RESPOSTA TÉCNICA – Café com braquiária

Por: Globo Rural












Cafeicultores implantaram lavouras de conilon em locais onde predominavam as braquiárias brizantha e, em menor escala, decumbens e humidicola. Em poucos anos, as lavouras foram dizimadas pelas gramíneas. Técnicos disseram que se tratava de alelopatia, fenômeno químico provocado por uma toxina seletiva desenvolvida por ácidos existentes nas gramíneas. Do que se trata e quais são os nomes das toxinas e os respectivos ácidos que as criam?
Adelson Mota, presidente do Sindicato Rural Patronal de Santa Luzia, BA








DEPENDENDO do manejo adotado, o café pode tirar proveito da associação com a braquiária. O xis da questão é o manejo

Condições de clima, ambiente e solo são fatores determinantes no plantio de culturas agrícolas. Um mesmo produto pode apresentar desenvolvimento diferente se cultivado em regiões onde as características são bastante diversas entre si. O manejo da lavoura é outro aspecto relevante para o desempenho da atividade. Por isso, quando é identificado algum problema com a cultura, a visita de um profissional à área de produção é fundamental, diz o engenheiro agrônomo João Romero.


No caso do café conilon, Romero acredita que o capim braquiária não seja a causa da dizimação da cultura. Ele se baseia nas bem-sucedidas experiências de plantio da gramínea em cafezais para produção de massa, aumento da fertilidade do solo e sequestro de carbono. Como suas referências são de vantagens no consórcio da cultura do café com a braquiária, resta observar se o controle tecnificado aplicado no capim é o ideal, diante de tantas alternativas que existem atualmente.


Para uma conclusão mais precisa e um correto diagnóstico do problema, é necessário saber antes o tipo de solo, correção da acidez, adubação e outros tratos culturais, como o manejo adotado para a implantação da lavoura do café. Na opinião de Romário Gava Ferrão, coordenador do Programa de Cafeicultura do Espírito Santo, o problema deve estar no manejo inadequado. Ferrão afirma que desconhece casos de danos na cafeicultura promovidos pela alelopatia. Mas adverte sobre os cuidados que se deve ter nos tratos culturais para evitar que o plantio fique exposto a possíveis danos. O coordenador do Programa Café da EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, Ramiro Neto Souza do Amaral, explica que o capim braquiária, principalmente o brizantha, causa o efeito da alelopatia. Mas, somente se não houver manejo adequado da lavoura, a ação desse fenômeno químico dificulta o desenvolvimento de outras plantas consorciadas na formação de pastagens e/ou na formação de outros cultivos.


De fato, o efeito da alelopatia tem sido comprovado em experimentos feitos em vasos. Porém, no campo e se bem manejadas, com o uso de corretivos, herbicidas e/ou revolvimento do solo nas faixas de plantios das culturas implantadas em consórcio ou nas áreas que anteriormente foram pastagens, não há barreiras para o desenvolvimento de outra cultura, aqui no caso o café.


No campo, o efeito da alelopatia desaparece à medida que ocorre a decomposição e a mineralização da matéria orgânica resultante do capim, de acordo com Amaral. Nesse processo, há benefícios até para as próprias culturas implantadas, não só pela incorporação, como também pelo resultado da fixação do nitrogênio pelas bactérias.


De modo geral, o capim braquiária se comporta bem em terra ácida. Contudo, a gramínea torna-se mais agressiva quando convive em condições semelhantes com o café conilon. Essa variedade de café apresenta maior sensibilidade à acidez, necessitando de uma correção de solo mais efetiva. Uma boa correção, aliada a um bom revolvimento do solo na faixa de plantio, permite que o sistema radicular do café, que se desenvolve inicialmente de forma mais lenta, não se misture com o do capim. Assim, a planta não sofre tanto com o efeito da alelopatia da braquiária. Ao crescer, o cafezal vai definindo sua faixa de sombra, o que também dificulta o desenvolvimento do capim.


Dependendo do manejo adotado, o café ainda pode tirar proveito da associação com a braquiária. A roçagem constante do capim, que cresce na rua do café, promove uma cobertura morta, a qual evitará a exposição do solo e, consequentemente, maior perda de água. Também impedirá a germinação e o desenvolvimento de outras plantas, além de promover maior incorporação de matéria orgânica resultante da roçagem. Quando necessário, porém, pode se fazer uso de herbicida específico para eliminar o capim e manter a cobertura morta.


De acordo com Amaral, à medida que a planta de café se desenvolve bem nutrida e ganha altura, o capim vai cedendo área. O contrário ocorre, no entanto, quando o café não passa pelos tratos necessários e o manejo não é o apropriado.







CONSULTORES: JOÃO C. P. ROMERO, engenheiro agrônomo, CIC – Consultor Internacional de Café, Caixa Postal 2054, Ouro Fino, MG, CEP 37570-000, romero1@uol.com.br; RAMIRO NETO SOUZA DO AMARAL, engenheiro agrônomo, coordenador do Programa Café da EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, Av. Dorival Caymmi, 15649, Itapuã, Salvador, BA, CEP 41635-150, tel. (71) 3116-1800, ramiro.amaral@ebda.gov,br; ROMÁRIO GAVA FERRÃO, coordenador do Programa de Cafeicultura do Espírito Santo, Incaper – Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, Rua Afonso Sarlo, 160, Bento Ferreira, Vitória, ES, CEP 29052-010, tel. (27) 3137-9888, incaper@incaper.es.gov.br
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