Montadoras refazem projeções para 2005 e prevêem estagnação em 2006
A crise de atingiu os produtores de grãos já afetou as vendas de caminhões. Depois de um ano e meio de crescimento, os volumes começaram a despencar nos seis últimos meses, período em que o campo sofreu com a seca e a queda do dólar. Nos estados que concentram a plantação de grãos, as vendas dos veículos de carga, no acumulado do ano, registram quedas entre 20% e até 40%.
Os fabricantes começaram o ano prevendo um mercado de 82 mil veículos no Brasil em 2005. Mas as novas projeções não indicam mais do que 74 mil. O quadro é o oposto ao de 2004, quando as montadoras tiveram trabalho para driblar a falta de peças e de insumos para conseguir acompanhar o aumento de demanda.
“No ano passado administramos a escassez e, por isso, neste ano nos preparamos bem”, diz Gilson Mansur, diretor comercial da DaimlerChrysler, dona da marca Mercedes-Benz, líder do mercado.
A venda de caminhões começou a cair com a retração no transporte da soja e a seca no Sul. Parece ter piorado com o anúncio de queda no PIB no terceiro trimestre, mesmo que, para alguns executivos, este seja uma influência psicológica. Com o real valorizado, há poucas perspectivas de as montadoras desviarem a produção para a outros países para compensar a falta de demanda no mercado doméstico.
A soma das vendas de caminhões em todo o país no ano não é de todo ruim. No acumulado de janeiro a novembro a queda foi de apenas 2,7% -71,5 mil unidades (número de veículos já licenciados). Os fabricantes lembram que o setor saiu do crescimento de 24% em 2004, um dos melhores anos do setor. “Talvez o que estejamos vivendo agora seja a normalidade”, afirma Mansur.
Mas chamam a atenção os números das regiões que concentram a produção de grãos. Sul e Centro-Oeste apresentam quedas de 13,5% e 29%, respectivamente, nas vendas de caminhões nos 11 meses do ano. Em Goiás, a retração chegou a 31,1% e no Mato Grosso, a queda foi de 40%.
No mesmo período, as vendas no Sudeste cresceram 8,9%, o que elevou a participação dessa região de 39,4% para 44,1% em um ano. O crescimento se justifica porque essa área abriga o plantio de cana, laranja e café, que não enfrentam os problemas dos grãos.
Depois de registrar crescimento de 63,3% em 2004, a Ford Caminhões acumula neste ano queda de vendas de 7,2%. “O empresário só compra o caminhão hoje se tem um contrato de transporte na mão; caso contrário, prefere esperar”, diz o diretor de operações da Ford Caminhões, Flávio Padovan.
Foi Padovan quem atentou para as discrepâncias de volumes entre as regiões. Somente no Rio Grande do Sul, as vendas totais neste ano – 5.855 caminhões – ficaram 24% abaixo de igual período de 2004. A média de vendas melhorou um pouco em novembro por força de promoções, avalia o executivo.
A retração da demanda atingiu ainda mais o segmento de caminhões pesados, que saiu de um ano de euforia, em 2004. No acumulado até novembro, as vendas de pesados no atacado caíram 17,9%.
No mercado de pesados, a maior queda foi na Volkswagen , cujas vendas nesse segmento encolheram 33,7%. A venda dessa categoria de veículo caiu 27,6% na Ford e 16%, na Scania e na DaimlerChrysler A Iveco, última empresa a chegar no mercado sentiu diminuição de 22,6% nos volumes de vendas de pesados.
A Volvo registrou queda menor, de 1,8%, o que levou a montadora sueca a registrar aumento na participação de mercado. Mesmo assim, seus dirigentes dizem que não há motivo para comemoração. Eles se preocupam com o cenário no campo porque 30% a 40% das vendas da Volvo dependem do agronegócio. A empresa começou a sentir a queda em junho, segundo o gerente, Bernardo Fedalto.
Os fabricantes não têm do que se queixar se compararem a nova expectativa do mercado total de pesados para este ano – 20,5 mil unidades – com as médias do início da década, que oscilaram entre 14 mil e 17 mil. Mas a retração é acentuada quando comparada com os 25 mil veículos de 2004.
O agricultor comprou os insumos quando o dólar estava alto e agora têm de vender os produtos com a moeda desvalorizada. “Isso afeta diretamente nossos clientes”, afirma Fedalto. O consolo, para o executivo, é saber que os insumos da próxima safra foram comprados com o dólar baixo, o que pode ajudar na rentabilidade do agricultor. “Se houve plantio, haverá colheita e, conseqüentemente, transporte”, completa Mansur, da DaimlerChrysler.
“A safra deve melhorar no final de 2006”, diz Fedalto. Mas como os caminhões não servem apenas aos produtos agrícolas, o executivo diz que a previsão para 2006 depende de outros fatores. “É preciso saber, por exemplo, quanto o governo pretende investir em infra-estrutura”, diz.