Passada a entrada de safra, era chegado o tempo das floradas e das primeiras impressões em torno da safra brasileira 2010, cuja expectativa natural é de uma safra maior diante do ciclo bienal. Tudo levava a crer em uma superssafra. As chuvas em agosto e setembro animaram, dando eco às projeções de um novo recorde na produção, aborda Gil Barabach, com indicações de safra entre 53 a 55 milhões de sacas.

O anúncio de aquisições por parte do governo atenuou esse comportamento. A promessa de compra do governo envolveria um potencial de 10 milhões de sacas ao preço mínimo do café duro de R$ 261,69 a saca, com fluxo de aquisições se estendendo até 2010. O produtor restringiu as vendas e evitou que os preços caíssem. Nesse período o preço do café sul-mineiro não caiu abaixo de R$ 245,00 a saca. 

As chuvas excessivas que prejudicaram a oferta de cafés de melhor qualidade no Brasil em 2009, começaram a colocar em dúvida as projeções de recorde na produção brasileira para o próximo ano. O excesso de umidade levou a floradas irregulares, abortando o sentimento de uma safra recorde. O objetivo agora é superar a safra de 2008, último ano de carga alta, apontada por SAFRAS e Mercado em 50,9 milhões de sacas, e se aproximar da safra recorde de 2002, quando o país colheu 52,5 milhões de sacas.

Enfim, mudou o status produtivo e isso repercutiu sobre os mercados, dando suporte aos preços. A demorada recuperação da safra colombiana e o atraso no fluxo de embarques dos Centrais surgiu como outro ponto altista. Por fim, a economia mundial dá sinais de reação e os mercados recuperam boa parte das perdas com a crise. Por tudo isso, o mercado de café termina o ano bem melhor do que começou, alega Barabach. O café de bebida dura no Sul de Minas gira em torno de R$ 280,00/290,00 a saca, de 12% a 16% acima dos R$ 250,00 que iniciou o ano. Vale lembrar que o dólar em patamares baixos seguiu travando maiores recuperações do café no Brasil ao longo do ano.
 
O que esperar de 2010
 
2010 surge com esperança no ar em termos de preços ao produtor. O analista de SAFRAS, Gil Barabach, coloca que a tendência para o ano novo é do mercado retomar a linha ascendente, interrompida com a crise. Talvez seja um objetivo ousado em um ano de grande produção mundial, mas possível. Além disso, há uma “ambição” bem diferente dá de 2009, que era apenas a de sobreviver aos fortes solavancos da crise.

Os primeiros meses do ano devem ser mais promissores em termos de preço, reforça Barabach. NY tende a testar resistências, que, se rompidas, devem dar intensidade à linha de alta dos preços. A favor da alta neste momento está a menor safra brasileira, colhida em 2009, e o fluxo externo mais comedido na Colômbia e América Central. A demanda mais aquecida, diante do inverno no Hemisfério Norte, ajuda a garantir esse cenário mais positivo, diz o analista.

No Brasil, até a entrada da safra 2010 a partir de maio, esse movimento deve ser mais intenso, em função do avanço da entressafra em uma temporada de safra pequena no país. O ágio para as melhores bebidas, em virtude da escassez de produto não só deve continuar como até se intensificar, adverte Barabach.

Embora os destaques sejam mesmo a bebida dura e fina, abre-se também espaço para uma subida geral dos preços, o que poderia favorecer uma melhora para o café rio e riado. No caso da bebida dura, o preço de R$ 300,00 segue como gatilho inicial de venda, com R$ 314,00, preço de exercício das opções de venda para o governo para entrega em março, servindo como segunda referência. 

A partir do segundo trimestre do ano o mercado deve mudar um pouco as feições, coloca o analista. A aproximação da safra brasileira, que muito embora seja menor do que o esperado inicialmente, ainda deve ser grande, muda a postura dos compradores, que buscam alongar estoques, reduzindo a sua presença no mercado.

É bom lembrar que os importadores estão bem comprados, dada a reserva acumulada na temporada anterior, acrescenta o analista de SAFRAS. Assim, o mercado tende gradualmente a perder a força altista. E a linha negativa ganha mais intensidade mediante a pressão vendedora, diante do avanço do café novo,
pontua.

Superado o gargalo com o avanço da safra, daí voltam as atenções às floradas. Só que ao contrário de 2010, as projeções para a safra de 2011 são pautadas em carga baixa, respeitando a bienalidade das lavouras. Confirmada a indicação de safra menor, o mercado já começa a precificar um novo aperto na oferta, o que seria positivo para os preços, facilitando a retomada da linha altista já a partir dos últimos meses do ano. “O mercado nos mostra alguns
gargalos, mas também indica boas oportunidades.

O ano de 2010 será melhor para aquele que conseguir melhor aproveitar as potencialidades. Fácil não é. É muito difícil acertar exatamente o pico desses momentos. Assim, distribua seu fluxo de comercial visando aproveitar uma tendência favorável e busque se capitalizar antecipadamente para não ficar vulnerável aos gargalos da temporada. Isso é bem mais fácil de fazer”, recomenda, concluindo, o analista de SAFRAS, Gil Barabach. (LC)

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